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Tudo pode acontecer, inclusive nada
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Tudo pode acontecer, inclusive nada

O PT teme que o histórico de Ciro como gestor e as atuais pesquisas - que, segundo as análises internas, mostram Ciro à frente de Elmano - sejam suficientes para "eclipsar" o atual governador
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Karine Lima Verde. Bacharel em Serviço Social, licenciada em História, mestra em Planejamento e Políticas Públicas e doutora em Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Karine Lima Verde. Bacharel em Serviço Social, licenciada em História, mestra em Planejamento e Políticas Públicas e doutora em Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece).

A intensa especulação sobre a candidatura de Camilo Santana (PT) ao Governo do Ceará, amplamente difundida nas redes como um "lançamento", não é um fato consumado, mas sim um poderoso instrumento de guerra política. Este movimento, que usa a internet para mexer no imaginário político da população, revela a profunda insegurança da base governista em relação à reeleição do governador Elmano de Freitas.

O cerne da questão reside na ameaça de Ciro Gomes. O PT teme que o histórico de Ciro como gestor e as atuais pesquisas - que, segundo as análises internas, mostram Ciro à frente de Elmano - sejam suficientes para "eclipsar" o atual governador. Camilo, com seu alto capital político e aprovação popular, seria a única "carta na manga" capaz de unificar a base e enfrentar a oposição com segurança. A tese de que "Elmano mesmo, sem Lula e Camilo nas suas costas tem pouco voto" é um fator de peso.

Em 2022, Elmano surfou na onda do apoio de Lula e da transferência de popularidade de Camilo. No entanto, para a reeleição, ele terá que defender sua própria gestão. A dificuldade é redobrada, pois "fica mais difícil para Elmano agora que ele tem um primeiro mandato para população avaliar". Se o capital dos padrinhos não for suficiente para garantir a vitória no primeiro turno- como muitos suspeitam -, o PT arrisca um cenário de segundo turno imprevisível.

O precedente de Lúcio Alcântara, que perdeu a reeleição apesar do apoio de mais de 100 prefeitos, serve de alerta: o apoio de máquinas não substitui a necessidade de votos consolidados na figura do governador. O risco é real: o PT está duvidando que Elmano consiga vencer sem ser carregado pelo peso político de seus apoiadores. A maior pergunta é se Camilo largaria o Ministério da Educação e o Senado, comprometendo seu projeto de Presidência da República, para assumir novamente o Governo do Ceará.

A resposta a esse dilema reside na equação entre visibilidade (Ministério) e poder de comando (Governo Estadual). O Ceará representa o eixo de poder que Camilo construiu e consolidou. Seu retorno asseguraria não apenas a hegemonia do seu grupo político no estado, mas também a manutenção de sua liderança inquestionável, que poderia ser ameaçada se o atual governador não obtiver sucesso. O dilema de Camilo não é apenas pessoal, mas também do próprio PT cearense.

O "lançamento" especulativo de Camilo configura-se como um instrumento de barganha e seguro político: atua como uma ameaça à oposição, pressiona o aliado (Elmano) a acelerar os resultados e, principalmente, mantém a opção de resgate do poder intacta, garantindo o controle da máquina estadual. A resposta está no cálculo de poder. Tudo pode acontecer, inclusive nada.

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