O fim do ano chega e nos conduz à súbita lembrança da despedida, o que nos possibilita a indagação: o que vem depois da curva? O caminhar da vida pode ser ilustrado a partir de uma trajetória intangível de uma estrada sinuosa, onde os momentos antes do desvio nos movimentam à busca do comum, da segurança.
O desconhecido pode ser assustador, angustiante. Não é à toa que os fenômenos da "síndrome de fim de ano" afligem o imaginário social como construções que traduzem nossa dificuldade de lidar com rupturas e mudanças. Diversas culturas ritualizam o fim de ano, na busca por marcar e simbolizar a passagem do tempo.
Os povos andinos têm a tradição de "queimar o año viejo", que se materializa por meio da criação de um boneco, representando tudo que o que já aconteceu: medos, erros, dores e frustrações. No Brasil, utilizamos rituais ligados ao mar, como pular as sete ondas, oferecer flores a Iemanjá e vestir branco.
Tais práticas cerimoniais são facilmente identificadas e exercidas.
Nossas buscas frenéticas de materializar a esperança e o desejo de mudança, talvez nos restrinjam a pensarmos o fim de ano a partir desse abraço com o desconhecido, trazendo um medo quente, porém real. Nosso mundo, já conhecido por essa materialização das certezas, nos provoca uma passagem de fim de ano determinada pelas lógicas do mercado.
De tal forma, procura-se constantemente métodos de renúncia às preocupações e angústias, definhando a nossa capacidade de sentir o real. Esse sentir tem a ver com captar as fragilidades, as belezas, as motivações, o brilhar por aquilo o que tem de belo, mas também o que te causa mal-estar e te desassossega.
Fernando Sabino, em "O Encontro Marcado", dá forma às inquietações de personagens que trilham a vida ao balanço entre as inconstâncias e incertezas da existência. Suas trajetórias, tão humanas quanto feridas, revelam a instabilidade como condição essencial do viver. "No fundo, não há tristeza ou alegria: há a vida", retrata o autor.
O "Convite para nascer de novo" surge a partir do enxergar o "ainda-não", sendo esse lugar onde habitam as possibilidades do "vir-a-ser", convocando-nos a atravessar o desconhecido com a coragem de quem se permite recomeçar, errando, acertando, vivendo!