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Guto Ferreira: "Você marca a história quando vence"
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Guto Ferreira: "Você marca a história quando vence"

Técnico do Ceará leva o clube ao bi invicto da Copa do Nordeste após cinco anos da primeira conquista e entra para a história centenária do Alvinegro de Porangabuçu
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GUTO Ferreira é o segundo técnico a conquistar duas vezes a Copa do Nordeste (Foto: Felipe Santos/cearasc.com)
Foto: Felipe Santos/cearasc.com GUTO Ferreira é o segundo técnico a conquistar duas vezes a Copa do Nordeste

Bicampeão invicto da Copa do Nordeste com o Ceará, Augusto Ferreira, o Guto, marcou seu nome na história do Alvinegro ao conquistar a taça da competição regional mais disputada do Brasil. Em pouco tempo, o "Gordiola", como é chamado carinhosamente pela torcida, deu padrão de jogo e colocou o time cearense para apresentar o melhor futebol na temporada justamente no Nordestão. Enfileirou adversários, entre eles o Fortaleza, em partidas decisivas e trouxe a "Orelhuda" de volta para o Porangabuçu após cinco anos.

Filho de costureira e de eletricista, Guto Ferreira teve vida simples na infância em Piracicaba, interior de São Paulo, cercado pelo futebol. A base do interesse pelo esporte veio do avô, Alcides Ferreira, conhecido como Lobo, que chegou a atuar como goleiro. Desde pequeno, o carismático treinador do Ceará acumulou experiências para gerir equipes.Estudou em colégio de padre. Foi lá que se arriscou pela primeira vez como treinador. Aos 16 anos, ganhou a oportunidade para treinar o time sub-12. Concluiu a graduação em Educação Física e passou dez anos trabalhando para a Prefeitura de Piracicaba. Do vínculo, agarrou a chance de ser técnico na base do XV. Pensou em largar tudo. Na época mais crítica, recebeu proposta para treinar time de juniores no São Paulo, oportunidade que lançou de vez o treinador no mercado.

A carreira de técnico se tornou realidade e só cresceu desde então. Em entrevista exclusiva ao O POVO, Guto relembra a trajetória desde a infância, fala sobre a relação com o Nordeste e comenta o início vitorioso no Ceará.

O POVO - Como foram sua infância e adolescência e a relação com o futebol?

Guto Ferreira - Nasci em Piracicaba. Sou filho de costureira com peão de fábrica, eletricista de manutenção de forno de alta tensão. Meu avô era jogador não profissional, amador, goleiro do XV de Piracicaba. Quando nasci, morávamos com meus avós. Isso me influenciou muito. Eu estava sempre acompanhando futebol desde pequeno. Na adolescência, praticava voleibol também. Tinha muita noção de que gente não tinha tanta qualidade para ser jogador profissional. Era muito mais difícil naquela época. Mas buscava pela condição social como opção de estudo. E como atleta de vôlei, eu poderia conseguir bolsa na faculdade. Acabei sendo bolsista, mas não como atleta. Desde pequeno, freqüentei o movimento do Salesiano. Sou eternamente grato a eles, o colégio Salesiano Dom Bosco. Dois padres foram muito importantes, um deles já falecido padre Bordion. Ele adorava futebol. E o padre Gilberto, que veio para o lugar de Bordion quando foi transferido. O padre Gilberto não manjava nada de futebol, mas era mais jovem e tinha didática diferente. Transformou o movimento oratório festivo para os meninos da região, do bairro. Existia uma série de eventos. Eu participava desse movimento, era o cara dos esportes.Eu tinha 16 anos, jogava futebol na minha categoria e treinava o time sub-12. Ali comecei a ler livros de futebol, manusear para passar no treinamento.

O POVO - Desde jovem, você foi se moldando para ser treinador, então?

Guto Ferreira - Sim, fui cursar Educação Física. Trabalhei pela Prefeitura da cidade no XV de Piracicaba. Comecei no sub-13 como preparador físico, depois passei a ser treinador e cheguei até o sub-20. Mas com a chegada da TAM para patrocinar o time, houve uma decisão que só ficou os funcionários ligados ao clube. Eu era da Prefeitura e cedido ao clube. Fui correr atrás da minha vida. Larguei dez anos de trabalho e fui convidado para ir para o São Paulo. Comecei minha carreira de maneira mais profissional. O clube me oportunizou trabalhar na categoria sub-17. Fui para o Inter depois, tive toda uma história. Nas três passagens pelo Inter, somam 13 anos. Foi uma época de virada no Inter, de 1997 em diante. Conquistei nos dois clubes, praticamente, todos os títulos de maior importância nas divisões menores. Dirigi a seleção gaúcha de juniores. Em 2000, virei auxiliar do time profissional do Inter. Em 2002, assumi interinamente (como treinador). E demos sequência. Dali fui para Portugal, na segunda liga. Depois retornamos ao Inter na função de coordenador da base, saímos do campo. Fiquei cinco anos afastado, trabalhando no apoio. Dali em diante, passei a ser treinador no profissional. Mogi Mirim, Criciúma, Ponte Preta, Portuguesa até os dias de hoje.

O POVO - E desde a infância, você cursou todo em colégio de padres?

Guto Ferreira - Até a quarta série, estudei em escola estadual. Na quinta, fui convidado pelo movimento do Colégio Salesiano e ganhei bolsa. Foi muito importante na minha formação.

O POVO - E conta mais sobre a experiência de treinar a equipe ainda adolescente.

Guto Ferreira - Eu jogava com os maiores e treinava os menores. Ali eu começo a desenvolver a liderança. E começo a desenvolver um conhecimento sobre a minha metodologia aos 16 anos.

O POVO - E em casa, na rua com os amigos, você já era totalmente conectado ao futebol?

Guto Ferreira - Com cinco anos, seis anos, eu morava em casa grande com corredor. Jogávamos chuta-chuta no corredor desde pequeno. Não saía do campo de futebol. Minha mãe ia me buscar no campo, e eu jogando com os grandes. Chegava em casa com a canela inchada. Nem ligava, gostava mesmo.

O POVO - Então, o futebol sempre foi algo bem natural na sua vida?

Guto Ferreira - Sim, sempre gostei muito. Eu brigava com meus irmãos (dois, Guto é caçula) porque queria assistir aos programas esportivos. Eles queriam os desenhos. Tinha um programa na TV Cultura que passava às 7 horas. Acordava mais cedo para assistir e não precisar disputar a televisão. Eu jogava futebol de botão fazendo os times com lentes de relógio. Tinha mais de 40 equipes. Me divertia sozinho. Tinha a revista placar, colecionava escudos. Assim foi minha infância. Jogava o tempo todo. Foram tantas vezes que a gente pegou a inchada para transformar terreno baldio em campo de futebol. No fundo da minha casa, tinha uma loja de estofado. Pegávamos as madeiras para fazer as traves e sacos de estopa, as redes.

Elenco     Goleiros: Fernando Prass, Diogo Silva, Richard    Zagueiros: Luiz Otávio, Tiago Pagnussat, Klaus, Eduardo Brock e Gabriel Lacerda Laterais: Samuel Xavier, Eduardo, Bruno Pacheco, Kelvyn e Alyson    Volantes: William Oliveira, Ricardinho, Charles, Fabinho e Marthã  Meias: Vina, Juninho Quixadá, Wescley, Felipe Silva e Fernando Sobral    Atacantes: Bergson, Cléber, Cristiano, Vitor Jacaré, Leandro Carvalho, Léo Chú, Lima, Mateus Gonçalves, Rafael Sobis, Rick, Rodrigão e Rogério  Comissão técnica     Técnico: Guto Ferreira    Auxiliares: Daniel Azambuja, André Luis dos Santos, Alexandre Faganello    Análise de desempenho: Alcino Rodrigues, Arthur Souza de Vito    Preparadores físicos: Eduardo Balalai, Roberto Farias, Waldir Nogueira    Fisiologistas: Paulo Araújo, Giovanni Ramirez Preparadores de goleiros: Evaldo Santana, Handerson Santos    Nutricionistas: Camila Mazetto, Walter César Médicos: Gustavo Pires, Joaquim Garcia, Leandro Rêgo, Daniel Gomes, Pedro Guilme    Fisioterapeutas: Wellington Alencar, João Paulo, Adolfo Bernardo, Rodrigo Oliveira    Dentista: Antônio Teixeira Massagistas: Orlando Silva, Anacleto Pires, Francisco Soares    Radiologista: Abaeté Neto    Roupeiros: Júlio Abreu, André Marcelino    Auxiliar Operacional: Cleuton Alves Dantas, Antônio Carlos Bassalo
Elenco Goleiros: Fernando Prass, Diogo Silva, Richard Zagueiros: Luiz Otávio, Tiago Pagnussat, Klaus, Eduardo Brock e Gabriel Lacerda Laterais: Samuel Xavier, Eduardo, Bruno Pacheco, Kelvyn e Alyson Volantes: William Oliveira, Ricardinho, Charles, Fabinho e Marthã Meias: Vina, Juninho Quixadá, Wescley, Felipe Silva e Fernando Sobral Atacantes: Bergson, Cléber, Cristiano, Vitor Jacaré, Leandro Carvalho, Léo Chú, Lima, Mateus Gonçalves, Rafael Sobis, Rick, Rodrigão e Rogério Comissão técnica Técnico: Guto Ferreira Auxiliares: Daniel Azambuja, André Luis dos Santos, Alexandre Faganello Análise de desempenho: Alcino Rodrigues, Arthur Souza de Vito Preparadores físicos: Eduardo Balalai, Roberto Farias, Waldir Nogueira Fisiologistas: Paulo Araújo, Giovanni Ramirez Preparadores de goleiros: Evaldo Santana, Handerson Santos Nutricionistas: Camila Mazetto, Walter César Médicos: Gustavo Pires, Joaquim Garcia, Leandro Rêgo, Daniel Gomes, Pedro Guilme Fisioterapeutas: Wellington Alencar, João Paulo, Adolfo Bernardo, Rodrigo Oliveira Dentista: Antônio Teixeira Massagistas: Orlando Silva, Anacleto Pires, Francisco Soares Radiologista: Abaeté Neto Roupeiros: Júlio Abreu, André Marcelino Auxiliar Operacional: Cleuton Alves Dantas, Antônio Carlos Bassalo (Foto: Pedro Chaves/FCF)

O POVO - E como era o padrão de vida na infância?

Guto Ferreira - Era operário. Minha mãe costurava até 3 horas. Acordava de madrugada e pegava ela na máquina. Meu pai, eu não via no fim de semana, sempre em busca da hora extra para bancar os estudos dos três filhos. Sou muito grato pela educação, da maneira como nos educaram. Devemos demais a eles.

O POVO - Na experiência no XV de Piracicaba, você já tinha a certeza de que queria seguir a carreira de treinador?

Guto Ferreira - As coisas foram acontecendo. Eu sempre falei que gostava de estar onde eu estava feliz. Nunca quis dar aula em colégio. Eu dei aula em escola apenas durante três meses e foi a pedido de uma diretora, que implorou. Meu negócio era o esporte. Em determinado momento até pensei em largar porque não estava conseguindo espaço. Eu trabalhava na Secretaria da Educação como recreacionista de manhã e tarde. À noite, dava aula de natação. Não consegui a transferência para trabalhar em escolinhas e desenvolver aquilo que gostava. Fiz cursinho de novo, outro vestibular. Mas no meio de caminho surgiu o futebol do jeito que eu queria. Ali, eu agarrei a oportunidade. Era justamente o que eu queria, me dava prazer. Sou feliz até hoje com o que faço.

O POVO - E qual foi o momento que você viu que estava no caminho certo?

Guto Ferreira - Quando você começa a fazer muito resultados. É difícil de explicar, nada era fácil. O XV me mandou embora. Eu fiquei pensando no que ia fazer. Fiquei arrebentado. Foi quando recebi o convite do Guarani. Passaram-se 20 dias, recebi o convite do São Paulo. Abandonei a prefeitura, seja o que Deus quiser. Não tinha me casado ainda. Falei pra mim: 'a hora é agora'. Fui embora. Não olhei para trás. Falo que até hoje tenho que ajoelhar todos os dias e levantar as mãos para o céu e agradecer por ele sempre ter me honrado. Pouquíssimas vezes fiquei parado. Nunca mais do que dois, três meses. Meu trabalho conseguiu agregar valores. E as pessoas me procuram para desenvolver projetos. Sou eternamente grato a tudo isso.

O POVO - Você trabalhou em diversos setores distintos do futebol. O que essas passagens te ajudam como treinador?

Guto Ferreira - Na categoria de base, você tem espaço para desenvolver a metodologia. Lógico que você continua estudando e fazendo experiência no profissional. Mas a categoria de base permite a você ter uma gama de conhecimento, exercitar na prática, firmar sua metologia e enxergar processos de formação e aprendizado. Quantas e quantas vezes pego um profissional e recupero por fases de aprendizado, volto atrás e começo a fazer os exercícios de aperfeiçoamento. A vida é um eterno melhorar. A parte extracampo é importante. Não se pode esquecer que o treinador é gestor de grupo. É preciso ter conhecimento macro para gerir melhor. Conhecer sobre o mercado, a análise de desempenho também. O fato de ter sido espião do Inter por muitos anos me exercitou a ver o jogo por vários ângulos. Tudo isso agrega. Além disso, o trabalho em equipe. Tenho dois profissionais que me acompanham na parte técnica e um na parte física. Não é só o Guto, mas existem pessoas que estão juntas.

O POVO - Fiquei curioso sobre o período de espião. Tem alguma história curiosa?

Guto Ferreira - Tenho uma história muito engraçada no Uruguai. Fui assistir Cerro x Nacional. Cerro era o adversário do Inter. Jogo era no estádio bem pequeno, na periferia, de Montevidéu, o campo do Cerro. Quando vai assim, nesse perfil de estádio, a gente sempre procura o melhor lugar para sentar e evitar confusão. Mas lá não tinha. Ficaram separadas as torcidas: de um lado do Cerro, do outro do Nacional. Fui com dois amigos do Uruguai, meus irmãos, e decidimos ficar na torcida do Nacional. Levava caderno pequeno para notar e ouvia no radinho. A tecnologia na época era mínima. Chegamos no estádio e tinham várias pessoas. Sentamos num espaço que estava um cheiro de maconha insuportável. A gente sentou do outro lado, mas estavam cheirando pó. Falei: caramba! Fomos para outro lugar vazio. Chegou o presidente do Nacional, que veio a pé da sede do clube ao estádio trazendo três mil torcedores. Não tinha mais para onde ir. Ficamos no meio da torcida, do povão, pessoal fumando maconha e cheirando pó. Fumei uns dez por tabela. E a gente tinha que entrar no embalo. Era pulando e anotando, fazendo a dancinha. A gente cantava junto com os caras: "Nacional".

O POVO - Gostaria que você avaliasse esse período todo, de 2012 a 2020, que conquistou resultados importantes. Só houve um ano neste intervalo que você não conquistou títulos.

Guto Ferreira - Costumo dizer que sou um mentiroso. Quando chego em um clube, em momento algum fui contratado para começar um trabalho, montar uma equipe, mas num primeiro momento para apagar o incêndio. E neste momento inicial você é o mentiroso. Ninguém acredita no trabalho. Todo mundo critica os jogadores. A gente diz para eles que nada aquilo é verdade, trabalha a cabeça dos atletas para direcioná-los a conquistas de resultados. As coisas começam a acontecer, e eles passam a ver que a mentira se tornou verdade. Tudo é trabalho, noção de planejamento, organização, modelo de jogo. Hoje é muito difícil montar um time com 100% dos melhores. Só Flamengo e os clubes lá de fora conseguem ter o melhor dos melhores. Dentro dessa realidade, tentamos agregar a parte física e a técnica para tornar a equipe equilibrada. Depois é mentalizar o espírito vencedor. O processo no Ceará, no primeiro momento, foi isso. Mas aqui já existia a semente do espírito vencedor com muitas lideranças, em especial Prass e Sobis. Outros líderes já estavam no elenco, como Ricardinho, Samuel, Luiz Otávio. Você marca a história quando vence. Acho que isso foi incutido no Ceará. O presidente (Robinson) veio com esse discurso. Foi fundamental a postura dele porque reforçou tudo aquilo que vim trazendo e o que os jogadores na liderança já estavam fomentando.

O POVO - Quais as escolas futebolísticas que você se inspira?

Guto Ferreira - Vejo muitas escolas. Gosto de muita coisa do Pochetino, do Klopp. Algumas coisas do Guardiola, do Sarri. Estive assistindo treinamentos do Simeone. O espírito dele de competir é fantástico. Li muito sobre o Bielsa. Tenho muita coisa do Sampaoli. Tem alguns portugueses que a gente lê, trabalhei em Portugal dois anos. Assimilei bastante coisa. Já estive do lado, acompanhando o Lopetegui. O Luís Castro, atualmente no Shakhtar, o acompanhei quando ele estava no Porto B. Já estive com o alemão Ruller Naquiosman. Vi outro grande treinador, o Abel Ferreira, que está no Paok. Ele já dirigiu o Braga. Estive dez dias com ele, me recebeu super bem. Possui ideias de vanguarda.

O POVO - O que o Nordeste tem que te ilumina?

Guto Ferreira - Em resumo, primeiro é o calor do Nordeste. Quando digo calor, não é a temperatura, é o calor humano, a simplicidade, que me identifico muito. A fibra, a vontade de vencer do nordestino, o espírito de guerreiro. Aqui não tem nariz empinado. Todo mundo sabe que tem que agarrar, arregaçar as mangas e batalhar para as coisas acontecerem. Sempre fui muito bem tratado, bem recebido. No Ceará, desde o primeiro momento, fui muito valorizado, respeitado. Uma coisa puxa a outra. Quando você é respeitado, procura dar o seu melhor. Quando se está feliz, a coisa flui, fica mais tranqüilo para tomar as decisões mais certeiras. Não somos máquinas, procuramos acertar, mas erramos também. Quando o ser humano está apoiado, os resultados tendem a ser melhores do que sob pressão. Lógico que nós treinadores temos que exercitar as decisões sob pressão.

Guto Ferreira orienta a equipe no treino de apronto, no CT do Cruzeiro
Guto Ferreira orienta a equipe no treino de apronto, no CT do Cruzeiro (Foto: Israel Simonton / cearasc.com)

O POVO - Você já caiu nas graças da torcida ao vencer o Nordestão. O que achou da música criada pelos torcedores: 'Vai rolar rodízio, bolo e guaraná: Gordiola é Ceará'?

Guto Ferreira - Como eu vou contra? (risos) Não tem jeito. Até porque se eu for contra, não vai adiantar em nada. Então, junte-se a eles. Vamos descontrair. Eu costumo brincar: perca o amigo, mas não perca a piada.

O POVO - Como está sendo a experiência de trabalhar no Ceará do ponto do vista de estar em um clube organizado financeiramente?

Guto Ferreira - Organização, modelo de gestão, está sendo muito fácil. O Robinson e toda a equipe através do João Paulo, Jorge Macedo, Sérgio Dimas, a direção toda. A administração é muito futurista. Eles sabem o querem e sonham grande. Sabem o tamanho do passo que podem dar e não têm medo. Se você sonha demais e não sabe o tamanho do passo que pode dar, acaba tropeçando e caindo na vala. É preciso coragem e conhecer sua estrutura. É o grande diferencial do Ceará. Estão sempre pensando em fazer o melhor dentro de suas condições. O marketing é maravilhoso. Lá em baixo (do País), você não tem metade desta criatividade. Está muito adiantado a muitos do Nordeste. Se você colocar os centros de treinamento de Itaitinga e Porangabuçu, talvez, seja a segunda força do Nordeste em termos de estrutura.

O POVO - E sobre a avaliação do elenco para a Série A? Pensa em mais peças para reforçar?

Guto Ferreira - Você jamais vai ouvir da minha boca pedido de jogador. Cada vez que eu for falar de jogador, como vai reagir o jogador do meu elenco. Não posso transferir em público uma necessidade. Eu preciso preservar os jogadores que tenho, principalmente o mental. Deles, eu vou cobrar ali dentro, mas não vou expor o que está faltando. A direção sabe. Fazemos reuniões rotineiras, avaliando sempre. Já fizemos a avaliação da Copa do Nordeste, os jogadores que estão evoluindo, quem não está, o que precisa, o que não precisa. É questão de respeito ao grupo que tenho.

O POVO - Como você avalia o início do Ceará, principalmente o momento de administração da derrota no Clássico e de encaixar o time na Copa do Nordeste?

Guto Ferreira - No início, você está avaliando. Você toma algumas decisões buscando solução, mas você está vendo o que está acontecendo. Tivemos sorte de encaixar rápido. Cada decisão é em cima de várias circunstâncias. Buscamos sempre um jogador para equilibrar o outro. A montagem das estratégias passa por isso. Pretendo trabalhar para ter boa saída, proposição ofensiva, jogar futebol em determinados momentos apoiado, em outro mais reativo. No segundo gol contra o Bahia, tivemos mais de um minuto de posse. A jogada transitou de um lado para o outro. Tudo isso foi trabalhado, a iniciativa, os espaços, os desmarques, como tinha que circular.

O POVO - Na Copa do Nordeste, você conseguiu anular equipes fortes no jogo propositivo. O que foi fundamental para o êxito na estratégia?

Guto Ferreira - Para propor o nosso jogo, tem que ser muito forte mentalmente e muito fechado. Esse espírito foi o grande diferencial na equipe. A aceitação das estratégias, a cobrança interna de cada um. Quando se tem propósito, você não mede o preço. E eles pagaram o preço para conseguir o primeiro êxito. E foi alcançado. Pagaram, deram tudo que podiam e conseguiram.

O POVO - Na Série A, você trabalha com metas de pontuação a curto prazo?

Guto Ferreira - É jogo a jogo. Bem simples e objetivo: quando você traça meta, se tiver dois jogos, e você traçar 50%. Daí, você ganha o primeira e entra em zona de conforto no segundo. Se perde o primeiro, entra sob pressão no segundo. Se você traça jogo a jogo, o tempo todo está igual, aprende a batalhar por aquela momento. Você exercita aquele momento, não tem intervalo para sair daquele foco.

O POVO - Explica como foi a sensação de conquistar mais uma vez a Copa do Nordeste, mesmo com pouco tempo de trabalho?

Guto Ferreira - Foi fantástico por diversos motivos, por estar começando um novo trabalho em um Estado que não tinha trabalhado, a grandeza do projeto do Ceará e o primeiro campeonato que ganhei de forma invicta. Ganhamos os cinco jogos que dirigi na Copa do Nordeste. Só tenho a agradecer ao grupo, a direção por ter acreditado.

O POVO - Hoje, o ponto mais forte do Ceará é conjunto?

Guto Ferreira - Futebol é um esporte coletivo. Uma equipe se torna forte quando se tem um conjunto. Lógico que em algum momento alguém vai se destacar. Foi legal ver que em cada jogo, segundo a mídia, se sobressaiu o Pacheco, o Samuel, o Cléber, o Vinícius. Assim vai. No outro vai ser o Prass. Enfim, o mais importante é isso. Cada um vai ter o momento de maior destaque. O grupo estará sempre sustentando o destaque maior, que sabe que sem o grupo, dificilmente, vai estar bem. 

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GUTO FERREIRA JOGAVA voleibol. Como jogador, ele tinha mais talento com o esporte jogado com as mãos. O hoje treinador acreditava que tinha condições de ganhar bolsa de estudo através do vôlei. Praticou a modalidade durante toda a adolescência

Entrevista

CONVERSA COM GUTO foi realizada de forma virtual, através do aplicativo Zoom. Técnico do Ceará bateu um papo com O POVO dois dias após conquistar o título da Copa do Nordeste ao bater o Bahia na final, em Salvador

Títulos

MULTICAMPEÃO. De 2012 a 2020, Guto Ferreira só não conquistou títulos na temporada de 2014. Ergueu taças neste período por Mogi Miri, Ponte Preta, Chapecoense, Bahia, Sport e Ceará. Nos últimos cinco anos, ele conquistou pelo menos um título por ano. Além disso, o professor acumula acessos para as Séries B e A no currículo

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