Não é estranho encontrar quem acredite que sucesso seja conquista individual, mas raramente se limita a isso. De individual, ele pode ter nada. Um breve e honesto uso do bom senso pode demonstrar que sucesso resulta de redes de apoio, oportunidades, contexto favorável e esforço pessoal. Tratar quem chegou “ao topo” como herói solitário apaga tudo isso e transforma em façanha o que é, em grande parte, fruto de circunstâncias compartilhadas.
Perguntar de onde veio tanto êxito não é, necessariamente, sinônimo de inveja. Muitas vezes é também forma de fazer justiça: verificar se não houve favorecimento, abuso de poder, exploração do trabalho alheio ou uso indevido de recursos. Questionar o sucesso pode não significar um desejo de fracasso do outro, mas a recusa da ideia de que toda vitória é automaticamente legítima. Seria excessivamente ingênuo, para não dizer alienado, pensar assim.
Grandes conquistas até podem nascer de talento e esforço, mas também de portas que só se abrem para alguns. Quando alguém ascende com facilidade indisponível para a maioria, a crítica não é prova de mediocridade. É, na verdade, lembrete incômodo de que as regras do jogo continuam inclinadas pro mesmo lado. O olhar crítico funciona como antídoto contra narrativas confortáveis. Em vez de repetir que “quem quer, consegue”, obriga a perguntar quem pôde querer, quem teve tempo, quem recebeu crédito, quem herdou capital econômico. Uma suspeita pode não se dirigir ao brilho em si, mas às sombras que muitas vezes podem sustentá-lo.
A figura do “self-made” é sedutora, mas quase sempre enganosa. Nenhum diploma, empresa ou carreira se constrói sem professores, colegas, trabalhadores invisíveis, estruturas institucionais. Quando o discurso do sucesso apaga essas presenças, transforma privilégio em virtude e dívida social em mérito pessoal. Reconhecer o papel de fatores externos não anula o esforço de quem chega longe, apenas o coloca na proporção adequada. A crítica não é necessariamente inimiga do sucesso. A quem souber aproveitá-la, pode ser lição para que ele deixe de ser escudo individual, egoísta e narcisista.