Ao decidir aprofundar meus estudos no mestrado, já ultrapassando os sessenta anos, percebi que o maior obstáculo não estava em mim, mas na visão distorcida da coletividade sobre essa nova empreitada. Com o passar dos anos, compreendi que as barreiras reais não residem na capacidade de aprender, mas na crença de que existe uma “fase ideal” para realizar feitos significativos. O que se perde com o avanço do tempo? Seria a voz, que cede espaço às gerações mais jovens, ou a obsessão pelo império da juventude, que ofusca as experiências vividas?
Surge então, a provocação: será que existe um momento definido para aprender ou deixar de ser? A academia, ao contrário, abre suas portas com generosidade, acolhendo aqueles que desejam aprender e criar, permitindo que a reflexão profunda floresça em qualquer fase da vida. A limitação reside na percepção dos anos, erguendo obstáculos que restringem novas perspectivas.
O tempo não segue regras fixas. Exemplos como Sócrates, que ensinou até os setenta anos, e Jorge Borges, que escreveu com maestria após os sessenta, demonstram que a busca pelo saber não tem idade. Moisés e Abraão, por exemplo, lideraram e receberam promessas em sua velhice, assim como Einstein, que fez descobertas significativas na maturidade, mostrando que a vida pode ser plena em qualquer etapa.
Cora Coralina, que publicou seu primeiro livro aos 76 anos, é um testemunho poderoso de que a expressão criativa é sempre possível. A passagem dos anos não priva o crescimento intelectual; ao contrário, são os padrões sociais que enfraquecem nossa confiança. A odisséia por uma esfera mais aprofundada pela ciência é um território aberto a todos que desejam explorar.
O tempo não deve ser inimigo, mas um aliado que molda nossas reflexões. Romper esse paradigma e valorizar a diversidade etária é vital para enriquecer o diálogo acadêmico e expandir os horizontes do conhecimento.