Nós, mulheres, vivemos sob risco permanente. As diferentes formas de violência de gênero, com ênfase no feminicídio, acontecem 7 dias por semana. Não faltam exemplos cruéis e recentes. A jovem Maria Katiane, morreu após cair do 10º andar de um edifício em São Paulo, em um contexto de violência doméstica: o marido é suspeito de tê-la arremessado do prédio.
Tainara Souza foi atropelada e arrastada por cerca de 1km na Marginal Tietê (SP) por um veículo conduzido pelo ex-namorado. Sobreviveu, mas teve as duas pernas amputadas. Em Pacajus, no Ceará, Brenna Araújo de Brito foi agredida com marteladas no rosto pelo ex-companheiro e perdeu todos os dentes.
Esses episódios possuem a mesma raiz: a violência contra às mulheres pelo fato de serem mulheres. E não são exceções. Dados do Laboratório de Estudos de Feminicídios referentes ao período de janeiro a outubro de 2025, apontam aumento expressivo dos crimes de gênero. Foram registrados 5.582 feminicídios, entre tentados e consumados. Uma média alarmante de 18,6 vítimas por mês.
A Lei Maria da Penha e a tipificação legal do feminicídio são grandes conquistas históricas.
O reconhecimento do homicídio por razões de gênero afasta a narrativa dos chamados "crimes passionais" e evidencia que esses assassinatos são o desfecho fatal de uma trajetória marcada por desigualdade, silenciamento e violências. Mas, os números demonstram que a legislação, isoladamente, não basta.
Nesse contexto, o feminismo é um movimento essencial de defesa dos direitos humanos das mulheres. Ele denuncia o machismo estrutural que atravessa instituições, relativiza agressões e desacredita vítimas. O Estado, muitas vezes, falha em proteger mulheres que já pediram ajuda. Questionar a misoginia é enfrentar uma cultura que ensina homens a controlar, odiar e matar mulheres.
A luta feminista também é jurídica. Exige aplicação efetiva das leis, concessão real de medidas protetivas, responsabilização célere dos agressores e políticas públicas que tratem a violência doméstica como questão de segurança pública e justiça social. Sem essa perspectiva, o Direito atua apenas de forma reativa e quando a violência intrafamiliar se tornou irreversível.
O feminismo também exerce um papel pedagógico indispensável ao desnaturalizar violências. Ciúme não é amor. Controle não é cuidado. Agressão não é desentendimento. Mudança de linguagem salva vidas porque permite identificar o risco antes do ato fatal.
"Chega! Queremos viver!" é um grito coletivo contra o machismo, o sexismo e a misoginia. É afirmar que os direitos à vida, à dignidade e à liberdade não podem ser condicionados ao comportamento feminino. Viver sem medo é um direito de qualquer pessoa e não apenas dos homens!