Os traficantes são os maiores fã da guerra contra as drogas. Paradoxo? Só aparente. Enquanto ela acontece o comércio das drogas está na clandestinidade e os lucros são para eles. Ora direis, basta ganhar a guerra! É questão de decisão, acrescentarão os mais exaltados! Pensamentos ingênuos, pois as provas estão à vista que é uma guerra impossível de ganhar.
Primeiro: a demanda por drogas é vigorosa; constatemos apenas. Podem cair cem provedores que outros os substituição, como acontece nos mercados lucrativos.
Segundo: os métodos de transporte são cada vez mais engenhosos. Quase imparáveis. Há pouco foram descobertos submarinos não tripulados e não detectáveis (fibra de vidro e propulsão elétrica) rumo a Europa com cocaína. Essa é apenas a variante mais sofisticada das mil e uma maneiras de transportar droga, com margens de lucros tão exorbitantes que perder cargas de toneladas não faz dano ao sistema. Interceptar uma parte ínfima das milhares de mulas que fazem o tráfego formiga então, nem falar.
Terceiro: a riqueza dos traficantes é tão grande que podem comprar desde controladores de portos e aeroportos, até policiais, políticos e desembargadores, como estamos cientes. Para não falar dos jovens "soldados" que caem defendendo os pontos de venda, carne de canhão descartável.
A guerra contra as drogas que excita os mais indignados (e os mais demagogos) é o sonho dos grandes traficantes. Vencedores antes de dar o primeiro tiro, eles só precisam de engenho, violência e subornos para ficar com o lucro.
Enquanto isso, acontece o que estamos vendo: a expansão do crime para o controle territorial, da política e de outros mercados - alguns deles lícitos - onde reciclam seus lucros. Legalize it! cantava Peter Tosh numa música 1976, falando da maconha, agora quase tolerada socialmente. Legalize all deveria ser o novo mote.
Colocar baixo o controle do estado e investir os recursos que hoje são do crime em educação, prevenção e recuperação. O primeiro que vi falar isso foi Milton Friedman, para que não se pense que são ideias esquerdistas. Precisa coragem para viver em paz.