O crime organizado avança sobre o Brasil. Antes concentrado no mercado de drogas, hoje opera em setores centrais da economia - imóveis, combustíveis, bebidas, tabaco, logística e mobilidade urbana - movimentando mais de R$ 350 bilhões por ano. Não por acaso, a segurança pública tende a ocupar o centro do debate eleitoral de 2026, diante da urgência por respostas à altura de organizações que atuam como corporações transnacionais integradas a cadeias globais e com sofisticados mecanismos de lavagem de dinheiro.
Um ensaio de enfrentamento eficaz ocorreu quando, sem disparar um tiro, a Receita Federal, a PF e o MP-SP desmantelaram uma rede que conectava tráfico, postos de gasolina, fundos de investimento e fintechs. O êxito da "Carbono Oculto" residiu na coordenação nacional, no protagonismo da inteligência investigativa e no foco na descapitalização financeira do crime, atacando-o onde é mais vulnerável: no dinheiro e nas engrenagens que o conectam à economia formal.
Esse modelo está no centro da PEC da Segurança Pública, que propõe constitucionalizar o Sistema Único de Segurança Pública e seus fundos, fortalecer a inteligência, endurecer penas para facções e ampliar a rastreabilidade financeira.
Diante disso, o Congresso fez o oposto. Travou a PEC e avançou em iniciativas que, sob o discurso de rigor, enfraquecem o combate ao crime. O chamado PL antifacções buscou constranger a autonomia da Polícia Federal; a PEC da blindagem e a PEC da anistia apontaram para o relaxamento de penas e o enfraquecimento das investigações.
Ao sabotar o combate coordenado e inteligente, a classe política explora a violência através de operações policiais espetaculares e sangrentas, que pouco afetam o crime organizado, mas rendem votos - quase sempre à custa de jovens negros e pobres. Diferentemente da saúde e da educação, a segurança pública nunca passou por um choque republicano após 1988. Permaneceu opaca, fragmentada e vulnerável à corrupção. Foi nesse vazio que o crime cresceu e hoje ameaça a sociedade, a economia e a política. As eleições de 2026 podem ser a chance de mudar esse rumo - se o país decidir enfrentá-lo.