Em 2025 ainda me impressiona como o voluntariado é visto como território juvenil, quase um rito de passagem para quem quer demonstrar virtudes ao mercado. Uma etapa de boas intenções, um item de checklist. Mas voluntariado não é ornamento. É uma escolha que desafia o status quo e devolve profundidade às nossas competências.
Depois dos 50, essa escolha ganha outra dimensão. Não é sobre idade; é sobre lucidez. Existe um momento em que o currículo deixa de ser algo que apresentamos e passa a ser algo que sustentamos. É aí que o voluntariado se transforma. Deixa de ser aventura e se torna declaração. Porque aos 50, experiência, repertório e coragem finalmente se encontram — e esse encontro pede impacto, não contemplação.
Descobri isso há sete anos, quando a SAS Brasil se tornou meu primeiro trabalho voluntário contínuo. Volto de cada expedição com uma sensação de alinhamento que nunca encontrei em salas de reunião, por mais sofisticadas que fossem. A SAS acendeu luzes onde antes havia sombra e tirou o verniz das minhas certezas.
Aprendi ali, na prática, que impacto social não nasce do improviso. Nasce de método, ciência, governança, dados e dedicação. O romantismo aparece nas fotos; a transformação real acontece nos bastidores. Na triagem funcionando em pleno sertão.
Nos equipamentos calibrados no amanhecer. Na logística precisa. Na dignidade que orienta cada atendimento. É aí que propósito ganha músculo. E se tudo isso já me atravessa profundamente sem ser da área da saúde, imagino o que sentem os profissionais que atendem vidas diretamente. Aliás, especialistas: vocês são sempre urgência, sempre necessidade.
Meu papel é outro. Conectar pessoas, organizar fluxos, colocar método onde havia só intenção, destravar sistemas, articular talentos, trazer estratégia e clareza. Três décadas no mundo corporativo me ensinaram a fazer isso e, na SAS, tudo se alinha a algo mais visceral: servir.
Servir depois dos 50 não tem glamour. Tem verdade. É quando a ambição dá lugar à coerência e a energia deixa de ser para provar e passa a ser para retribuir. Usamos o que sabemos, aprendemos o que falta e misturamos bagagem com curiosidade. Não tem palco. Tem poeira, estrada, sol, cansaço bom e histórias que atravessam. E, no meio disso tudo, surge algo raro: a sensação de estar exatamente onde deveríamos estar.
O voluntariado expande mais do que o mundo externo. Expande o interno. Não faço para me descobrir. Faço para me lembrar. Lembrar que liderança é serviço. Que tecnologia é a ponte. Que dados são bússola. Que estratégia que não toca vidas é só vaidade. Que governança é o cuidado. E que impacto real acontece onde ninguém está olhando.
Voltar de uma expedição reorganiza prioridades, devolve perspectiva e reacende uma coragem que não nasce da ambição, nasce do impacto. Cada jornada me deixa mais inteira e mais certa de que propósito não se aposenta. Ele amadurece. E chama quem está disposto a agir.
Se existe limite para o que podemos construir depois dos 50, ainda não encontrei. Se você sente esse chamado, não espere estar pronto. Pronto é ficção corporativa. No voluntariado, o passo cria a prontidão. A caminhada chama a coragem. A entrega traz clareza.
E, no fim, sempre acontece o mesmo: achamos que estamos doando. Mas é a vida que devolve multiplicado, ampliado, transformado. O maior presente nunca é o que oferecemos. É o que recebemos de volta.