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Arthur Cabral: de joia a rei no Ceará; de rei a joia na Europa
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Arthur Cabral: de joia a rei no Ceará; de rei a joia na Europa

Centroavante de 22 anos conta detalhes da trajetória que o levou de Campina Grande ao Ceará, do Ceará ao Palmeiras e do Palmeiras à Suíça. Jogador já rendeu R$ 31 milhões em negociações
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Suiça, FC Basel, o atacante do Basel e e-jogador do Ceara, Arthur Cabral. (Foto Divulgaçao) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Suiça, FC Basel, o atacante do Basel e e-jogador do Ceara, Arthur Cabral. (Foto Divulgaçao)

Toda vez que ele marca um gol na Suíça, torcedores alvinegros comemoram por aqui. Já faz quase dois anos que Arthur Cabral deixou Porangabuçu, mas a sensação é de que o cordão umbilical não foi cortado. Se não é cearense (natural de Campina Grande-PB), é cria do Ceará e foi vestindo preto e branco que conseguiu se tornar ídolo de um time centenário aos 20 anos, ser vendido ao Palmeiras e depois ao Basel, da Suíça, e atingir, em sua primeira experiência na Europa, a meta para ficar de vez no continente, com vínculo de três anos, já tendo olhares de clubes da França e da Alemanha em seu futebol. É dessa carreira meteórica que Arthur Cabral fala nas Páginas Azuis. Em quase uma hora e meia de conversa, o atleta conversou sobre o passado e o futuro, deixando claro: tem a cabeça no presente.

O POVO - Aos 22 de idade, seus direitos já renderam R$ 31 milhões no total (R$ 15 milhões ao Ceará), em negócios. Como assimila isso?

Arthur Cabral- Para ser sincero, eu nunca tinha parado para pensar nisso. Me deixa feliz, mostra que é uma valorização do meu trabalho pelos clubes e que eu estou seguindo o caminho certo para continuar, quem sabe daqui a um ano, aumentando essa cota aí cada vez mais.

OP - As metas no Basel (marcou 17 gols) você superou. Quais as próximas?

AC - Sempre deixei bem claro que vim para o Basel buscando fazer história, ser campeão aqui, deixar meu nome marcado. Se a gente puder ganhar o Campeonato Suiço, ótimo. Também estamos disputando a Liga Europa, fazendo uma excelente campanha. Então, independentemente da meta, que eu queria sim ter batido, sigo focado em poder ajudar a equipe em correr atrás de títulos e poder escrever meu nome no Basel.

OP - Daqui a pouco você completa um ano na Europa. O que já notou de aspectos diferentes do futebol que pode incrementar no seu estilo de jogo?

AC - Aqui na Europa, no Basel, falando particularmente daqui (Suíça), se tem uma obediência tática muito grande, os jogadores respeitam muito a tática do treinador. Isso se nota dentro de campo. Não se tem muito do improviso brasileiro. Aqui é difícil de ver jogadores de habilidade, que fazem o futebol mais bonito, de tentar uma caneta, um chapéu, aqui é mais difícil, se vê muitos jogadores de força. E lembrando da função que eu fazia na Série A, a gente tinha um time de bastante mobilidade, movimentação e eu tinha mais liberdade pra sair no meio campo, cair pela beirada e aqui no Basel eu faço muito uma função de nove mesmo, de ficar entre os dois zagueiros, tentar segurar a bola ali, tentar puxar o time deles (adversário) para trás e creio que isso só agrega na minha carreira, por estar fazendo diferentes funções e estar podendo fazer bem isso.

OP - Você acha que é nessa função que vai se consolidar na Europa? Quem são seus concorrentes ou os caras que você acha que pode chegar no mesmo nível?

AC - Como eu falei, é importante exercer mais de uma função. Não só estar ali como camisa nove porque treinadores mudam, você muda de equipe e a ideia de jogo muda, então você tem que estar preparado para o que o treinador do clube te pede. E a nível mundial, aqui na Europa, dá pra se ver jogadores com minha característica, como o próprio Lewandowski, Harry Kane, o próprio Haland, o Lukaku, Ibrahimovic, são vários jogadores que realmente têm característica muito parecidas com a minha e me espelho sim no futebol deles para quem sabe um dia alcançar o nível que eles alcançaram e que estão mantendo.

OP - Você tem sonho de jogar Premier League e o Basel, nos últimos anos, tem sido trampolim, formando jogadores e vendendo a grandes clubes da Europa. Você enxerga o clube suíço como fundamental para que você cresça e concretize este sonho?

AC - Eu creio que o Basel é uma grande porta de entrada na Europa, mas claro que não vim para cá só pensando nisso, em usar o time como trampolim. Como já deixei claro, tenho objetivo de fazer história aqui, fazer mais gols, conquistar títulos e claro, depois disso poder disputar uma liga maior, com clubes maiores, que é o objetivo de todos os jogadores. Uma liga de mais visibilidade, mais competitividade, tenho esse pensamento sim. Penso numa Premier League, principalmente, admiro muito o campeonato, mas não que seja o único. Também penso em jogar o Campeonato Espanhol, o Italiano, o Alemão, que são grandes campeonatos.

OP - No que você já evoluiu jogando na Europa?

AC - Aqui se vê um futebol mais intenso. Pegando a linha de treinamento hoje — eu peguei treinadores jovens e a maioria desses treinadores já seguem uma linha puxada da Europa — você não vai ver uma diferença grande porque eles (técnicos brasileiros) estão pegando a metodologia daqui. A diferença maior passa pela intensidade mesmo, dos treinos, dos jogos, pela obediência tática, as linhas defensivas aqui, por exemplo, jogam muito mais altas que no Brasil e são coisas pequenas, detalhes, mas que dentro de campo fazem muita diferença.

OP - E pessoalmente falando?

AC - Eu estou em constante evolução, tento aprender a cada dia e com certeza hoje sou um jogador muito melhor do que fui ano passado e isso passa muito pelo que falei de estar tentando evoluir, aprender. Coisas pequenas como domínio de bola, movimentação, finalização, cabeceio. Coisas que errei em jogos passados, até nos primeiros jogos no Basel, hoje não erro mais.

OP - O Rennes, da França, mostrou interesse em você antes da contratação definitiva por parte do Basel. Algum outro clube manifestou interesse?

AC - Sendo bem sincero, não sei muito sobre isso. Lembro que quando estava tendo a negociação entre Palmeiras e Basel houve rumores de algumas equipes da Europa, mas fiquei apenas nessas informações que os torcedores e outras pessoas tinham, mas alguma equipe mesmo chegar em mim, não teve ou se chegou, foi aos meus empresários ou até o Basel. Eu não fui comunicado.

OP - Você participa das negociações?

AC - Eu tenho pessoas que confio muito, meus empresários e também meu pai, que entende de futebol, que trabalhou com futebol, então tento ficar o mais fora possível disso. Não tem como ficar fora de tudo, mas o mais fora para focar totalmente no futebol, porque são coisas que se você não souber controlar, administrar, pode te atrapalhar durante os treinamentos, durante os jogos, durante a concentração e isso não é bom.

OP - Quantas pessoas compõem o seu staff?

AC - Contar assim é difícil, tem muita gente. Eu sou da Talents Sports, da Energy Sports, aí tem o pessoal que cuida da minha assessoria, da FutPress, o pessoal da Cacau Assessoria também, então tem muita gente que está trabalhando assim, esse pessoal faz o por fora, os bastidores e eu estou preocupado em fazer gol.

OP - Seu pai é um empresário?

AC - Não, não chega a ser um empresário, mas ele é o cara que está do meu lado em todas as decisões, em tudo que a gente faz. Então há coisas que são passadas a ele, que não são passadas a mim, ele é meio que um intermediário entre tudo.

OP - Já está dando para sustentar toda a família?

AC - Eu sou muito organizado em relação a finanças, tem um pessoal que cuida das minhas coisas, eles me ajudam bastante, graças a Deus posso ajudar minha família. Eu não sustento todos e nem penso em fazer isso. Na minha cabeça isso não é certo, só dar dinheiro. Eu prefiro, se puder, abrir portas e estar ajudando no dia a dia, isso eu faço. E hoje faço isso realmente, com meu familiares, minhas irmãs, meu pai, minha mãe, onde dá para eu estar ajudando, estou.

OP - Como é sua relação com a família?

AC - Eu sempre tive um relacionamento muito bom com todos. Sempre que posso, sempre que dá procuro estar com eles. Durante a pandemia, por pura coincidência, eles estiveram aqui comigo e isso me ajudou bastante, porque quando você está no dia a dia, como tá sendo agora, a gente tendo jogo domingo e quarta, você mal para em casa, então não sente falta, mas você passa dois ou três meses em casa sem fazer nada, foi muito importante eles estarem aqui comigo. E sempre que posso, quando tem férias, tento passar o máximo de tempo com minha família. Quando eu estava em Fortaleza, que era muito perto de Campina Grande eles iam até de carro. Hoje, graças a Deus, eu posso estar arcando com uma passagem, coisa que quando eu jogava na base não podia.

OP - Você mora sozinho na Europa? Como tem sido a adaptação?

AC - Eu moro sozinho. Vim junto com o Ramires, que era do Bahia, e a gente, por sermos dois brasileiros, meio que se grudou e faz praticamente tudo junto, ajudamos muito um ao outro. Quando nós dois chegamos — também somos do mesmo empresário — nos dois ou três primeiros meses tinha uma pessoa com a gente que resolvia as primeiras coisas, como apartamento, carro, algumas coisas de contrato. Esse ano a gente já vê sozinho e consegue se virar bem, é tudo tranquilo.

OP - Já dá pra falar a língua?

AC - Não, não dá. Aqui na Suíça tem quatro idiomas, aqui onde a gente vive é o alemão e é muito difícil. A gente fala alguma coisinha, mas nada que dê pra sobreviver do alemão.

OP - Nenhum dos quatro idiomas você conseguiu aprender melhor? E as diferenças de cultura, como foi a adaptação?

AC - Questão dos idiomas, o clube tem na fisioterapia, na preparação física, o auxiliar e alguns jogadores que falam espanhol. Então foi um caminho mais fácil para a gente estar se comunicando com os jogadores. Hoje eu consigo falar bem o espanhol e entendo bem também. A gente tem aula de inglês e alemão. O inglês até que dá pra entender alguma coisa, falar é bem mais difícil. Questão de cultura, é muito diferente realmente, de questão das pessoas se portarem, do dia a dia, do trânsito, tudo é muito diferente, mas creio que diferente pra melhor e questão de alimentação eu me viro bem, nunca tive problema com alimentação, como de tudo que tiver. O frio foi difícil, mas, principalmente treinar, porque sempre treinamos de manhã e você ir treinar no frio, às vezes chove, é bem complicado. Algumas vezes os dedos doem e você só quer sair do treino e ir para casa, mas são obstáculos que só fazem você valorizar mais as coisas, a oportunidade.

OP - Pretende cumprir os três anos de contrato com o Basel?

AC - A gente assina contrato pensando em cumprir, mas como falei, tenho sonhos e objetivos, primeiramente aqui no Basel, mas depois seguindo e até pode ser antes de acabar o contrato, ocorrendo uma venda que possa beneficiar não só a mim, mas ao clube também, financeiramente. Pode ser que fazendo uma boa temporada, focado, eu possa estar indo para uma Liga maior e mais competitiva.

OP - Acredita que será convocado para defender a Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de 2021?

AC - É um dos meus objetivos, estar pintando ali na Seleção. Eu tive uma baita oportunidade, fui convocado (para a Seleção olímpica), aproveitei muito esse tempo e nunca fugi disso, sempre deixei bem claro que realmente sonho com isso. (Quero) continuar bem aqui no Basel, porque sei que eles tão vendo, com certeza estou pensando nisso e com fé em Deus a gente pode estar presente nas Olimpíadas do ano que vem.

OP - O que pode ter acontecido no Palmeiras, que você não teve muitas chances?

AC - Cheguei no Palmeiras, infelizmente, com uma lesão pubiana que realmente me atrapalhou muito na pré-temporada. Passei um tempo sem trinar, creio que em torno de um mês e quando fui voltando, fui me recuperando e até tive uma oportunidade, fiz gol e passou pela cabeça de todo mundo "agora vai", mas infelizmente não foi. Tive duas oportunidades e depois passei um tempo sem jogar e creio que isso me atrapalhou muito também. Você cria expectativas. Creio que poderia ter tido uma sequência maior de jogos, até entrando no segundo tempo, foi assim que ganhei meu espaço no Ceará, entrando no segundo tempo e fazendo gols importantes, mas infelizmente não aconteceu. Não pude mostrar o futebol que eu poderia. E fica nisso, infelizmente não deu certo, mas serviu muito de aprendizado para mim, passei um tempo muito grande com pessoas fantásticas, jogadores fantásticos, uma comissão técnica muito boa e levo tudo isso de aprendizado pro resto da minha carreira.

OP - Você não saiu chateado com o Felipão?

AC - Não, não, longe disso, me sinto honrado de ter trabalhado ao lado do Felipão.

OP - Com o Ceará você tem um relacionamento constante e bem aberto. E com o Palmeiras?

AC - É difícil comparar, né? Ceará foi meu primeiro clube, eu passei quatro anos lá, vivi momentos de glória, momentos difíceis e criei muitos amigos, fiz irmãos no Ceará. Fui muito acolhido pela cidade. E no Palmeiras foi muito pouco tempo. Não posso comparar com o carinho que tenho pelo Ceará. Eu tenho respeito muito grande pelo Palmeiras, fiz amigos lá, tiveram pessoas lá que me ajudaram muito no dia a dia, então até hoje tenho carinho muito grande por elas, pelo Palmeiras, e sou muito grato por tudo, mas comparar com o Ceará não tem como.

OP - Felipão declarou que você não estava entre os melhores do Palmeiras, por isso não jogou. Existe algum sentimento em você para provar a ele que essa avaliação foi errada?

AC - Não, não, eu só tenho que provar coisas para mim mesmo. Pro meu pai, minha mãe, minha família, as pessoas que realmente torcem por mim, que realmente estiveram ao meu lado em toda a minha trajetória. Eu fico feliz em saber que essas pessoas hoje sentem orgulho de mim, em falar de mim, falar que me conhecem, falar que são da minha família e é isso que me motiva a cada dia. Não tenho motivação nenhuma em querer mostrar para o Felipão, para o Palmeiras que eu merecia mais oportunidades.

OP - Em que outros clubes brasileiros você gostaria de jogar além de Ceará e Palmeiras? E na Europa?

AC - Falar um específico para mim é difícil, porque realmente não passa pela minha cabeça. No Brasil, com certeza ao Ceará, eu sempre deixei bem claro que realmente tenho do desejo de um dia voltar a vestir a camisa do Ceará e consequentemente também posso vestir a camisa de outros clubes do Brasil, até o próprio Palmeiras ou outro clube, não tenho problema algum. E na Europa também acho difícil (apontar um), mas para não fugir de todas (as perguntas), creio que o Barcelona é um clube que admiro demais, o Manchester United, a Juventus, o Milan, que é um clube que admirei demais e para mim seria uma honra se um dia viesse a vestir a camisa de um desses clubes.

OP - Como é para você lidar com críticas?

AC - Eu sempre lidei muito bem com críticas. Elas sempre vão existir, independentemente do que você faça. Os caras conseguem criticar o Cristiano Ronaldo e o Messi. Então como é que o Arthur Cabral não vai ser criticado? Eu estava no Ceará, jogava o cearense e as pessoas diziam "ah, é jogador de Cearense". Eu fui artilheiro da Copa do Nordeste, diziam "ah, mas é a Copa do Nordeste". Fiz gol na Copa do Brasil, fiz gol no Brasileiro, "ah, ele é jogador de Ceará" (de um time só). Eu estou no Basel fazendo gols na Liga Suíça, falam "ah, mas é a Liga Suíça". Faço gol na Europa League, "ah, mas é Liga Europa". O que eu vou fazer? Os caras vão sempre criticar.

OP - Qual o momento que você se identificou mesmo como torcedor do Ceará?

AC - Creio que principalmente no ano de 2018, o nosso título (estadual), a nossa arrancada (na Série A), torcida fez música para mim e ali eu já tinha um carinho muito grande pelo Ceará. Depois que voltou da parada (Série A parou para a Copa do Mundo da Rússia), o nosso grupo fechou, a torcida fechou com a gente, jogamos juntos até o final, a campanha foi sensacional e depois daquilo só fez aumentar o amor que tenho pelo Ceará.

OP - Em que momento você acredita que subiu de patamar no Ceará e que a diretoria passou a te olhar de forma diferente?

AC - Depois do título cearense, que eu fui tão importante. E consolidou isso na Série A. No Campeonato Cearense eu ganhei a confiança do grupo, da torcida, da diretoria e na Série A se confirmou que eu era um jogador confiável, eles podiam contar comigo que eu estava fechado com todo mundo, que eu estava preparado para ser um dos líderes.

OP - Com 20 anos de idade, você se sentia pressionado na Série A, por ter ido bem no estadual?

AC - Não, longe disso. A pressão foi divida entre todos. Pude fazer gols importantes, mas longe de sentir que eu que tinha que fazê-los. Eu senti que tinha que ajudar de alguma maneira. Tanto que em alguns momentos eu estava jogando mais fora da área, como fiz no Cearense com o Chamusca, e depois que mudou para o Lisca fiz um papel um pouco diferente, mas não sentia na obrigação de ser o homem-gol, de ser o principal jogador, eu só sabia que quando tivesse em campo tinha que dar meu melhor porque eu queria sair do Ceará deixando o Ceará na primeira divisão, era esse meu objetivo.

OP - No Basel também tem a brincadeira do Rei Arthur?

AC - Pior que tá pegando aqui também. Meio que graças aos torcedores do Ceará, porque eles sempre invadem a página do Basel, a minha página, e todos veem isso, que o torcedor do Ceará me chama de Rei, de King. Já fiz até umas fotos com uma coroa.

OP - Você pegou o período de evolução da base do Ceará e talvez seja o principal produto disso. Que mudanças você vê na base do Ceará?

AC - Quando cheguei no Ceará, em 2014, não se tinha nenhum jogador da base no profissional. Tinha o Robinho, mas jogava pouco. Para chegar ao nível que chegou em 2018, pra ter dois jogadores de titular, que era eu e Felipe Jonatan — no Cearense era eu e Raul — foi uma evolução muito grande e eu pude viver esse processo. Se tinha uma desconfiança muito grande sobre jogadores da base quando iam para o profissional porque não se tinha esse histórico e até a maneira de lidar foi se aprendendo. Eu fui vivendo isso na pele, junto com Felipe Jonatan (hoje no Santos), Raul (hoje no Vasco), porque o Ceará não sabia lidar com jogadores da base, não sabia negociar. A gente teve muita briga para renovação de contrato, comigo e com o Raul, então o Ceará foi aprendendo também a mexer com jogadores da base. Foi um aprendizado geral e creio que hoje o Ceará se vê muito mais preparado para um jogador de base atuando no profissional.

OP - Tem alguém na base que você aposta para ser o próximo Arthur, Raul ou Felipe Jonatan?

AC - Eu torço muito para que tenha isso, esse ano ainda. Ano passado, infelizmente, na Série A não teve um jogador atuando, da base, mas torço muito para que isso aconteça esse ano ainda. Eu vi que o Rick entrou alguns jogos bem ano passado, tem o Cristiano, centroavante, que esse ano teve poucos minutos, mas quando teve aproveitou, tem o Alan, zagueiro, tem o Matheus, goleiro, tem o Tiago Cunha, atacante também. Eu creio que se passa muito de oportunidade, principalmente no Cearense.

OP - Como você se vê daqui a dez anos no futebol?

AC - Eu espero estar como hoje, olhando para trás e orgulhoso de tudo que eu fiz. Porque hoje posso olhar dez anos atrás e lembrar de tudo que passei, lembrar de todas as dificuldades que ultrapassei para chegar aqui hoje. É isso que quero quando eu tiver com 32 anos, olhar para trás, estar num clube grande como estou hoje e dizer "foram dez anos fantásticos, passei por muita coisa e estou muito realizado na minha carreira".

OP - Você tem planejamento de carreira, como garantir o pé de meia até uma idade específica ou investir em um negócio enquanto está na carreira, por exemplo?

AC - Sinceramente, não. Estou realmente focado no futebol e as coisas vão acontecer naturalmente, tudo é fruto do meu trabalho. A partir do momento que eu for evoluindo, que eu conseguir contratos melhores, aí vou ter que pensar mais fora do futebol, mas hoje não penso nisso não.

OP - Existe um desejo do Arthur em encerrar a carreira no Ceará?

AC - Sim, sim. Acho que sim, não sei se encerrar a carreira, acho que sim, com certeza, não sei (risos). Nunca parei para pensar nisso, sempre falei que sonho em voltar a vestir a camisa do Ceará, mas encerrar a carreira, eu nunca pensei nem em encerrar a carreira.

OP - Qual o seu principal sonho além das quatro linhas?

AC - Ajudar pessoas. Eu realmente tenho o sonho de um dia ter na minha cidade um instituto como o Neymar tem, de poder estar ajudando pessoas, estar dando oportunidades. Eu vi pessoas que estavam comigo não terem oportunidades na vida e sonho nisso, ajudar pessoas, mas não dando dinheiro. Que seja emprego, estudo, o que quer que seja. Eu penso muito nisso.

OP - Que dica que você dá a quem está iniciando a carreira baseado no seu exemplo?

AC - Vivi com muita gente que tinha o sonho que eu tive e infelizmente não pode realizar. E eu vi o que aconteceu. Se passa muito pelo deslumbre. Eu via isso em jogadores de Sub-17, de Sub-20, já tinha esse deslumbre e não ter conseguido nada ainda. A dica que eu tenho é essa, não se acomodar nunca com o que você tem, você sempre pode chegar mais. Ser titular hoje do Sub-17 do Ceará não é nada, você tem muita coisa para passar ainda, então se passa nisso, em focar no que você quer. Vai ter que abdicar de muita coisa, família, amigos, namorada, festas e são coisas que hoje posso dizer que abdiquei e que valeu muito a pena para mim. Antes eu poderia ter optado por deixar o Ceará para voltar a ficar com minha família. Hoje, ao invés disso, eu posso dar uma vida melhor para eles, trouxe meus pais para conhecer a Europa. Vou olhar para trás e dizer "passei por muito coisa, mas tô muito feliz hoje".

 

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