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O homem por trás do Rock in Rio
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O homem por trás do Rock in Rio

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Luis Justo, 40 anos, trocou uma carreira estável no mercado financeiro pelo sonho de ser empreendedor. O primeiro cargo de CEO veio aos 28, após trabalhar por cerca de quatro anos em empresa do ramo do varejo. Há seis anos comanda o Rock in Rio, maior festival de música do País que completou 32 anos em 2017. Pensado para proporcionar experiências inovadoras ao público, o evento, que reuniu mais de 700 mil pessoas no Rio de Janeiro na última edição, ganha forma por meio da atuação conjunta de até 500 funcionários contratados e mais de 20 mil colaboradores diretos e indiretos. O impacto econômico na capital fluminense é estimado em mais de R$ 1,4 bilhão. Em entrevista ao O POVO, ele fala sobre os desafios de fazer esta máquina girar, a necessidade de transformar a cultura de uma empresa em proposta de valor e a busca por novos nichos de mercado. Neste ano, que não tem a edição do Festival no Brasil, apenas em Lisboa, em Portugal, a marca vai investir em eventos para youtubers e gamers. “Você tem a tentação de buscar um caminho mais fácil do ponto de vista financeiro ou mesmo do operacional. Ao longo desses 32 anos, tomamos muitos riscos, mas que são fundamentais para poder inovar e continuar buscando o novo”.


O POVO – Sua formação é em Engenharia. Como o senhor foi parar no mercado do entretenimento?

Luis Justo - Minha trajetória profissional acabou me levando para o mundo do entretenimento, embora eu seja engenheiro por formação e tenha passado por mercados diferentes. Trabalhei no mercado financeiro, banco do investimento, algo completamente diferente do que faço hoje. Depois passei por uma consultoria internacional onde fazia consultoria para processos e gestão de negócios, até que resolvi seguir o caminho de ser feliz. Por mais que tivesse uma perspectiva de grandes mercados, empresas multinacionais, eu vi que eu tinha uma veia empreendedora. A minha maior e mais longa experiência profissional antes do Rock In Rio foi na Osklen, quando era uma empresa ainda muito pequena com grande potencial. Fiquei 11 anos lá e me tornei CEO com 28 anos de idade e três, quatro anos de empresa. Lá tive oportunidade de exercer um pouco essa veia de empreendedor interno quando junto a uma grande equipe, e com um grande exemplo de empreendedor, que é o Oskar Metsavaht, fundador e grande conceito por trás da Osklen. Desenvolvi um trabalho de expansão e de internacionalização da marca. Quando foi em 2011, um headhunter (recrutador) veio até mim. E o curioso é porque, enfim, eu vinha de uma empresa de varejo de moda atrás de uma posição que era nova no Rock in Rio, a posição de CEO. O evento estava fora do Brasil desde 2001 e estava voltando depois de uma experiência de sucesso em Portugal que começou em 2004.

 

OP – Na sua avaliação, quais os principais desafios de gerir uma marca como o Rock In Rio, que já é muito consolidada?

Luis Justo - Estou na empresa há seis anos e com desafio de expandir ainda mais o negócio. Junto com uma grande equipe, a gente levou o evento para os Estados Unidos. Um desafio de levar um evento brasileiro à capital mundial do entretenimento, que é Las Vegas. E não fizemos feio, muito pelo contrário. Acho que a gente mostrou uma forma diferente de palco, preocupação com a qualidade, que nem mesmo os festivais americanos têm, uma estrutura de patrocínio... Foi um orgulho imenso a gente estar exportando tecnologia de entretenimento brasileiro para Las Vegas. Já fizemos evento em Lisboa, em Madri, então, é um projeto de fato de internacionalizar a marca. E hoje também, em condições ainda maiores, de dentro do Rock in Rio, a gente pretende trazer outros eventos na área do entretenimento que tenham como cerne a experiência. Acho que esse é o grande diferencial do Rock In Rio: olhar para a experiência do cliente.

 

OP – Existe algum evento planejado para este ano no Brasil ligado ao entretenimento?

Luis Justo - Neste ano, por exemplo, aqui no Brasil, a gente não tem Rock in Rio, que ocorre a cada dois anos, mas a gente vai fazer um grande evento de game, já uma spin-off (produto derivado de outro) de um evento que aconteceu dentro do Rock in Rio 2017. Vamos fazer um evento só para influenciadores, youtubers, com vários palcos, o negócio está se expandindo. Não só com a marca Rock In Rio, mas com a possibilidade de usar todo este conhecimento de experiência e de estrutura para outros negócios.

OP - O foco agora é proporcionar essa experiência?

Luis Justo - A gente definiu internamente que a missão do Rock In Rio é proporcionar experiências inesquecíveis através da música e do entretenimento. Isso é algo que, se você olhar no nosso DNA, desde 1985 a gente faz isso. A gente já escreveu livros do Rock in Rio contado pelas histórias de nossos clientes: de gente que se conheceu, que brigou, que teve filho, gente que montou negócio, que viveu de fato junto com a história do nosso evento a sua própria história. A gente identificou que o que sabemos fazer de melhor é criar ambiente pra que as pessoas vivam experiências inesquecíveis. E dentro da nossa missão você vê que nem fala a palavra festival. A gente proporciona experiências e isso pode se materializar de diferentes formas. Claro que o festival é o nosso grande carro-chefe e sempre vai ser. A música é a espinha dorsal do nosso negócio e já tem lá o Palco Mundo com melhores artistas. Mas, cada vez mais, a gente quer inovar e trazer experiências que vão além da música. Uma coisa em comum é que essas experiências têm que ser inesquecíveis para os nossos clientes, para os nossos patrocinadores, para os nossos parceiros de mídia. Seja o stakeholder (parceiro), seja o cliente que a gente esteja trabalhando, vamos sempre procurar uma inovação constante, que é entregar essa experiência inesquecível.

 

OP - Qual o modelo de negócio do Rock In Rio para além destas experiências?

Luis Justo - A entrega de experiência é a proposta de valor que é nosso grande norte em tudo o que a gente faz. Então, quando a gente vai pensar num novo conteúdo, num novo palco, numa atração diferente, até o visual cenográfico, processos internos da empresa... Todos eles têm que estar alinhados para, ao fim, entregarmos esta proposta de valor melhorada, proporcionando uma experiência cada vez melhor que a do último evento. A proposta de valor é isso. Mas é claro que isso se materializa na venda de tickets, na venda do patrocínio, na venda dos direitos de imagem do festival. São produtos que são entregues. Na verdade, o que o cliente está comprando é o que está por trás deste produto. Essa tal experiência inesquecível. Eu costumo falar em palestras um pouco sobre uma forma mais estruturada de olhar quais são os recursos-chaves, as atividades que estão sendo realizadas. Só para você ver que toda essa estrutura de negócio, que não é pequena, é um grande evento com cerca de 20 mil pessoas trabalhando.

 

OP - E como é colocar todo este batalhão de pessoas para trabalhar em uma mesma sintonia?

Luis Justo - Cultura é fundamental. Se você não tem uma cultura que junte essas 20 mil pessoas, você não consegue entregar essa experiência de uma forma unificada. E esse é o grande desafio, porque você tem lá 300, 400, 500 pessoas contratadas diretas do Rock in Rio, que fazem parte da nossa empresa e estão trabalhando dentro desse ambiente das 20 mil pessoas. Todas essas pessoas são absolutamente responsáveis pela entrega da experiência. Então, primeiro: você tem que ter uma cultura muito clara e definida. E isso deve ser transmitido para todo mundo, inclusive os seus parceiros.

 

OP - E como se faz isso?

Luís Justo - Só é possível se investir em treinamento, capacitação. Então, a gente tem dentro do Rock In Rio todo um projeto de treinamento mesmo para as pessoas que não fazem parte da nossa equipe. Só assim a gente consegue minimamente traduzir o quê dessa cultura. O que é esperado pelas pessoas que estão ajudando a entregar a experiência para o nosso cliente, o que a gente espera deles. Mostrar que eles fazem parte da nossa família do Rock In Rio e são absolutamente responsáveis pela entrega da experiência, tanto quanto a Beyoncé, o Maroon Five, e qualquer artista que estiver em cima do palco.

OP - Quanto um festival como o Rock in Rio movimenta a cada edição?

Luis Justo - Olha, posso dizer qual impacto econômico que o Rock In Rio traz para a cidade onde é realizado. Então, no Rio de Janeiro, neste último evento de 2017, o impacto econômico foi de R$ 1,4 bilhão. Isso não só quanto à venda de ingressos, hotelaria, geração de impostos para a cidade, restaurantes… Nesta edição, foram mais de 700 e poucas mil pessoas, sendo que 60% disso era de fora do Rio de Janeiro. Então, mais de 400 mil pessoas vieram para consumir com hotelaria, restaurante, entretenimento, além, obviamente, de tudo o que consumiram no próprio evento. O Rock In Rio tem uma relação com a cidade na qual é desenvolvido. É um evento que precisa ser construído com suporte do Rio de Janeiro. É óbvio que um festival dessa dimensão afeta a dinâmica do lugar. Por outro lado, traz um impacto econômico gigantesco e que se reverte para o bem.

 

OP – Durante esses 32 anos, muita coisa mudou no festival. Qual o novo perfil do Rock In Rio e quais os desafios de manter a sustentabilidade por tantos anos?

Luis Justo - Parece repetitivo, mas estar absolutamente comprometido com essa proposta de valor é o que dá um norte muito claro. Você tem a tentação de buscar um caminho mais fácil do ponto de vista financeiro ou mesmo do operacional. Ao longo desses 32 anos, tomamos muitos riscos, mas que são fundamentais para poder inovar e continuar buscando o novo. Quando você pensa em colocar 700 mil pessoas num lugar, isso já é um grande risco. É uma operação. Quando entra no desafio de entregar uma coisa de larga escala, mas com um nível de experiência quase que individualizada, a preocupação com aquela pessoa, isso faz com que a gente tenha um olhar operacional muito grande para coisas que determinados outros tipos de eventos não olhariam.

 

OP – Como isso se dá na prática?

Luis Justo - A fila dos brinquedos da tirolesa, por exemplo, é um grande sucesso. Em toda edição todo mundo quer voar, mas eu só consigo operacionalmente fazer 750 voos na tirolesa e tenho cento e poucas mil pessoas naquele dia querendo andar. Claro que é uma experiência maravilhosa, mas uma fila gigantesca. Então a gente resolveu fazer um sistema de fastpass tecnológico, que você pode fazer um agendamento virtual pra não ficar na fila e poder curtir o festival. Isso tem, por trás, toda uma operação de redundância, fibra ótica, desenvolvimento de sistema para isso acontecer. Há uma preocupação com aquelas 750 pessoas que estão na fila e como ficaria mais fácil para elas. Se elas estão felizes lá na fila, deixa elas. Mas como o nosso comprometimento com a experiência é neste nível, a gente de fato assume determinados riscos de operação de negócio para garantir a entrega da experiência. Seja pelo lado da operação, seja pelo lado financeiro, é um investimento gigantesco que você coloca na frente para estar fazendo um negócio desta dimensão.

 

OP - Como equilibrar estes investimentos com resultado financeiro?

Luis Justo - Você tem sempre que contar que vai ter uma performance de venda de bilhetes incrível, que vai ter uma captação de patrocinadores gigantesca, mas a gente não negocia a entrega da qualidade por conta de resultado financeiro. O próprio evento de Las Vegas, nos Estados Unidos, foi um super evento do ponto de vista de entrega, de experiência, de público... Mas foi um grande investimento que a empresa fez para poder garantir que a gente ia entregar no mesmo padrão. Fugimos da negociata, fazer em formato menor, diminuir as atrações. Não, pelo contrário, tem uma frase do Roberto (Roberto Medina, idealizador do Rock in Rio) que diz que o melhor seguro que a gente pode fazer no negócio é a qualidade. Quando você é consistente na qualidade, está criando um seguro, um bunker (estrutura solidificada) de marca, de aderência ao cliente. Tem gente que tatua Rock In Rio no braço, isso porque tem respeito nesta relação. A gente toma risco, sim. Mas, para garantir que vai fazer a entrega e quando se faz isso, o resultado financeiro vem.

OP – Nesses 32 anos de caminhada, como é lidar com imprevistos no festival?

Luis Justo - Sempre tem. Em um evento desta dimensão, por maior que seja o planejamento, imprevistos acontecem. E a maioria deles, quando acontece, é inevitável. Mas temos uma equipe com capacidade de reação em cima dela. Um exemplo notório na edição de 2017 foi que, faltando 24 horas para gente abrir as portas no primeiro dia, que era a Lady Gaga, ela cancelou por motivo de doença. De fato, não conseguiu embarcar na véspera. O palco já estava montado, equipamento já tinha chegado dos Estados Unidos, estava tudo sendo montado e ela não veio. Tínhamos poucas horas para fazer uma reação e que envolve, de fato, toda a empresa. A área artística que tinha que conseguir colocar um outro artista de peso em menos de 24 horas no mesmo dia; a equipe de ticket tinha que ter toda uma orientação de como seria se tivesse devolução de bilhetes e de que forma o público seria orientado disso; o marketing; a equipe de assessoria de imprensa; a de operação para montar toda uma logística. Tivemos quatro, cinco horas para montar uma operação de guerra e resolver. Acontece, mas acho que a gente tem uma equipe preparada para fazer esta virada, absolutamente engajada.

 

OP - Já é possível falar em novidades para a próxima edição?

Luis Justo – Para este ano, já está confirmado para junho o Rock in Rio, em Lisboa, e que vai ter, entre as atrações, o Bruno Mars. É um evento fantástico que acontece desde 2004, a cada dois anos, um grande sucesso. No Brasil, neste ano, não tem Rock in Rio. A grande novidade são esses dois eventos que vão acontecer e que já tiveram um laboratório na edição de 2017, que foi a Digital Stage, um palco só para youtubers, e a game XP, que são duas arenas olímpicas onde você tinha experiências no universo de games... Neste ano, eles ganham vida própria fora do Rock In Rio, com ticket, bilhetes específicos para eles, mas com mesmo padrão de qualidade e entretenimento. São dois eventos de áreas absolutamente interessantes que é o universo de games, de youtubers, influenciadores. Nós tivemos uma experiência no Rock in Rio com o maior telão de games que já teve no mundo, com show de música, som, uma experiência de fato fora da caixa. Neste ano, vai ganhar mais que o dobro do tamanho, vai ser um super evento.

 

Palestra

A ENTREVISTA ao O POVO foi concedida, em novembro, antes do CEO do Rock In Rio, Luís Justo, falar para uma plateia lotada que o aguardava na Câmara dos Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL Fortaleza). O tema da palestra era “Empreendendo sonhos: bastidores do Rock in Rio”.

 

Gestão

COMPARTILHAR a experiência adquirida à frente do festival é outra expertise da marca. Justo participa de um programa de educação executiva junto com HSM para quem mira em grandes eventos e quer fazer benchmarking de gestão com o festival.

Aprendizagem

O ROCK IN RIO Academy by HSM é um programa para executivos desenhado como um “live case” de aprendizagem e experimentação, com palestras dos gestores que fazem o festival acontecer e de convidados do mercado.


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