Logo O POVO+
Inventor do pré-carnaval de Fortaleza
Paginas-Azuis

Inventor do pré-carnaval de Fortaleza

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL

[FOTO1] Jânio fala com as mãos, abre fácil o sorriso largo, remexe os ombros num reboliço inquieto de um jeito espalhafatoso de quem guarda no corpo uma eterna festa. Nascido na rua Senador Pompeu, no Centro de Fortaleza, o hoje microempresário Jânio Soares, 76, conta como se fosse ontem que a trilha se vestia de Carnaval na década de 1950. Ele era ainda meninote de escangotar o pescoço num gesto de admiração pelo colorido dos blocos, pelo esplendor que Luís Assunção desfilava. Aquilo gravou-se na alma e fez dele um folião para sempre. 


Na juventude boêmia, ao ver a Cidade vazia numa “tristeza franciscana” quando chegava fevereiro, decidiu que era preciso antecipar a euforia e fundou a Banda Periquito da Madame, uma jocosidade que a década de 1980 permitia. As festas nos sábados, em geral, de janeiro, fincaram no fortalezense a semente que fez brotar, mais tarde, uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia, que deram nome de Pré-Carnaval. Ao O POVO, Jânio conta sobre paixão, boêmia, e, claro, Carnaval.
 

 

O POVO - Como surgiu a ideia de, na década de 1980, fazer uma folia de Carnaval antes do Carnaval propriamente dito?
 

Jânio Soares - A ideia partiu em 1980, ninguém acreditava que eu ia fazer. Todo ano eu ia pra Bahia, brincar o Carnaval lá. O Carnaval aqui, ele minguou, devido a revolução...

 

 

OP - O que o senhor chama revolução é o Golpe Militar?
 

Jânio - Isso, 1964. Em 1970, 1975, havia repressão que não podia haver aglomeração. O berço do Carnaval em Fortaleza era a (rua) Senador Pompeu, onde eu nasci. Tinha quatro jornais lá, inclusive O POVO, e se fazia lá o Carnaval e ia até a (avenida) Dom Manuel. De um lado, desfilavam os blocos: o Luís Assunção, os maracatus; do outro lado eram os corsos de carro, que eram os carro alegóricos, os caminhões que o povo enfeitava. Era muito bonito. E aí houve a repressão. Na Dom Manuel, eles pegavam as travestis e quem tivesse vestido de mulher e levavam pro camburão. E aí o pessoal deixou de ir pro Carnaval e passou a ir pra Aracati, Paracuru, que lá era livre. Aqui, a repressão era muito forte. O Carnaval acabou, todo mundo saia pra passear fora no Carnaval. Ia pro Rio de Janeiro, pra Bahia, pra Recife, pra São Luís. Aqui mesmo, não tinha. Era tão pouco, era uma pobreza franciscana. Era mesmo só os aficionados. Aí eu fui pra Bahia e vi a grande evolução, que não era bloco, era banda. Porque bloco você tem de passar seis meses ou mais ensaiando o bloco. Já a banda era livre. Brincava quem queria. Chegava, comprava a camisa ou não. E eu fiz a banda do Periquito (da Madame), só tinha a minha banda. Ninguém faz Carnaval sem dinheiro, eu bolei as camisas e atrás eu botava a propaganda, arranjava patrocínio para pagar a banda. A dificuldade que eu tinha era arranjar músico. Os músicos que eu consegui eram da polícia, que tinha banda, tinha um maestro. Aí juntava 10 músicos e a gente ia pra Beira Mar e era espontâneo.
  

Invenção

 

OP - Como o senhor decidiu que era antes do Carnaval?

Jânio - Eu fiz uma pesquisa e o pessoal dizia: “Não, no Carnaval nem faça que eu vou viajar”. Eu resolvi fazer, no primeiro ano, dois sábados antes. E foi um sucesso, a propaganda era boca a boca. No primeiro ano, foi em um bufêzinho na Beira Mar que era do Oriel Mota, e juntou o pessoal. Eu arrecadei dinheiro, paguei a banda. E o povo dizia: “Faz de novo, Jânio”. No outro ano, eu fiz as camisas. Na época, ninguém usava camisa estampada, e eu fiz estampada e foi uma loucura. Todo mundo queria brincar fantasiado. Eu fiz livre: comprando a camisa ou não, você ia brincar. Depois que nós passamos para dentro do Clube dos Diários, falando com o diretor, e pra entrar tinha que comprar a camisa. Mas quando a gente saia na rua, no cortejo, aí ia gente de todo jeito. Eu não tinha apoio de Polícia, nem de Prefeitura, de nada. Eu fazia na marra, como se diz. Era tanta gente, e os carros forçavam, eu botava minha caminhonete e fechava ali na entrada da Beira Mar.
 

 

OP - De onde veio o nome Periquito da Madame?
 

Jânio - O nome foi o seguinte. Eu nasci na (rua) Senador Pompeu, e lá tinha um português, o Silvero Abreu, que viajava muito pra São Paulo, era rico, e comprou um disco que tinha música que foi censurada na época. (A música dizia:) “O periquito da madame come milho, come arroz, come feijão. Não sei porque que todo mês ele sofre de indigestão. Eu trato bem do periquito da madame, tenho cuidado das suas refeições, mas não sei porque que todo mês ele sofre de indigestão”. Ela falava da menstruação da mulher e naquela época era um absurdo até falar essa palavra. E aí foi censurado. E aí montaram um bloco com esse nome. Era meu pai, Silvero Abreu, doutor Edmilson Barros de Oliveira. A roupa era um chapéu de palha, um periquitinho aqui (apontando para a cabeça) e uma camisa branca. Eles saiam nas casas, iam bebendo, comendo salgadinho. As casas preparavam (comidas) onde passavam os blocos, que era a escola do Luis Assunção - eu conheci ele -, o Prova de Fogo, as Baianas, as Coca-Colas - que era uma sátira com os americanos, que quando chegaram aqui faziam uma festa no Estoril que só entrava mulher, homem só os americanos, e dizem que eles deixaram muitos filhos aqui, e essas meninas eram chamadas de as coca-colas; aí o bloco eram homens vestidos de mulher e se chamavam de as coca-colas. Isso era na década de 1950, eu tinha uns três, cinco anos. Eu gravei essa música do Periquito da Madame. E, quando eu fui pra Bahia, voltei com a ideia de fazer a Banda Periquito da Madame. E foi um sucesso. E as colunas sociais colocavam assim: “A banda que não pode se dizer o nome”. Eu aproveitei e fazia o tema de tudo que era relativo ao ano. No ano que o tema era ecologia, aí eu colocava “O que é ecologia? É soltar o periquito”. Falava-se muito em desmatamento, e o periquito faz ninho dentro da árvore, aí eu coloquei: “Preserve a fauna e a flora: não tire o pau do periquito”. O Lula disse que o pobre tinha que comer três refeições. Aí eu disse assim: “Alimente seu periquito três vezes ao dia”. Sempre com maldade, com duplo sentido.
  

Atrás da banda 

 

OP - No início vocês se reuniam no Clube dos Diários. Como era a festa nesse tempo, juntava quantas pessoas, eram todos conhecidos?


Jânio - Superlotava. Era uma faixa de umas 5 mil pessoas dentro do clube. Lá fora era umas 20 mil esperando para a saída. A gente não era contra a Bahia, não, mas era contra o trio-elétrico. A gente queria a banda no chão. E a gente queria que surgissem outras bandas. Eu incentivei que surgissem outras bandas. Fizeram o Peru do Barão, eu fiz as camisas - eu tinha uma confecção que eu fazia as camisas e eu mesmo pintava, que eu tenho uma serigrafia até hoje. Eu pegava as revistas de surf e fazia o floral que era esses daqui (apontando para as camisas), sempre tinha alguma coisa com floral que imperava. O pessoal comprava as camisas para brincar na Bahia. O Firmo de Castro conta que levou 50 camisas pra uma viagem de navio e deu briga com os estrangeiros. Surgiu depois a “Brasil, Que Merda É Essa”, que ficou a “A Merda”. Depois, houve uma confusão com o pessoal da “Que Merda É Essa”, aí se separaram e fizeram “O Cheiro É O Mesmo”. E hoje é o “Cheiro”. Aí veio surgindo mais, a “Amantes de Iracema”…
 

 

OP - E como era a interação com esse outros blocos?
 

Jânio - Ah! Eram meu amigos, e era amigo do Júnior da “Merda”, do Waldemir do “Cheiro”, do Dilson Pinheiro do “Num Ispaia Se Não Ienche”, a menina da “Matraca”. A gente era tudo amigo, fazia reunião. E nós fizemos até uma associação, a ABI (Associação dos Blocos da Praia de Iracema). O Waldemir é um cara muito assim… Ele mesmo faz os instrumentos dele. E então, nós queríamos arranjar um galpão, com a Prefeitura ou o Governo, para ensinar os meninos a fazer instrumento, a aprender computação. A ideia da associação era tirar meninos da rua. Aí eu criei a “Banda do Periquitinho”. A gente fazia a integração, combinava os calendários, um bloco saia tal dia, tal hora, o outro se ajeitava pra não chocar. Sempre na amizade entre os blocos. Eu ia pros outros blocos. O meu bloco saia muito cedo e ficava até 22 horas. E eu ia pros outros blocos. E no Carnaval a gente saia também no “Cheiro”. Mas eu continuava indo pra fora, terminava a banda eu ia pra Recife, pra Bahia, pra São Luís.
 

 

OP - E em nenhum momento o senhor quis ficar aqui pro Carnaval?
 

Jânio - Eu fiz o Pré-Carnaval pra segurar o pessoal aqui pro Carnaval, queria juntar o Pré com o Carnaval. Você imagina que teve deputado que chamou na época o Joãozinho Trinta (carnavalesco) pra fazer o Carnaval daqui. Eu fui contra. Eles iam pagar um absurdo ao Joãozinho Trinta. Eles quiseram até me empatar de falar. Eu disse: “Joãozinho Trinta, se você fizer Carnaval como a gente faz aqui, sem apoio de Governo, de Prefeitura, do jogo do bicho, de ninguém, você não vai ser o Joãozinho Trinta não, vai ser o Joãozinho Sessenta”. Ele me aplaudiu e todo mundo votou contra. Eles queriam que ele viesse pra cá, e eu perguntei se era pra ensinar a gente a fazer Carnaval. A gente fazia Carnaval entre os carros, não tinha isolamento, não tinha nada. O governo tinha que, antes de trazer alguém de fora, investir no que era feito pela gente no Carnaval. Isso foi em 1988 - a gente já tinha oito anos de banda. E eles tinham um negócio com a “Banda do Periquito”, porque ela fazia sucesso, e o Carnaval que eles faziam não ia ninguém. O primeiro erro foi levar o Carnaval pra Domingos (avenida Domingos Olímpio) , que é completamente fora do contexto histórico de Carnaval. O Carnaval devia ser na orla marítima. Diziam que não pode, por banco, por patrimônio. Na Bahia, fecha tudo com tapume e faz. É em primeiro lugar o Carnaval, depois as outras coisas. Por isso que o Carnaval lá é o que é hoje e tem esse sucesso total.

 


OP- Quando foi que vocês tiveram que mudar de local?
 

Jânio - Saiu do Clube dos Diários porque eles me empataram, a Prefeitura empatou o cortejo. Diziam que não podia porque os hotéis reclamavam. Depois, criaram o Fortal na Beira Mar. O Fortal se espelhou no Periquito da Madame. E eles não queriam o Periquito no Fortal. Eles só queriam bloco da Bahia. E eu dizia que tinha que dar valor ao cearense. O Ceará tem bons compositores. Eu não tocava música da Bahia. O cearense é difícil de ter uma identificação, como tem Recife com o frevo, a Bahia com axé, o Rio de Janeiro com o samba. O cearense não tem porque nós não tivemos negros. Onde teve negro, tem samba no pé. O maracatu daqui tem de se pintar de preto. Tinha que incentivar. Eu só tocava marchinha, as antigas, e era um sucesso total.
 

 

OP - O senhor quando fala de negro, é no sentido de que a cultura negra é rica em musicalidade?
 

Jânio - Onde teve negro teve samba, tem Carnaval. O baiano, o pernambucano vai pra rua brincar. As famílias vão pra rua brincar. Aqui nós não vamos. A elite daqui não vai pra Domingos Olímpio ver o Maracatu. O cearense gosta de brincar, é moleque, gosta de fazer fantasia, mas a identificação de samba no pé não tem.
 

 

Reconhecimento
 

OP - Como vocês saiam sem apoio de Prefeitura na época?

Jânio - Com patrocínio e venda de camisa. Mas, depois que nós combatemos, teve um apoio (da Prefeitura) de R$ 3 mil pra sair quatro vezes. Esse dinheiro paga uma banda, um dia. Nós fizemos o Pré-Carnaval com nosso dinheiro. Depois, eles aumentaram para R$ 5 mil, R$ 6 mil. Até que uma vez era uma exigência tão grande, você tinha que sair quatro vezes e ainda tinha que ir pro Carnaval. Mas eu tinha venda da camisa, eu tinha patrocínio para pagar os músicos. Eles eram todos da Polícia, depois é que eu pedi que eles ensinassem, que era pra ter outras bandas. Eles começaram a ensinar e hoje tem mais de 100 bandas. Se fosse de continuar no trio-elétrico, com três pessoas, não ia ter músico. A banda tinha bumbo, percussão, metal, era uma coisa linda, animada. O povo dizia assim: “Quem não teve um volkswagem e não saiu no Periquito da Madame, não é cearense”. Todo mundo perguntava quando que a banda ia sair, era no boca a boca.
 

 

OP - Li o livro que o senhor escreveu sobre o bloco, e em muitas páginas aparece o Mincharia. Qual o senhor acha que foi o papel dele para a construção desse Carnaval de Fortaleza?
 

Jânio - O Mincharia era uma boêmio de responsabilidade, que na época que não tinha nem Banda do Periquito, a gente se fantasiava de mulher e saia pro corso. O Mincharia deu o impulso. Ele ia pro Rio de Janeiro, porque tinha um irmão lá; era boêmio de receber na casa dele na sexta, sábado, domingo, a gente reunia lá e ia de lá pro Carnaval. O Mincharia era o nosso ícone, nosso guru. Era o cara mais irreverente que tinha. Ele era empresário. E ele gostava de Carnaval, recebia na casa dele governador, prefeito, e ia todo mundo beber cachaça. Ia pra lá e de lá a gente saia pro Carnaval. A nossa turma era eu, Ricardo (Guilhon), Marcos, Lincoln (Bezerra de Menezes), Francisco de Assis, o Crica, o Fogoió, e até hoje a gente é amigo. O Mincha morreu, mas deixou a gente unido. Ele foi uma grande alavanca para o Periquito sair.
 

 

OP - Sim, mas voltando, quando saiu do clube vocês foram pra onde?
 

Jânio - Fomos pro Largo do Mincharia. Quando o Mincha morreu a gente fez a Casa do Mincharia, e aí nós íamos para Praia de Iracema, nos juntávamos lá e a gente foi o primeiro bloco “Concentra, mas não sai”, porque a gente já tava tudo velho (risos).
 

 

OP - São muitas histórias com essa turma de boêmios que iniciaram esse Pré-Carnaval e o Carnaval. Se o senhor tivesse de puxar pela memória uma história mais marcante do bloco, qual seria?
 

Jânio - Tinha uma senhora que dizia: “Jânio, depois que tu fez a banda, houve muita separação”. É verdade. Mas houve também muito casamento. Muita gente se juntou na Banda do Periquito. Tinha marido que dizia: “Vou ali comprar o pão”. Aí, ia pra banda e não voltava mais. O pessoal fugia de casa, mas era só os mal casados. Eu mesmo levava minha mulher pra banda. A gente fazia uma mesa redonda, ficava bebendo e depois saía. Tinha coisas engraçadas. O Mincharia, lá no Clube dos Diários, dizia: “Jânio, vai no microfone e avisa que tem muita esposa esperando os maridos para sair”. Eu dizia: “Alô, alô, pessoal, saiam pelos fundos, que na frente tem esposa esperando”. Eles fugiam e as esposas iam pra lá pra pegar. Essa é uma das histórias folclóricas.
 

 

OP - O senhor é casado, tem duas filhas. O bloco nunca causou nenhum problema? Como era o envolvimento da sua família com o bloco?
 

Jânio - Nunca causou problema nenhum. Pelo contrário, as minhas filhas iam com os filhos dos meus amigos pro programa do Irapuan Lima, apresentavam na Rádio Iracema o Periquitinho. O envolvimento da família na banda era total. A minha mulher trabalhava na confecção das camisas, quando chegava dezembro era só o que fazia. Da banda da gente e das outras. Ela ia todos os dias de banda. As minhas filhas, elas gostam de Carnaval até hoje. Elas adoram. E as minhas netas também.
 

 

OP - Em relação a se tornar o Pré-Carnaval que vemos hoje, com muitos blocos espalhados pela cidade, o senhor acha que aconteceu por quê?
 

Jânio - Foi o exemplo da Banda do Periquito da Madame. A gente fez o Periquito, fez a Merda, foram sucessos. Depois veio o Cheiro, que hoje é o maior bloco do Carnaval daqui, depois o Ispaia. A semente saiu da Banda do Periquito da Madame. Eu fico muito alegre de ver o Carnaval assim, mesmo eu ainda achando que o Pré-Carnaval ainda é mais animado que o Carnaval. Acho mais espontâneo. Hoje, o Baqueta, a Cachorra tem como se fosse uma orquestra. Altamente profissionalizado. Eu mesmo não me profissionalizei, fazia por brincadeira.
 

 

OP - O bloco acabou em 2013 – durou 33 anos. O que levou ao fim?
 

Jânio - Eu não gosto nem de falar, mas é porque foi realmente enfraquecendo. E não sei porque cargas d’água o pessoal era contra a banda do Periquito. A Prefeitura. Me cortaram (do edital) por uma besteira, porque não levei um documento. Aí eu pensei: “Rapaz, eu não preciso disso”. Tinha que fazer quatro, cinco reuniões pra participar do edital. Aí eu me contrariei. Agora, vou receber uma homenagem da Prefeitura como criador do Pré-Carnaval, que realmente fui eu quem criei. Sou muito satisfeito. Até que enfim reconheceram o Periquito. Depois de tanta luta, aliás, luta não, foi brincadeira. Eu fazia pra me divertir.
 


Patrocínio
 

 

OP - Como o senhor recebe essa homenagem?

Jânio - Eu recebo com muita emoção, muita gratidão, porque eu entrei na história. Hoje, eu sou o fundador do Pré-Carnaval e incentivador do Carnaval. Porque o Pré incentiva o Carnaval e era isso que eu queria na época. Com o evento do Pré, o Carnaval voltou a ser Carnaval, a ter o pessoal brincante.
 

 

OP - O senhor acredita que outros blocos, assim como o Periquito, acabaram por quê?
 

Jânio - Porque eles não se profissionalizaram. Assim, como eu também não. Eles têm de juntar o pessoal fazer uma diretoria para trabalhar. A dificuldade hoje é patrocínio. Antigamente, as cervejarias, as cachaçarias me patrocinavam. Os amigos compravam de 50 blusas. Eu ganhei dinheiro. Viajei, passei 15 dias na França às custas do Periquito da Madame.
 

 

OP - O que representa para o senhor o Carnaval?
 

Jânio - Representa tudo. Eu nasci no berço do Carnaval, em frente a minha casa passavam todos os blocos, aquilo me gravou muito. Com 2, 3, 4, 5 anos, eu via o Luís Assunção, adorava ele, recebia ele lá em casa. Ele gostava muito, porque ele chegava lá em casa e meu pai tinha preparado uma festa pra receber os amigos, pra assistir o Carnaval. E isso foi o meu berço, eu adoro o Carnaval, não dispenso. Vou pra Bahia, vou pra Recife, aonde tiver Carnaval eu vou. E eu incentivo: quem quiser fazer um bloco, me chame que eu ensino a fazer. Eu adoro ver o Carnaval agora. O cearense, ele transforma o espelho das fantasias em brilhante. As fantasias do maracatu são muito bonitas. As fantasias do Luis Assunção ainda hoje estão gravadas na minha memória. As baianas eram as que mais me impressionavam, porque só podia ser baiana se fosse gordo. Eles iam se vestir na minha casa, a minha mãe era quem aprontava tudo, ela costurava as fantasias. Eu acho que tem que se investir no Pré e no Carnaval pra ter retorno. O Pré já tá dando retorno. Você vê a população do Pré hoje é imensa, os hotéis são todos lotados. Hoje, vem ônibus de Belém pro Pré. O Carnaval dá retorno, precisa investir. Tem retorno pro Governo e pra Prefeitura. Eu acho que deve-se continuar investindo.
 

 

OP - O Periquito vai voltar, é isso?
 

Jânio - Vai voltar! A jovem guarda está me incentivando e eu vou fazer duas bandas: a do Periquitinho, porque minhas netas querem porque querem, e a do Periquito, que a abertura vai ser no Náutico, já falei lá, em 2019. Passou o Carnaval, a gente vai começar e o Periquito vai voltar com toda força. Foi muita cobrança. Vou fazer uma diretoria de 20 pessoas, pra trabalhar as brincadeiras. Já tô bolando a camisa. Espero que a Prefeitura me aceite. 

 

MAIS VÍDEO
www.opovo.com.br/video 

 

 

 

Mincharia
NOME DE BAR e de largo na Praia de Iracema, Antônio Aurílio Gurgel Nepomuceno, o Mincharia, foi boêmio e incentivador do Carnaval de Fortaleza. Tornou-se célebre pela irreverência, além das farras que promovia em sua casa, regadas a cachaça e uísque. Após sua morte, em 1985, os amigos, como forma de não deixar que sua lembrança fosse esquecida, fundaram a Casa Confraria Mincharia, que mais tarde veio a se tornar o bar homônimo e que ainda hoje é reduto da boêmia alencarina.



Coleção

EM 33 ANOS DE BLOCO, Jânio criou, a cada Pré-Carnaval, uma estampa diferente de blusa. Mudando o colorido, os padrões de floral, a temática do ano, as blusas são retrato de cada tempo também: iniciam de algodão, num recorte inusual, e vão até as blusas de poliéster em modelagem semelhante aos abadás. O que não muda é o periquito, mascote do bloco, que guarda no bico, como um easter egg, a genitália feminina - desenhado de próprio punho por Jânio. No apartamento,no Dionísio Torres, ele guarda orgulhoso todas as blusas. 

 

DOMITILA ANDRADE
domitilaandrade@opovo.com.br


AURELIO ALVES
FOTOS
ESPECIAL PARA O POVO
fotografia@opovo.com.br  

 

O que você achou desse conteúdo?