O unilateralismo consolidou-se como a marca central da política externa do governo Donald Trump. Diferentemente da tradição diplomática construída pelos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial, baseada na liderança de instituições multilaterais e na promoção da cooperação internacional, a atual administração passou a privilegiar decisões autônomas orientadas por interesses nacionais imediatos.
Na literatura de Relações Internacionais, o unilateralismo é compreendido como uma estratégia na qual os Estados atuam de forma independente para maximizar seu poder. John J. Mearsheimer sustenta que, em um sistema internacional anárquico, a cooperação é limitada, o que torna a ação unilateral uma opção racional para Estados com elevada capacidade de poder.
Essa orientação representa uma mudança no papel tradicional de Washington como fiador das regras e dos regimes internacionais. Sob Trump, a política externa passou a priorizar ganhos econômicos e estratégicos de curto prazo, mesmo ao custo do enfraquecimento de compromissos multilaterais e do desgaste das relações com aliados.
Um dos exemplos mais emblemáticos dessa postura foi a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima, sob a alegação de que o pacto impunha custos excessivos à economia americana. A ausência de Trump na COP 30 consolidou o distanciamento do país das principais agendas globais de governança ambiental.
No campo do comércio internacional, o unilateralismo manifestou-se de forma explícita. Trump adotou uma lógica transacional que passou a tratar aliados e rivais de maneira semelhante, recorrendo a tarifas, renegociações duras e ameaças comerciais.
A guerra comercial com a China foi o episódio mais visível, mas não o único: sanções e pressões dirigidas à União Europeia, ao Canadá, ao Brasil e ao México evidenciaram que nem mesmo parceiros tradicionais ficaram imunes à estratégia competitiva da administração.
Na perspectiva unilateral, as decisões são tomadas sem consenso ou participação ativa de aliados ou da comunidade internacional, frequentemente ignorando compromissos previamente assumidos com tratados e organizações multilaterais.
O unilateralismo, assim, transforma a diplomacia em um instrumento funcional à lógica transacional: acordos passam a ser tratados como negócios, e a continuidade das parcerias depende do que os Estados Unidos ganham no curto prazo.
Resta saber quais serão as consequências dessa orientação a médio e longo prazo para as relações internacionais. Em breve, a resposta poderá se tornar clara e, ao que tudo indica, com impactos profundos e difíceis de controlar sobre a economia e a política internacional.