O rápido envelhecimento da população brasileira exige novas respostas sobre onde e como viver após os 60 anos. A moradia, além de abrigo, representa pertencimento, memória e identidade; no envelhecimento, deve integrar aspectos físicos, sociais e de saúde. A relação entre pessoa idosa e ambiente ocorre em três níveis: micro (casa e vizinhança), medial (serviços, transporte e convivência) e macro (políticas públicas), determinando bem-estar e inclusão.
O Brasil envelhece de forma acelerada: enquanto a França levou 145 anos para passar de 10% a 20% de pessoas idosas, o Brasil fará o mesmo em apenas 19 anos. Entre 1940 e 2025, a expectativa de vida aumentou mais de 30 anos. Até 2070, estima-se que 37,8% da população será idosa. O desafio não está na falta de legislação, mas na aplicação desigual das políticas de habitação e de cuidado.
A urbanização acelerada e as moradias padronizadas para adultos ativos não respondem às necessidades da pessoa idosa. A redução dos cuidadores informais, resultado da queda da natalidade e da maior participação feminina no mercado de trabalho, intensifica a demanda por Instituições de Longa Permanência (ILPIs). Entretanto, apenas 0,5% das pessoas idosas vivem nessas instituições e 74% dos municípios não possuem nenhuma unidade. A oferta é concentrada no Sudeste e Sul, enquanto Norte e Nordeste apresentam grande déficit.
Para superar esses limites, surgem alternativas habitacionais. Entre os serviços públicos, além das ILPIs, os Centros-Dia apoiam pessoas idosas que necessitam de cuidados durante o dia. O Programa Vila Dignidade, em São Paulo, implantou moradias assistidas para pessoas idosas independentes em vulnerabilidade. A Vila dos Idosos, no Programa Municipal de Locação Social, oferece 145 unidades com aluguel proporcional à renda. Na Paraíba, o Cidade Madura disponibiliza condomínios adaptados para pessoas idosas autônomas, priorizando quem vive sozinho.
Modelos híbridos também ganham espaço. O Lar dos Velhinhos de Piracicaba combina casas individuais para pessoas idosas independentes e acolhimento gratuito para quem não possui recursos. O cohousing, como o Vila ConViver em Campinas, promove autonomia e cooperação em moradia colaborativa.
O coliving compartilha espaços e reduz isolamento. No exterior, programas como o Aconchego, em Portugal, conectam pessoas idosas a estudantes, fortalecendo vínculos e reduzindo a solidão. Construir soluções para a pessoa idosa no Brasil requer reconhecer desigualdades socioespaciais e criar políticas que integrem segurança, autonomia e equidade. Morar bem na longevidade é garantir que todos possam envelhecer com dignidade.