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Lara Santos: O que esperar do jogo político no futebol em 2026?
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Opinião

Lara Santos: O que esperar do jogo político no futebol em 2026?

Enquanto o futebol brasileiro continuar refém da lógica da política institucionalizada, o resultado será sempre previsível. O esporte, que deveria representar mérito, inclusão e paixão popular, segue sequestrado por uma estrutura que opera nos bastidores, à sombra da impunidade e da conveniência
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Lara Santos

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Ano de Copa do Mundo, 2026 renova as esperanças do cansado torcedor brasileiro, que, mesmo contra todos os prognósticos e apesar de sucessivas decepções, não desiste. Insiste em acreditar no tão sonhado hexa. No cenário local, a virada do calendário também reacende as expectativas dos abatidos alvinegros e dos macerados tricolores, que não deixarão de sonhar com o retorno à elite do futebol brasileiro.

Afinal, sonhar, vibrar e torcer é a sina natural de todo torcedor que, aficionado e cego pela paixão ao clube, transforma essas instituições em válvulas de escape de uma vil realidade. Mas nem assim encontra sossego, já que o futebol não é um mundo à parte; é, antes, uma extensão do espaço social. De modo que a corrupção, fraude e a amoralidade continuam a se repetir no cenário futebolístico, indo de encontro aos pilares do espírito desportivo.

Prova disso, é a crescente sobreposição entre futebol e política — ou politicagem — no País. No início deste ano, em meio ao escândalo de corrupção que marcou o fim da gestão Ednaldo Rodrigues na CBF, acompanhou-se a exacerbada interferência de Gilmar Mendes na tentativa de manter o então presidente no cargo.

O episódio evidenciou o que já era sabido: o futebol brasileiro é um retrato fiel da política que o cerca. A lógica que domina gabinetes e tribunais — baseada em favores, compadrio e arranjos de conveniência — também comanda os bastidores da bola.

O mesmo ministro que atuou incansavelmente no mundo do futebol para fazer cumprir suas preferências políticas na CBF, viu seu filho ser indicado pelo próprio órgão para permanecer com um mandato na Comissão de Disciplina da FIFA. Para coroar o jogo antiético, Gilmar Mendes é fundador do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), entidade responsável pela gestão da CBF Academy, em uma relação que escancara conflitos de interesse e coloca em xeque a lisura dessas parcerias.

A imprensa também sente o peso desse controle. As demissões de jornalistas da ESPN Brasil após críticas à CBF, por exemplo, expõem o alto custo de enfrentar o poder no futebol. A censura velada, disfarçada de alinhamento editorial, é um reflexo do mesmo sistema que prefere o silêncio à transparência e a conveniência à crítica.

Enquanto o futebol brasileiro continuar refém da lógica da política institucionalizada, o resultado será sempre previsível. O esporte, que deveria representar mérito, inclusão e paixão popular, segue sequestrado por uma estrutura que opera nos bastidores, à sombra da impunidade e da conveniência. No fim das contas, o problema não é o gol mal anulado, mas quem continua apitando o jogo fora das quatro linhas.

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