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Fernanda Keller, a inabalável triatleta que conquistou o mar e a terra
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Fernanda Keller, a inabalável triatleta que conquistou o mar e a terra

Multicampeã, a fluminense de 59 anos acumula diversos recordes e feitos históricos no Campeonato Mundial de Ironman, uma das provas mais difíceis do mundo. Ao O POVO, ela contou sobre a construção da carreira, desafios e conquistas
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 28-10-2022: Fernanda Keller Triatleta Iron Man Páginas Azuis. (Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo) (Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 28-10-2022: Fernanda Keller Triatleta Iron Man Páginas Azuis. (Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo)

Repleta de títulos e recordes no Mundial de Ironman, Fernanda Keller carrega uma carreira vitoriosa no triatlo, mas o processo até alcançar o topo não foi fácil. Inabalável em suas convicções, quebrou paradigmas na modalidade, enfrentou preconceitos e, com a valentia da deusa Pele — que representa a força da mulher na mitologia havaiana —, conquistou o mar e a terra. Além de multicampeã, tornou-se uma lenda do esporte.

Nascida em 4 de outubro de 1963, no bairro de Boa Viagem, em Niterói, no Rio de Janeiro, Fernanda dedicou, dos seus 59 anos de idade, mais de 40 à prática do triatlo. Como atleta, acumula façanhas históricas no Ironman, tido como uma das provas mais difíceis do mundo, com 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42,195 km de corrida, tudo de forma contínua. O percurso exige o máximo das condições físicas do corpo e pode levar entre oito a 10 horas para ser completado por um competidor profissional.

A fluminense construiu, durante sua carreira, algo que nenhuma outra atleta alcançou até então, sendo a única a completar 23 edições consecutivas (1987 – 2009) do Campeonato Mundial de Ironman. Nesta trajetória, sagrou-se pentacampeã do Ironman Brasil e esteve seis vezes na terceira colocação do Mundial, que é realizado no Havaí — onde também é recordista de pódios, colocando-se 14 vezes entre as dez melhores atletas do planeta. Em 2008, aos 44 anos, estabeleceu a marca de mulher mais velha a vencer uma edição da prova.

Eleita a mulher mais influente do esporte pela revista Forbes em 2006, Fernanda Keller contou, em entrevista exclusiva ao O POVO, sobre a sua trajetória como atleta, as dificuldades que encontrou — e superou — no caminho, os momentos marcantes da carreira e sua relação com o Havaí, lugar que considera sua segunda casa.

O POVO - Queria saber como foi o início de tudo, a sua infância em Niterói. Desde sempre você teve influência da prática de esportes dentro de casa? Como foi a reação da sua família durante esse processo em almejar o esporte como profissão?

Fernanda Keller - Minha infância foi muito ao ar livre. Eu morava em um bairro chamado Boa Viagem, em Niterói, que tinha praia, campo, as crianças brincavam na rua, tínhamos liberdade de correr, andar de bicicleta. Eu não era uma atleta quando criança, mas era muito ativa e praticava diversas atividades. Eu também fazia dança e balé.

Quando eu me formei (no colégio) e entrei na faculdade de Educação Física, comecei a praticar o triatlo. Na realidade, já foi assustador porque é uma modalidade muito difícil, né? Eu fiz o primeiro triatlo que aconteceu no Brasil e já eram longas distâncias. A gente nadava quase 2 quilômetros, pedalava 60 quilômetros e corria mais 20 quilômetros. A minha família ficou mais preocupada do que outra coisa.

Eu me tornei uma atleta profissional, eu não falei que iria virar uma atleta profissional. Primeiro eu decidi ser atleta e ser o atleta profissional é na medida que você começa a vencer, a ter investidores te apoiando, e aí vai se transformando em uma atleta profissional. Acho que, no início, a preocupação era grande da minha família, mas eles estavam tranquilos porque eu estudava, sou formada em Educação Física, então o esporte não era minha única profissão.O esporte é o que eu amo e se transformou na minha opção. Eu acho que esporte e educação não podem estar nunca separados, então nunca deixei de pensar em me formar e me capacitar por causa do esporte. Eles (educação e esporte) se somam.

O POVO - Por ser uma mulher ousando fazer algo fora do comum naquela época, houve algum tipo de resistência ou dificuldade no caminho?

Fernanda - Você ser mulher em um esporte chamado Ironman, lógico que tem uma resistência. Mas eu tinha muito apoio da família, vários amigos que incentivaram. Meu professor de fisiologia na faculdade foi meu primeiro professor, André Figueiredo, então eu posso dizer que tive muita sorte de ter o apoio de diversas pessoas que me fizeram acreditar no meu sonho para seguir no meu caminho. Eu já tinha uma vontade, um desejo, e fui bastante incentivada. Então todas as horas que eu encontrava ladeiras ou preconceitos, eu acho que vencia isso muito mais com a minha determinação.

O POVO - A competição Ironman é considerada a mais difícil do mundo. Como foi a sua preparação e como estava a sua expectativa na sua primeira, em 1987, no Havaí?

Fernanda - A minha expectativa, assim, já era difícil chegar no Havaí, porque era uma viagem muito cara, distante, e eu fui sozinha, não foi treinador e nem familiares. A primeira vez foi apenas eu e minha aventura. Então meu objetivo era completar a prova, porque eu já vinha ganhando algumas provas importantes no Brasil e um amigo me disse que se eu quisesse ser uma triatleta respeitada, casca grossa, eu tinha que fazer uma prova chamada Ironman. Então eu pensei: "É para lá que eu vou", e eu queria completar essa prova.

Essa mesma pessoa tinha falado que se eu fizesse abaixo de 11 horas seria um nível muito bom. Mas eu não estava preocupada com isso, porque só de nadar 3.800 metros, pedalar 180 quilômetros e correr a maratona no Havaí, com todo aquele calor e vento, eu já estava feliz. Ele (amigo) estava lá e, quando eu cruzei a linha, ele disse: "Nossa, você conseguiu completar. Viu o seu tempo?", eu falei: "Não", e ele respondeu: "Dez horas e 58 minutos". Eu fiz abaixo de 11 horas. Então foi uma grande motivação. Eu comecei a subir no pódio na categoria no meu terceiro ano no Havaí, quando fiquei entre as três melhores atletas do mundo no profissional e nunca mais parei.

O POVO - Você está sempre com uma coroa ou um colar do Havaí. O que o Havaí representa para a sua vida e a sua história?

Fernanda - O Havaí significa minha segunda casa. É um lugar que me recebeu, uma ilha mágica e que tem muito a ver com a energia da natureza. Ali é que acontece o Iron Man, na Big Island, onde tem o vulcão ativo mais antigo do mundo, Kilauea. Dizem na mitologia que a força do vulcão é a força feminina, da deusa Pele, deusa do fogo. E eu gosto muito disso, me dá ainda mais energia saber que a ilha que eu amo, que me deu meus melhores resultados e consolidou minha carreira, é a ilha que tem a força da mulher, da deusa Pele. É para lá que eu volto sempre. Como eu disse, é minha segunda casa, onde conquistei os títulos mais importantes na minha carreira de atleta.

O POVO - Você é a única atleta a disputar o Campeonato Mundial de Ironman por 23 anos seguidos. O que te motivou a seguir competindo por tanto tempo?

Fernanda - O mais importante é que eu competi 23 anos consecutivos como profissional e tenho o recorde mundial de pódios. O pódio é composto pelos 10 melhores, e eu fiquei 14 vezes entre os 10 melhores e seis vezes entre os seis melhores atletas do mundo. Isso significa a minha carreira profissional, minha dedicação e entrega. Saber que eu iria lá e daria conta. Me preparava muito para me entregar não só de corpo, mas de alma, para o esporte que eu amo, que é minha vida.

O POVO - Como você mesma citou, a sua carreira foi composta por diversos títulos, recordes e pódios. Acredito que, para alcançar o topo e se manter nele, foram necessários alguns sacrifícios na sua vida pessoal. O que você precisou abdicar?

Fernanda - No início, quando somos muitos novos, a gente acha que está falando "não" para muita coisa que os outros jovens fazem. Quando eu comecei a fazer isso, a única coisa que eu ficava preocupada era porque meus pais ficavam muito preocupados. Mas, na realidade, eu não estava abrindo mão de nada. Eu estava dizendo "não" para o que eu não queria e dizendo "sim" para quem eu era, a atleta Fernanda Keller.

Então, no momento que eu percebi que não estava abrindo mão, mas sim fazendo o que eu queria fazer, eu me motivava a continuar. Por mais que seja uma espécie de sacerdócio, porque você não pode ter tudo, mas o que eu fiz foi uma escolha, e eu escolhi ser atleta e campeã, e sou muito feliz e realizada com isso. Imagina na escola alguém perguntar o que você vai ser quando crescer? "Eu vou ser triatleta, vou ser profissional e vou ser muito feliz com tudo isso".

O POVO - Dentre as tantas vitórias que você teve na carreira, qual foi a mais emblemática?

Fernanda - Estar sempre entre os melhores em Kona, no campeonato mundial, que revela você para o mundo e o coloca em status de superatleta, não tem comparação com nenhuma outra prova em nível nacional, de resultado. Mas a prova mais emblemática e marcante da minha vida foi o Ironman Brasil de 2008, prova em que eu pude homenagear meu pai, que estava muito mal no hospital. Foi uma prova em que eu tive que lidar com a minha maior barreira psicológica, porque eu estava fisicamente muito bem preparada, mas emocionalmente estava vivendo um drama por saber que meu pai talvez não conseguisse superar aquele momento.

Eu consegui treinar e me dedicar, mesmo quase me afogando, porque eu tive um pânico na largada, não consegui me mexer na água. Eu consegui voltar para a prova e não desisti. Venci a prova, quando todos achavam que ela estava perdida. Olhei para o céu e falei: "Obrigada, essa foi para você". Então pude homenagear meu pai em maio de 2008 e ele veio a falecer em julho, então foi a última homenagem que eu pude fazer para o meu pai, e isso eu não esqueço jamais.

Essa é uma das histórias que mais me inspira na vida, saber que eu pude fazer uma última homenagem em vida para ele. Foi a pessoa que mais torceu e incentivou, que fazia hang loose e batia na minha mão nos últimos metros das provas. Das milhares de competições que eu ganhei no Brasil, ele estava lá. Ele foi várias vezes ao Havaí para me ver brilhar lá. Quando a gente compete nesse esporte, parece que estamos sozinhos, mas a gente carrega nosso país, nossa família e amigos. Por isso a gente não abre mão de nada, a gente é isso, representamos essas pessoas. Por mais que eu não tenha ido em vários casamentos e batizados, eu levo todos eles comigo quando venço.

O POVO - Você lançou uma autobiografia cujo título é “Inabalável”. O que você fez para se manter assim?

Fernanda - Inabalável não significa que você não sofre, que não acontece as coisas com você, que você não sente dor. Acontece tudo que acontece com todo mundo. O Inabalável ali (no livro), significou para mim, a escolha deste título, foi porque, aconteça o que acontecer, e já aconteceu, eu nunca me perdi do meu propósito. Quando você começa a se destacar e é chamada para muitas coisas, eu sempre optei por ser atleta. Nunca larguei a minha essência, nunca me perdi de quem eu sou.

Mesmo em todos os momentos mais difíceis, seja durante a competição, resistindo aos ventos fortíssimos, ao calor e à água fria, à chuva e ao sol, mas resistindo às outras tentações, de ser chamada para, sei lá, ser uma celebridade. Eu não sou celebridade, sou atleta, triatleta, sou Ironman, sou Fernanda Keller, não sou nada diferente que isso e tenho muito orgulho dessa construção. Não quero me perder disso.

O POVO - Recentemente, vivemos um momento complicado de pandemia. Para você, acostumada com uma rotina de treinos e competição, o quão difícil foi esse período?

Fernanda - Foi um período muito triste para a humanidade. Foi um teste que a gente teve e que não passamos muito bem. Foi um teste em que as pessoas focaram muito mais em cuidar da vida dos outros, julgar, do que se unir da forma que deveriam. Foi um momento em que as pessoas sofrem até hoje as consequências. Acho que houve não só um isolamento físico, mas houve um momento que era pra ter sido pensado na humanidade, as pessoas usaram isso por interesses econômicos e políticos, muito diferente do que realmente era a tragédia que estava acontecendo.

Então acho que isso gerou depressão, pânico e ansiedade em crianças, jovens e adultos. Por isso acho que hoje a gente ainda vive um pouco dessa sequela e precisa estar sempre lembrando os valores humanos que são importantes. Agradecer a Deus por termos conseguido vencer a pandemia, por mais que ainda tenha a doença e muita preocupação, mas chegaram as vacinas e as soluções, e as pessoas seguiram adiante.

Eu só pensava que eu iria escolher algum lugar, como eu escolhi, lugares desertos para ficar, pois sou uma atleta. Era um momento muito difícil. Cancelaram todos os eventos. Aliás, cancelaram a vida. Então acho que todo mundo não sabia lidar com aquilo. Quem falou que estava entendendo o que estava acontecendo, não estava entendendo nada. Tava todo mundo muito perdido.

O POVO - Aos 44 anos, você estabeleceu o recorde mundial como a mulher mais velha a ganhar um título de Ironman. Como foi o processo para decidir que pararia de competir oficialmente?

Fernanda - Eu não parei de competir e não vou parar de competir. Não vou jamais deixar de ser atleta. No ano que vem eu vou comemorar muitos anos de vida, são seis décadas e mais de 40 dedicados ao esporte. Eu continuo fazendo provas do Ironman, continuo me desafiando. Hoje eu não preciso de resultados, provar mais nada. Mas eu pertenço a esse universo. É o que eu sou e o que eu amo fazer. Então continuo participando.

Na primeira vez em que eu não competi como atleta profissional, eu não tinha me preparado muito. Estava no Havaí competindo e eu, acostumada a sempre estar lá na frente, puxando o ritmo, acelerando, acabei ficando muito atrás. É engraçado, porque a gente acha que um anjo sempre tem uma asa, mas às vezes ele vem com uma aparência humana.

Eu estava nesse dia em uma batalha mental comigo: "Você está acostumada a puxar a prova, o que está fazendo aqui?", e aí passou um atleta que falava inglês, e ele perguntou: "Você é a Fernanda Keller?". E eu pensei: "Não vou falar que sou eu, não, estou aqui atrás". Ele diminuiu a velocidade na bike para me dizer: "Eu queria só te dizer que eu tenho muito orgulho de estar participando da mesma prova que você. Você é uma lenda no esporte". Então eu olhei para mim naquele momento e falei: "Sua burra, é isso, você inspira outras pessoas, porque ama tanto isso que faz que não pode parar, tem que continuar, porque você é isso, pertence e conquistou. Essa é a sua conquista". Então hoje eu estou usufruindo de todas as minhas conquistas. Não existe ex-campeão, uma vez campeão, sempre campeão. É uma conquista, para mim, eterna.

O POVO - Você é inspiração para muita gente. Mas quem inspira ou inspirou Fernanda Keller?

Fernanda - Meu pai e minha mãe vão ser sempre minha maior referência e inspiração. Tudo que eu faço e penso na vida foi para que eles sentissem orgulho da filha deles. Meu irmão e meu marido. São pessoas que, quando a gente compete, a gente se dedica ao esporte, a família se dedica com você, estão juntos. Então nunca estamos sozinhos. Quando cruzamos a linha de chegada, levamos muitas pessoas com a gente. Nosso treinador, milhares de pessoas, nossa cidade, nosso país. Então o que me inspira mesmo são essas pessoas.

O POVO - Como surgiu o Instituto Fernanda Keller e qual o principal objetivo dele?

Fernanda - Desde que eu comecei no esporte, eu pensava no legado, nos frutos que o esporte pode trazer. O que eu poderia fazer? O troféu fica aqui na prateleira. "Ah, eu fui campeã não sei quantas vezes do Ironman", é chato, né? É muito chato a pessoa ficar falando dela, que é isso ou aquilo. Mas no momento que eu vi que aqueles troféus e medalhas tinham um sentido muito maior, porque eu não tinha ganho por mim, tinha ganho para poder compartilhar. Compartilhar a minha história, resiliência e perseverança, o estilo de vida do triatlo.

Milhares de crianças e jovens que não possuem as mesmas oportunidades que eu, que não foram incentivadas. Toda aquela força que eu tinha para transformar o "não" em "sim", eu falo para as crianças da comunidade. Você quer, você acredita, você sonha? Mas ao mesmo tempo eu digo que o esporte tem etapas. É preciso aprender a se preparar, se dedicar, vir todos os dias, ter lealdade, ter fair play, respeitar os outros e as regras.

A única coisa que as pessoas precisam é de amor, e a gente dá muito amor, adoramos o que fazemos, e oportunidade. Oportunidade é muito diferente de caridade. É você elevar aquela alma ao nível que ela sirva de inspiração para você. Para mim, eles são inspiração, são crianças que escutaram que não iriam conseguir, que não era para eles. São engenheiros, advogados, é incrível de ver. Isso vale muito mais que uma prova do Ironman. São frutos de transformar pessoas e sonhos. Eu acho que se a gente não tem um propósito na vida que não seja de ser útil, a gente está vivendo de forma equivocada. Meu dom é ser atleta, o seu é jornalismo, então nosso propósito tem que ser elevado o dia inteiro.

O POVO - Uma curiosidade: como é a preparação de um atleta para a disputa de um Ironman?

Fernanda - Como profissional, era 24 horas triatlo. Hoje, eu não estou mais na categoria profissional como atleta competindo, por mais que todos os meus compromissos sejam de atleta. Como profissional, são oito horas (de treino) por dia, no mínimo. Hoje, para manutenção, eu treino quatro horas. Quando tem uma prova de Ironman, eu treino cinco ou seis horas, dou um jeito.

É difícil, mas o Ironman não é uma prova para atleta profissional. 90% ou mais das pessoas que participam do Ironman são pessoas que acreditam que tudo é possível, basta acreditar. Tem pessoas com 80 anos que completam 3.800 metros de nado, 180 quilômetros de bike e 42 quilômetros de corrida. Tenho uma amiga que se chama Sister Madonna, ela fez isso com 84 anos. Tem atletas paralímpicos que participam. São muitas histórias inspiradoras. Esse ano foi a primeira vez que um atleta com síndrome de down conseguiu completar o Ironman do Havaí.

Um atleta profissional chega com oito horas de prova, enquanto esses chegam com quase 17 horas, no limite da prova. Então eu penso: quem é campeão? É quem ganha, o profissional, ou quem chega por último? Lógico, é todo mundo. É uma prova de superação. Só de cruzar a linha, você é vencedor. É um dos poucos esportes que, quem vence, não é apenas quem chega na frente do outro, mas quem supera tudo que existe. É duro, tem uma hora que você pensa: "Caramba, como vou chegar ali?", e quando você cruza a linha, é praticamente como se você tivesse morrido e entrado no céu.

Você morre várias vezes durante a prova, sente sede e cansaço. De repente vem uma força que a gente tem que nem imaginamos, e vai levando. Quando a gente vê, faltam pouquíssimos metros. Você ouve aquele som (de cruzar a linha de chegada), olha para o pódio e fala: "Eu vou tentar mais uma vez".

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