Antigamente eu sabia muitos números de telefones decorados, me obrigava a aprender um novo trajeto para ir pra um lugar diferente. Em terras desconhecidas, parava em pontos de informação para perguntar, utilizava mapas físicos para facilitar trajetos. Sim. Muita coisa mudou. Sim. Muita coisa ficou mais prática. Não tenho saudades das filas em bancos, do telefone fixo ou telefone público.
Aprecio muito a praticidade de resolver muitas pendências na palma da mão. Mas o fato é que a tecnologia passou a tomar um espaço que, no mínimo, chama atenção. A jornada de trabalho não tem mais fim, diálogos são mais frequentes com quem está longe do que com quem está perto.
Temos muito mais acesso à informações e, sem dúvida, estamos consumindo mais conteúdos, mas estamos longe de ficarmos mais sabidos. O celular e a tecnologia querem se tornar indispensáveis à vida humana, e estão conseguindo. Fisiologicamente, o cérebro busca o caminho mais fácil.
Mas essa não necessidade de buscar está deixando nosso cérebro preguiçoso, comprometendo a aptidão criativa e o pensamento crítico, enfraquecendo a capacidade de memória a longo prazo e envelhecendo o cognitivo mais rapidamente. O quadro foi revelado por um estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
De acordo com a pesquisa, estudantes que utilizam inteligência artificial para escrever, registram menor atividade cerebral em áreas ligadas à atenção e criação. O MIT utilizou eletroencefalogramas para medir a atividade neural de 54 participantes durante tarefas de escrita.
Há quem questione a metodologia e o resultado do estudo, mas o fato inquestionável é que estudantes acostumados a escrever com ajuda de aplicativos de IA, como ChatGPT, apresentam menor atividade cerebral. O tema requer uma avaliação coletiva sobre os rumos da tecnologia e a (ausência) de limites, com aparentes ganhos de produtividade e agilidade que chegaram com a Inteligência Artificial.
Os benefícios imediatos podem cobrar um preço alto demais no futuro, que, por sinal, pode chegar antes do tempo. Será que é possível usar a ferramenta como recurso limitado? Equilibrando vantagens tecnológicas, e também exercendo as capacidades analógicas do cérebro?