O mundo vive uma completa desordem e um clima de hostilidade e descaso pela soberania das nações e os direitos humanos. O declínio acelerado do império dos EUA não pode mais conter a ascensão do sul global. Por conta disso, sucedem-se as ameaças protecionistas e de agressões armadas justificadas pela atual elite dirigente norte-americana como necessárias para preservar sua segurança e seus interesses nacionais. Velhos chavões como a "Doutrina Monroe" e o "Destino Manifesto" voltam à cena para reafirmar os supostos direitos dos EUA de intervir em seus vizinhos das Américas.
Os EUA têm hoje quase 10% de toda a sua imensa frota naval em operação no mar do Caribe e um grupo de ataque de porta-aviões norte-americano chegou próximo à costa da Venezuela e da Colômbia, nossos vizinhos.
Dado que os EUA já bombardearam pelo menos 20 pequenas embarcações acusadas sem provas de tráfico de droga, matando pelo menos 80 pessoas (a chamada Operação "Lança do Sul"), prevê-se que ataquem agora alvos terrestres na Venezuela, num claro objetivo de promover uma mudança de regime no país (eufemismo para deposição violenta de seu presidente), tema de um debate acalorado em curso na mídia internacional apontando para os riscos de uma escalada militar em um continente que tem sido há quase um século uma zona de paz como é a América do Sul.
Mesmo deixando de lado a questão da identidade das pessoas eliminadas nos barcos abatidos pela Marinha de Guerra dos EUA, não há qualquer fundamento para estes ataques, nem na legislação norte-americana nem no Direito Internacional. Mesmo assim, isso não impediu a administração Donald Trump de tentar criar uma justificação legal para os mesmos, referindo-se aos alegados traficantes como "combatentes inimigos ilegais". O termo foi agora ressuscitado para justificar a execução extrajudicial de suspeitos de tráfico de droga, comparando-os a terroristas.
O que é mais estranho nessa estória é que muita gente no Brasil apoia e parece vibrar com essa agressão naval contra os pretensos narcotraficantes no Caribe. Alguns políticos chegaram até a defender de forma venal e impatriótica uma ação semelhante na baía da Guanabara. O que muitos não entendem é que tudo isso é uma cortina de fumaça e desinformação para ocultar os reais desígnios da elite dos EUA de intervir toda vez que achar necessário em algum país da região para mudar governos incômodos a seus interesses econômicos e colocar no poder títeres e sequazes locais que lhes sejam favoráveis e funcionais.
A América do Sul não é quintal de ninguém e seus países são independentes e soberanos. Seus povos merecem respeito e esperam a condenação mundial a tais tentativas de intervenção e rapina em seus territórios.