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Luciana Nicola: A mobilização do setor privado "precisa continuar"
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Luciana Nicola: A mobilização do setor privado "precisa continuar"

| RESPONSABILIDADE SOCIAL | Superintendente de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do Itaú/Unibanco, Luciana Nicola destaca que impacto financeiro da pandemia exigirá que entidades privadas atuem junto de governos e sociedade em ações sociais para além do período da pandemia
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Luciana Nicola, superintendente do Itaú/Unibanco, destaca a importância do trabalho das empresas privadas em responsabilidade social no Brasil. (Foto: Divulgação / Itaú Unibanco)
Foto: Divulgação / Itaú Unibanco Luciana Nicola, superintendente do Itaú/Unibanco, destaca a importância do trabalho das empresas privadas em responsabilidade social no Brasil.

Entre questionamentos antigos do grande público, está o alto lucro dos bancos, que mesmo em anos de crise econômica é farto, assim como quais são os retornos sociais que essas instituições oferecem para a comunidade. Ao O POVO, a superintendente de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do Itaú/Unibanco, Luciana Nicola, destaca que são muitos. Desde o início da pandemia, o braço social da instituição já destinou R$ 1,8 bilhão em recursos e lançou o programa "Todos pela Saúde", que conta com um grupo de especialistas do mais alto calibre no Brasil sob a liderança do diretor-geral do Hospital Sírio Libanês, Paulo Chapchap.

Há 20 anos o Itaú/Unibanco tem trabalhos sociais com investimento médio anual de R$ 700 milhões. As áreas de educação, cultura, mobilidade urbana e envelhecimento são das mais antigas, sempre embasadas num tripé de parceria entre o Poder Público, a sociedade civil organizada e o capital privado. Luciana entende que a pandemia foi um divisor de águas para a política de responsabilidade social das empresas, que passaram a ter mais atenção ao setor de saúde.

Na entrevista, realizada na última terça-feira, 4, por videoconferência, a superintendente do Itaú/Unibanco enfatiza: "A mobilização que a gente fez para a saúde vai ter que continuar porque teremos um efeito econômico, principalmente entre os mais vulneráveis, então precisamos continuar apoiando (a sociedade mesmo depois da pandemia)".

O POVO - O setor financeiro é muito questionado pelo grande público pelos seus altos lucros. Como a senhora poderia destacar o retorno social que o Itaú promove e em quais segmentos se estende?

Luciana Nicola - O Itaú/Unibanco tem um histórico de investimento social privado de mais de duas décadas. Quando olhamos a organização de nossos institutos e fundações, temos uma longa história para contar, apesar de não conseguirmos comunicar tão bem para o grande público. Hoje a instituição tem diversas frentes no investimento social privado. Temos atuado na área de educação, desde o Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Profissionalizante, então pegamos uma grande faixa do Ensino Médio público, trabalhando pelo aperfeiçoamento de políticas públicas nesta área. Temos uma grande frente na área de Cultura pela atuação do Itaú Cultural e Espaço Itaú de Cinema, com grande objetivo de democratizar o acesso à cultura brasileira e trazer arte e cinema de lugares do mundo para onde não se consegue trazer a programação dos grandes cinemas. A gente também tem uma frente voltada para mobilidade urbana. O que as pessoas mais conhecem são as bicicletas laranjinhas do Bike Itaú, mas por trás temos toda uma plataforma para auxiliar políticas públicas e fazer com que a bicicleta se torne um modal importante e utilizado em todos os grandes centros urbanos. Temos também um instituto organizado para pensar políticas públicas de envelhecimento ativo da população. Então, nosso investimento social privado é bem amplo e passa por várias práticas de impacto para a sociedade. É uma forma de devolver para a sociedade um pouco do que ela oferece ao banco e entendemos que a melhor forma de conseguir isso é influenciando políticas públicas e ações de grande impacto nessas diversas áreas.

Banco de detém projeto de mobilidade Bike Itaú
Banco de detém projeto de mobilidade Bike Itaú (Foto: Divulgação)

OP - E durante a pandemia, quais as ações que o Itaú destacaria e que foram de impacto positivo para a sociedade?

Luciana - Tivemos o lançamento do programa "Todos pela Saúde", que foi uma iniciativa inovadora. Antes, nós não tínhamos uma iniciativa desse porte na área de saúde, sempre atuamos mais nas outras áreas que contei anteriormente, mas, pela necessidade da pandemia, abrimos uma frente para atuar em saúde.

OP - Como podemos ressaltar em valores esses projetos?

Luciana - Para dar uma ideia, desde o ano passado, somando o aporte no projeto "Todos pela Saúde", todo aporte no investimento social privado foi de R$ 1,8 bilhão. O "Todos pela Saúde" era uma ação específica e concentrada para que a gente resolvesse a questão da pandemia, para dar suporte às necessidades dos hospitais, e da sociedade como um todo. Mas, tradicionalmente, temos um aporte anual de R$ 700 milhões para todas essas frentes. E é um investimento perene, pois grande parte dele vem de instituições que possuem fundos patrimoniais que, independente do desempenho do banco, o investimento é garantido. Isso porque o posicionamento que o banco teve lá atrás foi de ter fundos patrimoniais por entender que essas causas precisam de médio e longo prazo e que não poderiam depender do desempenho do Itaú. Obviamente que temos um desempenho consistente que pretendemos manter no futuro, mas que a gente consegue ter uma independência do investimento social privado para que a gente consiga manter apoio a políticas públicas em Educação, Cultura e envelhecimento da população, que não são políticas que não se consegue mudar pra amanhã. E o capital social privado está à disposição da sociedade para ser um colaborador neste processo.

Ação Todos pela Saúde do banco Itaú
Ação Todos pela Saúde do banco Itaú (Foto: ISMARINGBER/ Divulgação)

 

OP - O Brasil é um país com contas públicas em momento difícil, com cortes de orçamentos previstos para áreas como Saúde e Educação. Na sua observação, como o setor privado poderia contribuir neste momento adverso?

Luciana - Entendo que, para além do que estamos vivendo na pandemia com a grande ajuda de diversos setores, para gerar impacto na sociedade é preciso se basear em um tripé muito importante de contribuição do Poder Público, iniciativa privada e sociedade como um todo. Só esses três agentes atuando em conjunto é que conseguiremos ter a melhor política pública beneficiando quem mais precisa. Acreditamos muito neste modelo e todos os programas que fazemos têm parcerias com o Poder Público, que tem a legitimidade e pensa na política pública de forma bem ampla de como atingir o todo, e sabe das demandas e têm dados muito precisos. Também temos junto à sociedade civil, que escuta de perto as demandas e traz para nós uma sensibilidade, atuando de forma muito complementar. Então, os investimentos devem trazer sempre esse tripé fortalecido porque é aí que conseguimos sedimentar as grande mudanças. O que temos agora é um momento bastante específico, de que na pandemia se fez muito necessário não só esse tripé olhar para a saúde, e, obviamente, no Brasil, temos uma coisa bastante positiva, que é o SUS, porque se não tivéssemos a sua atuação o êxito teria sido infinitamente menor. Temos uma cobertura de saúde que não vemos nos maiores países do mundo, mas foi muito importante o movimento de empresas que não se mobilizavam para o tema saúde que se mobilizaram para esse período de pandemia. Temos uma visão muito otimista que o capital social privado tem o poder de reconhecer as demandas e se mobilizar para isso e acho que o envolvimento e mobilização de outros setores além do bancário tendem a ser maiores depois da pandemia. Entendo que a reação aos problemas sociais acontece quando temos esse tripé em atuação e fortalecido. Agora, estamos num segundo momento, de vacinação das pessoas, porque, de fato, só a vacina vai trazer a solução para o momento em que vivemos. O Brasil é uma referência em política de vacinação no mundo, então esperamos que a gente supere esse desafio e vacine a população, pois a pandemia impôs um desafio importante que é uma crise econômica. Por exemplo, no Itaú, temos ainda iniciativas no "Todos pela Saúde" de aporte para o combate à pandemia, mas já começamos a pensar na segurança alimentar da pessoas, com doações de cestas básicas. A mobilização que a gente fez para a saúde vai ter que continuar porque teremos um efeito econômico, principalmente entre os mais vulneráveis, então precisamos continuar apoiando e suportando nas demandas que vamos ter.

OP - A senhora acredita que uma política nacional de assistência social se enfraqueceu?

Luciana - Quando observamos os últimos anos, bem antes da pandemia, vemos que o Brasil teve grandes evoluções. A gente saiu do Mapa da Fome da ONU - Organização das Nações Unidas -, a gente conseguiu melhorar a cobertura de educação. Estamos falando de um Brasil de muitas particularidades, pois as demandas do Norte, são diferentes das do Nordeste, do Centro Oeste, do Sul, Sudeste. Fazer uma política chegar a todos os cantos, às necessidades que ali existem não é simples. E quando olhamos na linha do tempo, a gente vinha obtendo uma boa evolução. O problema é que a pandemia e sua longa duração trouxeram os problemas que haviam sido superados nos últimos anos à tona novamente. Ou seja, voltamos para o Mapa da Fome, a segurança alimentar da população voltou a ser um problema em pauta, então, de fato, a gente vai precisar arregaçar as mangas e voltar a combater esses problemas que foram combatidos no passado e se impõem novamente. Mas, hoje, a cobertura que temos de agentes da sociedade civil, de empresas, em que se deixa de ver investimentos somente no eixo Sul-Sudeste, e consegue ter mais ações chegando, com olhar para o Norte-Nordeste, para a Região Amazônica, são conquistas muito importantes para superar os desafios que estão presentes e continuarão presentes no futuro mais próximo.

OP - Qual o alcance dessas iniciativas pensadas pelo setor privado? Há braço para as demandas nas regiões do Brasil que mais precisam de ações?

Luciana - O investimento social privado sozinho nunca vai ter a cobertura para as necessidades que têm o Brasil. Se a gente não contar com a sociedade civil organizada, não vamos conseguir chegar e, se chegar, não será da forma que precisa. Então, para dar uma ideia, quando olhamos a Região Amazônica e o Norte do País, contamos com a ajuda de muitos parceiros que conheciam as demandas locais para fazer com que a ajuda chegasse no momento e da forma mais correta. Para citar alguns exemplos, contamos com a parceria da Fundação Amazônia Sustentável, com a Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Médicos Sem Fronteiras, o Instituto Socio-Ambiental (ISA), porque eles conhecem a logística local, a própria Força Aérea Brasileira (FAB) foi muito importante para que a gente conseguisse chegar em áreas mais remotas. Os agentes da sociedade civil organizada são muito importantes neste momento, eles estão ali vivenciando localmente as dificuldades e desafios e conseguem dar orientações de como o capital social privado pode gerar impacto positivo na ponta. Por mais que a iniciativa privada tenha boas intenções e recursos financeiros, sem os players da sociedade civil, nós não conseguiríamos chegar com o impacto que precisa.

OP - Muitos empresários que desenvolvem ações de impacto social que buscam parcerias com o Governo dizem que até nesse sentido há demora nos fechamentos. Como é essa relação e por que ela não evolui conforme aumenta o interesse do setor privado em ajudar?

Luciana - Acho que superamos muito desse déficit durante a pandemia. A gente conseguiu investir R$ 1 bilhão durante a pandemia em cinco meses. Não é um prazo muito alongado se formos comparar com antes. A pandemia trouxe instrumentos para flexibilizar essa relação, com movimentos seguros, que garantiram o compliance necessário e fez chegar na ponta a ajuda. Mas, historicamente, de fato, temos que levar em consideração que temos espaço para melhorias, inclusive de legislação, mas temos de ter em consideração que quando falamos em empresas temos maior liberdade, um corpo maior de funcionários em investimentos para garantir o compliance e todas as análises necessárias e a gente ainda pode tomar um risco maior do que o Poder Público. Quando olhamos para o Poder Público, estamos falando de muitos milhões de brasileiros, então temos de ter certeza por mecanismos que foi tomada a melhor decisão em relação aos preços, que a ajuda chegou aonde precisava, então o Poder Público precisa de um compliance mais rígido que as empresas para garantir que o investimento chegue da melhor forma e no melhor custo. É um desafio encontrarmos um equilíbrio para fazer com que aconteça num prazo menor, mas de fato são necessários. Mas entendemos que a tomada de riscos é diferente entre o setor público e o privado. A pandemia trouxe um aprendizado positivo, conseguimos sentar com o setor público e desenvolver mecanismos de flexibilidade que garantiram que compramos com o melhor preço, privilegiando até onde pode a indústria nacional, que a ajuda chegou nas pessoas que precisavam. Conseguimos ter no "Todos pela Saúde" uma cobertura em todos os estados, chegando a municípios com grandes demandas e tudo em parceria com o Governo Federal, estados e municípios. Acho que crescemos juntos, o público e o privado, neste momento de pandemia e isso fica de legado para futuras políticas públicas.

OP - O incentivo ao empreendedorismo feminino é uma pauta importante para o Itaú e seu braço social...

Luciana - Temos um programa chamado Itaú Mulheres Empreendedoras, em parceria com o IFC, em que olhamos especificamente esse público não só no crédito, mas vendo o desempenho desse público, o planejamento financeiro para pagar esse crédito, planejamento de crédito com investimento, então a gente tem um olhar ao negócio bastante relevante, mas vamos além. O que percebemos é que as mulheres no Brasil precisam de uma rede para empreender, precisam de uma conexão bastante importante para conseguir crescer. Nosso programa tem três pilares importantes para crescer: um pilar de assistência técnica, que vai trazer capacitação, vai ajudar a mulher a se fortalecer em missões como organização para pagar os impostos, como se formalizar para passar de Pessoa Física a Pessoa Jurídica, ajudamos com questões de legislação para contratar a mão de obra, um processo de aceleração de projetos que já estão maduros para isso. Temos um outro ponto que é bastante importante, que é gerar referências de mulheres empreendedoras com sucesso porque a maioria dos exemplos são de homens empreendedores. E quando olhamos o mercado de trabalho, sabemos que as mulheres têm uma dificuldade extra, normalmente são elas que têm jornada dupla, tendo que cuidar do negócio e dos afazeres da casa, dos filhos, de um parente mais idoso. Elas não conseguem ter uma jornada específica para o negócio, mas desafios extras. O terceiro ponto importante é trabalhar a autoestima da mulher empreendedora em assuntos que ela delega normalmente para homens. Então seria mostrar que ela é capaz. O último ponto é discutir como gerar um ecossistema com conexão de outros empreendedores, com ferramentas, para que elas consigam passar pelo momento que chamamos de "sombra da morte" dos empreendedores no Brasil, que ela consiga um processo de formalização do negócio sem muitas dores e que de fato ela vá se fortalecendo a partir do exemplo de outras mulheres. Temos esse programa desde 2006 e temos avaliação de impacto e o que percebemos é a evolução das mulheres, com mais autoestima para tocar os negócios.

OP - Observamos no setor bancário um alto investimento na digitalização dos processos. Como tem sido essa evolução e o que podemos esperar de avanços nos próximos anos?

Luciana - Tivemos uma adesão muito grande dos clientes nas nossas plataformas digitais. Obviamente que durante a pandemia isso aconteceu de forma muito mais intensa, mas já haviam sinais anteriores desse processo. Hoje, grande parte dos nossos clientes interagem com o Itaú pelas plataformas digitais mais do que na presença física. Entendemos que é importante manter o atendimento presencial para os usuários que ainda preferem esse atendimento, mas, com toda revolução que estamos promovendo no digital do Itaú, percebemos uma adesão de clientes que já eram do Itaú e que se movimentam sem a necessidade de ir às agências, como também de novos clientes que já entram no Itaú pelo digital. O Banco Central tem trazido ainda novas ferramentas para o setor financeiro, como o PIX e Open Banking, e isso tem ajudado muito a gente a evoluir para um serviço mais digital que continue atendendo a demanda do cliente integralmente.

OP - Sabemos que o acesso às evoluções tecnológicas ainda não é numa velocidade uniforme para todos os públicos. Como tem sido a aceitação dos clientes a esse movimento de digitalização?

Luciana - Tivemos um avanço na aceitação durante a pandemia porque o digital era a única opção. Mas estamos antenados que existem clientes que têm suas questões para a adesão. Temos muitas iniciativas relativas a isso, mas vou destacar uma especial: Com o público 60+, percebemos que existe uma certa insegurança em migrar para os canais digitais. Eles se sentem mais seguros indo às agências. Fizemos uma grande pesquisa com esse público, para saber quais as questões, quais eram as dores desses clientes para migrar para o digital. Contratamos alguns seniores para trabalhar nas nossas agências, ainda antes do período da pandemia, atendendo clientes seniores que iam nas agências em busca de atendimento para produtos e serviços que poderiam ser utilizados no digital e promovemos todo um processo de mentoria desses funcionários para esses clientes. Percebemos que isso aumentou muito a digitalização. Ainda descobrimos muita coisa importante para permitir a digitalização desse segmento, em promover dicas de segurança da informação, como colocar as informações à disposição, ter alguém que mesmo online responda de forma rápida. Temos usado até os funcionários seniores para pensar junto com o time de produtos a jornada dos clientes 60+. Isso não acontece somente com esse público, mas observamos coisa parecida com o público da base da pirâmide, os que estão sendo bancarizados a pouco tempo. O olhar para a jornada desses clientes é o grande ponto para promovermos uma maior digitalização.

OP - A pauta ESG (do inglês Ambiental, Social e Governança) tem ganhado espaço nas grandes instituições brasileiras. Gostaria de saber qual a importância dada pelo Itaú/Unibanco a esse tema?

Luciana - Fizemos um processo de reflexão sobre desenvolver compromissos de impacto positivo, que são os compromissos públicos ESG do banco para a sociedade. E isso passa tanto por suporte, como gestão inclusiva da nossa agenda de pessoas, colaboradores, agenda de gestão responsável, que analisa toda nossa ecoeficiência e fornecedores, ética, proteção de dados, mas também temos metas públicas para o nosso atacado e varejo, também com pautas em cidadania financeira e empreendedorismo. Entendemos que a agenda ESG elá só traz de fato evolução para as empresas quando está integrada ao negócio e é esse o movimento que a gente está fazendo. Então, a área de sustentabilidade é uma área muito mais de suporte que vai trazer tendências, análises de mercado, que vai ajudar trazendo insights importantes para os desafios que estão vindo para que isso seja tocado pelas áreas de negócios. Esse é um processo já internalizado no Itaú. Temos uma governança robusta que acompanha os indicadores e processos e novas tendências para que a gente possa incorporar. O desenvolvimento sustentável da empresa passa por esse suporte, de isso ser tema não só de uma área, mas de toda empresa. ESG não é uma moda, mas é estratégico para o desenvolvimento sustentável.

OP - Como a senhora analisa a aceitação a adaptação da pauta ESG no governo brasileiro?

Luciana - Acho que têm setores evoluindo melhor e outros que ainda caminham para isso. Varia de temática para temática, mas num passado não tão distante, havia um delay do que era discutido aqui e o que era discutido na Europa e Estados Unidos. Recentemente, o Banco Central brasileiro se integrou a um grupo com outros 83 bancos centrais no mundo e ele está muito mais online para essas questões. Antes, a gente ficava observando o que era discutindo para depois ver como fazer uma tradução, adaptando aquilo para o Brasil. Estamos muito mais inteirados com o movimento global. Já conseguimos olhar em planejamento, economia e outros setores, como agricultura, muito mais antenados e discutindo com outros governos as melhores práticas. Logicamente, uns setores menos e outros mais, mas há um processo evolutivo.

OP - A pandemia mudou muitas pessoas e organizações e observamos um recrudescimento importante em 2021. Como as organizações estão analisando esse caminhar da pandemia no Brasil?

Luciana - No Itaú, pela experiência do "Todos pela Saúde", em que temos um conselho de médicos, liderado pelo doutor Paulo Chapchap (diretor-geral do Hospital Sírio Libanês), conseguimos discutir não só as ações promovidas pelo programa, como ter uma visão muito técnica do que está acontecendo e quais são os pontos importantes. Neste momento, dois fatores são primordiais para superarmos a Covid-19: conscientização da população e vacinação. E quando falamos em conscientização, o uso de máscaras é fundamental, como também é importante o distanciamento social. Temos um debate sobre o isolamento e sobre a questão econômica, dos estabelecimentos, mas existe uma possibilidade de convívio caso as pessoas obedeçam as regras de uso de máscara, álcool gel e distanciamento mínimo. Mas o que percebemos atualmente é um processo de desmobilização da sociedade, então quanto mais a gente negligenciar essas medidas mínimas, mais difícil vai ficar porque o contágio tem acontecido cada vez mais. Vemos um contágio muito mais rápido nesta segunda onda que a gente teve na primeira onda e isso acontece porque antes tínhamos uma população mais consciente do que temos hoje por incrível que pareça. E o segundo fator é a vacinação. Enquanto não tivemos a imunização de grande parte da população, o coronavírus estará presente entre nós.

OP - Faltou uma melhor comunicação sobre os riscos da pandemia para a população brasileira desde o início da crise, principalmente das autoridades da gestão pública?

Luciana - Acho que teve um desencontro de informações, mas como olhamos como um todo os movimentos de comunicação, os alertas foram muito maiores. No "Todos pela Saúde" fizemos uma série de campanhas, vimos também várias empresas e movimentos que divulgaram exaustivamente essa questão, então essa informação estava disponível por vários canais. O que precisamos realmente é de uma maior conscientização, de ficar em isolamento, apesar de ser difícil, pois precisamos de um esforço um pouco maior até a gente ter a vacinação acessível para todos.

OP - Como a senhora enxerga o Brasil saindo desta crise?

Luciana - Com grandes aprendizados, principalmente para a área de saúde. Um ponto que a pandemia trouxe é que, quando observamos o capital social privado, tínhamos uma participação muito pequena das empresas na área de saúde, colocou o investimento na política pública de saúde no radar do setor privado, que é um tema tão importante quanto educação e cultura. Acho que saímos com grandes desafios econômicos e com a necessidade de ajudar muitas famílias a passarem por esse processo pós-pandemia. A retomada está muito mais desafiadora do que imaginávamos no ano passado e a atenção da iniciativa privada será muito mais importante.

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