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Geraldo Luciano: "Não quero entrar em uma aventura, quero entrar para ganhar"
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Geraldo Luciano: "Não quero entrar em uma aventura, quero entrar para ganhar"

A apenas alguns dias de deixar o Grupo M. Dias Branco, Geraldo Luciano lê os 24,5 anos na empresa, a líder nacional em massas e biscoitos, e se coloca como virtual candidato do Partido Novo à Prefeitura de Fortaleza em 2020
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No organograma, Geraldo Luciano Mattos Júnior, 56, ainda é vice-presidente de Investimentos e Controladoria, além de diretor de Relações com Investidores de M. Dias Branco. Na prática, não apenas. Além da área de alimentos, tem ingerência em todos os demais negócios, como cimento (Apodi) e mercado imobiliário (Dibra). É uma espécie de primeiro-ministro, responsável em larga medida pelo salto que a empresa cearense deu desde sua entrada, há 24 anos e meio. A liderança no Brasil em massas e biscoitos, com 36% do mercado, começou com o primeiro marco nacional: a compra da Adria, em 2003, então líder no Sul e Sudeste. O mais recente é a aquisição da fluminense Piraquê, no ano passado, por R$1,550 bilhão. Neste ínterim, houve a abertura de capital na Bolsa brasileira, em operação comandada por ele, em 2006. Durante muito tempo, Geraldo foi o único diretor não filho de Ivens Dias Branco, falecido em 2016, mas carrega outro tipo de DNA de Ivens no sangue. Decerto, esta herança intangível explica a decisão de deixar a empresa ao final deste mês. Avalia que fechou o ciclo. O projeto é ser candidato a prefeito de Fortaleza pelo partido Novo. Mas ele avisa: "Não quero entrar em uma aventura. Quero entrar para ganhar". Nesta entrevista, ele fala da relação com Ivens, conceitua os herdeiros, defende que o Novo já se renove e admite que já avançou demais para recuar.

O POVO - O senhor vive um momento de transição ao anunciar que vai deixar o Grupo M. Dias Branco. O que foi determinante para esta tomada dessa decisão?

Geraldo Luciano - No ano passado, em novembro, a gente anunciou que ocorreria um processo de transição a ser concluído no início de 2019. No começo do ano, houve um pedido da Dona Consuelo para que eu ficasse mais um ano exercendo a minha função na empresa e eu aceitei. Comprometi-me em ficar até o final de novembro. Nós fizemos um novo anúncio ao mercado há dois meses que essa sucessão realmente ocorreria. Já está marcada para dezembro a posse da pessoa que irá me substituir. Acho que foi um ciclo de sucesso. Avalio como muito positivo. Com a ajuda de uma equipe boa, muita gente boa, extraordinária, em especial a família, conseguimos realizar muita coisa. Quando olho a empresa que entrei e a empresa que estou saindo o avanço é extraordinário. Só foi possível porque os que nos antecederam realizaram trabalho espetacular. Não vou nem nominar. Avançamos muito no sentido de ter uma empresa mais profissionalizada, no sentido de definir melhores estratégias de crescimento e tivemos muito sucesso no crescimento inorgânico, ou seja, na aquisição de empresas. Só para dar um dado que é interessante: hoje, 60% do faturamento da empresa vêm de marcas que foram adquiridas. Só os demais 40% de marcas criadas dentro da empresa.

OP - Não fosse a agressividade, vocês seriam infinitamente menores hoje ou até não teriam resistido?

Geraldo Luciano - Isso. Na época, existia uma reação muito grande do Seu Ivens em comprar empresas. Ele conhecia algumas histórias de insucesso de amigos com aquisições de empresas. Eu lembro que toda vez que eu conversava com ele sobre comprar empresas, a primeira reação dele era "olha, comprar não dá certo. Fulano de tal estava muito bem, comprou empresa e quebrou". E ele citava casos reais.

OP - Mas sucessão para o seu cargo será resolvida fora, não é?

Geraldo Luciano - Provavelmente externa. Nós contratamos uma empresa de headhunter de renome internacional que trabalha há 60 dias. Os processos estão avançados e, seguramente, até o final do mês este nome estará definido. No final de novembro a gente faz uma reunião do Conselho para aprovar. Provavelmente no dia 2 de dezembro esta pessoa irá assumir. É mais provável que venha alguém de fora, provavelmente de companhia aberta e com experiência neste tipo de condução. Esta pessoa também vai ser alguém de relações com investidores. Vai conduzir toda a política de comunicação e de interação com o mercado financeiro e de mercado de capitais, nacional e internacional.

OP - O senhor continuará no Conselho da empresa?

Geraldo Luciano – Não. Primeiro, existe um Conselho com mandato em curso. Conselho escolhido que está fazendo um bom trabalho. Não faria o menor sentido tirar um conselheiro para que eu entrasse. Acho que até que nesse primeiro momento a empresa crescerá e amadurecerá ainda mais se eu não ficar. Eu tenho um vínculo com a empresa, que é muito forte. No futuro, quem sabe, vamos ver o que vai acontecer.

OP - A sua saída do grupo é porque o senhor se sente desmotivado com um ciclo que já tem quase 25 anos ou se sente motivado pelo início de um novo ciclo?

Geraldo Luciano – É até bom me reportar a isso porque isso talvez explique o que está acontecendo agora. Em 1995, no campo profissional foi a decisão mais difícil da minha vida. Eu era técnico do Banco do Nordeste, já exercia função de gestão, era chefe de departamento do mercado de capitais. Nomeado pelo recém-empossado Byron Queiroz (presidente na Era FHC). Antes eu estava cedido ao Governo do Estado, era diretor financeiro e de câmbio do BEC (Banco do Estado do Ceará, privatizado na Era Lula) e surgiu essa oportunidade de ter experiência na iniciativa privada. Recordo que na época meus familiares ficaram muito preocupados. Achavam que era um absurdo uma pessoa com futuro garantido, uma boa aposentadoria para receber dentro de pouco tempo, pois já tinha 18 anos no Banco. Faltam só 12. Minha mãe ligou para o Ednilton (Soárez, ex-secretário da Fazenda e sócio no Colégio 7 de Setembro) sobrinho da minha mãe e pediu ajuda: “Olhe, ligue para o Luciano que está louco, vai deixar o Banco do Nordeste”. Lembro-me dessa situação (risos). Mas eu queria um novo desafio. Sou muito grato ao Banco, tive muita experiência, fiz diversos cursos, mestrado fora, no Rio (Coppead). Aprendi muito, acredito que dei uma boa contribuição. Foi excelente entrar no Banco, mas muito bom sair. Agora, quase 25 anos depois, acho que está na hora de encerrar esse ciclo. Acredito que devemos sair das coisas quando está tudo bem. Quando a gente vai a uma festa, qual a melhor hora de sair? Quando a orquestra tá afinada, a cerveja gelada. Se ficar até de manhã, começa a briga. Estamos saindo num momento muito bom. Relação espetacular com a família. Temos um entendimento muito bom. Uma grande admiração por todos eles, mas o melhor que eu poderia dar à empresa eu já dei.

OP - O que o senhor considera que do Seu Ivens a família ainda está aprendendo?

Geraldo Luciano - Acho que a família se preocupa muito, e isso é muito positivo, em manter os princípios e valores que Seu Ivens trouxe para a empresa. A vida de M. Dias Branco se confunde muito com a vida dele. Todos os filhos têm alguma característica positiva dele.

OP - Por exemplo? Fale sobre cada um.

Geraldo Luciano - Por exemplo, o Cláudio: ele é um cara que só entra nas coisas conhecendo muito bem. Ele é muito detalhista. Ele procura ter o conhecimento técnico necessário para ele discutir. E o Seu Ivens era assim. Quando decidiu entrar no mercado de cimento, ele se tornou um expert em cimento. Ele dizia: "ninguém pode enganar a gente. Temos que conhecer o que a gente faz. Mercado hoje não tá mais para amadores". Aí você tem uma Graça que é uma pessoa muito intuitiva. E hoje, na gestão, a intuição é algo respeitado, procurado. Os grandes estudiosos da administração estão valorizando cada vez mais a intuição. E a Graça tem isso, o feeling. O Seu Ivens adorava construção. Você sentava com ele para discutir uma obra e parecia que ele era engenheiro civil com experiência de 30, 40 anos. A Regina tem isso. Ela conhece e gosta de construção. O Marcos é uma pessoa que tem uma veia comercial muito forte e o Seu Ivens tinha isso, embora dissesse que não. O Marcos é um bom negociador. E o Ivens Júnior tem uma visão empreendedora muito boa. Acho que todos eles têm características do pai. Todos eles se preocupam com essa manutenção dos valores do Seu Ivens. Eu saio com uma sensação de que o futuro da empresa é muito bom. E só serei avaliado como bom gestor se essa empresa continuar sempre bem. Você só conhece o gestor quando ele sai da empresa. Se ele sai e a empresa cai, ele não é bom. Não contribuiu para deixar a empresa preparada sem a presença dele.

OP - Como é ser executivo em uma empresa familiar?

Geraldo Luciano - Eu diria que eu vejo de forma muito positiva. Veja quantas empresas de sucesso temos aqui no Ceará. Várias delas que são líderes de seus negócios no Brasil. Empresas que estão crescendo, abrindo capital. A empresa familiar tem alma. Tem mais coração do que uma corporação multinacional. Para mim foi uma experiência muito boa. É claro que você tem uma necessidade de ter um equilíbrio muito maior, em alguns momentos precisa utilizar sua capacidade de negociação, o famoso jogo de cintura para harmonizar melhor as situações. Mas no fundo no fundo a família quer o mesmo que os profissionais. No nosso caso, não temos familiares e profissionais, mas sim profissionais da família e profissionais do mercado, onde o interesse final é fazer a empresa grande. Quando olhamos para trás, vemos que isso foi possível. Claro que tive momentos de divergência com o próprio Seu Ivens. Nossa relação era extraordinária, mas em alguns momentos eu tive uma opinião diferente da dele, e sempre coloquei de forma respeitosa meu ponto de vista. Algumas vezes fui vitorioso, noutras não.

OP - Como o senhor se sentiu na empresa sem o Seu Ivens?

Geraldo Luciano – Confesso a você que no primeiro momento eu fiquei um tanto preocupado.

OP – O senhor pensou em sair?

Geraldo Luciano – Em um primeiro momento, não. Naquele momento, achávamos que ele iria ultrapassar as dificuldades. Nos últimos anos ele teve alguns problemas de saúde, mas a gente não acreditava que iríamos deixar de contar com ele. Aconteceu, de certa forma, rápida. Foi fazer uma cirurgia e não concluiu. Eu senti, da parte da família, uma vontade muito grande de que a gente mantivesse a união em torno da manutenção do legado dele.

OP – Neste instante a família pediu para o senhor continuar?

Geraldo Luciano –Não houve pedido para continuar porque também não houve solicitação minha de sair. Lembro que a gente estava no velório dele, em São Paulo, num sábado de manhã, e disse que a área de Recursos Humanos estava perguntando se a gente vai considerar segunda-feira feriado. Um dos filhos disse: não. A melhor homenagem que podemos fazer a ele é fazer a nossa reunião de toda segunda-feira e, se possível, começando ainda mais cedo. Eu gostei muito daquilo ali. Vi que realmente tinha uma vontade Em uma conversa que tive em um grupo de liderança, eu sempre ressaltei que o seu Ivens não estava deixando um sucessor, mas estava deixando 16 mil sucessores, o número de funcionários à época de sua morte, em 2016. E tivemos em 2016 (ano da morte dele) e 2017 os melhores resultados da história da empresa. Agora, já quase quatro anos da morte dele, se eu tivesse saído naquela hora não seria legal nem para mim e nem para a empresa. O mercado ficou um tanto cético e acabamos fazendo a maior aquisição da história depois da morte dele, que foi a Piraquê (no Rio de janeiro), por R$ 1,550 bilhão, em maio do ano passado.

OP - Na história recente do Ceará temos dois grupos cuja força das viúvas foi determinante para a unidade e para o crescimento. Grupo Edson Queiroz, com Dona Yolanda, e a Dona Consuelo, viúva do Seu Ivens. Como o senhor definiria a força de Dona Consuelo dentro do grupo?

Geraldo Luciano - Muito importante a presença dela. As situações são um pouco diferentes, porque, como você bem sabe, a Dona Yolanda ficou viúva muito jovem. E teve que ir lá pra dentro da empresa, no dia-a-dia, e realmente tomou decisões difíceis que garantiram que o grupo continuasse sendo um grande grupo com história muito bonita. Dona Consuelo sempre esteve ao lado de seu Ivens. Ela nunca teve um papel de protagonismo enquanto ele era vivo, embora sempre tenha participado das reuniões de Conselho, ouvindo. Mas, sem dúvida alguma, depois do falecimento dele ela teve papel preponderante. Ela exerce uma liderança muito forte sobre os filhos e acompanha o que acontece na empresa, não no nível dos detalhes. Durante o intervalo de quatro anos da morte de seu Ivens, eu diria que o papel dela foi essencial.

OP - Durante a sua gestão, o senhor chegou a ser procurado para trabalhar em outras empresas?

Geraldo Luciano – Sim, em alguns momentos, eu tive conversas. Isso é normal, ocorre com todo executivo. Mas a minha relação com Seu Ivens e o meu desejo de realizar as coisas ali sempre foram grande fatores impeditivos.

OP - Também é muito recorrente circular no mercado que grandes multinacionais tentam adquirir o controle de M. Dias Branco. Isso ocorreu muito?

Geraldo Luciano – Sim, é um grande ativo, uma empresa que tem 36% do mercado de massas e biscoitos no Brasil, líder disparado. Tem fábricas muito bem montadas. Utiliza tecnologias que são estado da arte no mundo. Marcas muito fortes regionalmente. Boa distribuição. É uma empresa muito bem posicionada em nível de Brasil.

OP – Em algum momento chegou bem perto de bater o martelo, tipo indo dormir achando que no dia seguinte iria assinar a venda?

Geraldo Luciano – Sim. Sim. Bem perto. Não assinar, mas ir dormir achando que estaria perto de assinar (risos). Isso aconteceu no passado, mas a família gosta muito da empresa, do que faz, e entendeu que não era o momento adequado para se desfazer do ativo.

OP - O senhor sai do grupo para ser candidato a prefeito pelo Novo?

Geraldo Luciano - Eu sempre tenho dito e é verdade. Quero concluir essa minha etapa e faltam poucos dias para que eu possa tomar uma decisão. Eu gosto da política. Se você me perguntasse se eu gostaria de ser prefeito de Fortaleza a resposta é que sim. Agora essa decisão é difícil. Tão difícil quanto aquela de 1995, quando eu deixei um emprego público para aventurar na iniciativa privada. Temos feito o trabalho de tornar o Novo mais conhecido em Fortaleza. Isso foi um pedido feito no ano passado pelo próprio João Amoedo (presidente do partido e candidato derrotado à Presidência em 2018), que conheço há bastante tempo. Somos amigos. Tivemos um relacionamento até antes de criar o partido. Óbvio que existe essa cogitação, mas estou em um processo final de avaliação para tomada de uma decisão que tenho de tomar até dezembro, pois em 2020 tenho de entrar em algum projeto novo. Ou da área pública ou privada. Eu que trabalho desde os 14 anos de idade (18 anos no BNB e 24,5 anos em M. Dias Branco), não posso parar.

OP - Quais são os pesos que estão nessa balança que o senhor ora estuda para decidir?

Geraldo Luciano - Posso considerar que tenho uma carreira de relativo sucesso na área privada. E digo fizemos porque foi muita gente me ajudando. Talvez eu tenha sido só um centroavante que bateu o pênalti. Tinha um bom goleiro, uma boa zaga, bons volantes e eu só o centroavante batendo pênalti e dando entrevista. Tenho que reconhecer muita gente que antecedeu e fez comigo tudo isso. Eu teria condições de fazer trabalhos semelhantes em outras empresas como executivo tranquilamente. Ainda sou uma pessoa jovem, para os padrões de hoje (56). Poderia trabalhar com consultorias e prestando serviços a empresa na área de governança.

OP - Participar de conselhos?

Geraldo Luciano – Também. Participo hoje. Hoje já no conselho do Hapvida e da Portobello (líder em revestimentos cerâmicos no País). Até porque não dá tempo. No Hapvida, por exemplo, participei desde a decisão de abrir o capital da empresa, com a família, que é outro caso de sucesso. O próprio Ari Neto (sócio da Arco Educação, com ações listadas na Nasdaq). Eu ia lá conversar com executivos, dar palestra, embora não tenha tido participação mais direta.

OP – O senhor tem noção do quanto o setor privado é diferente da área pública?

Geraldo Luciano – Eu tenho muita coisa para fazer na área pública e tenho esta vontade de aproveitar minha experiência. Eu sei que a gestão pública e privada é bem diferente. Você tem aí a questão social que tem que ser levada em consideração. Mas há muita coisa da gestão pública que deve ser feita semelhante à gestão privada. A meritocracia, o planejamento, a cobrança de resultados, a equipe realmente competente, enxuta. Eu gosto da política, tive no passado oportunidades de ter uma participação na área pública e estou avaliando isto agora.

OP – Era um convite para ser secretário no Governo Cid Gomes.

Geraldo Luciano – Foi mais de um governo. Eu preferia não citar.

 OP – O senhor esteve bem perto de aceitar, não foi? O senhor deixaria o Grupo antes de fechar este ciclo de quase 25 anos agora movido por um desejo de ir para a área pública?

Geraldo Luciano – Sim. Estive. Movido pelo desejo de dar uma contribuição á área pública.

OP – O senhor se sente atraído necessariamente para um cargo executivo? Legislativo nem pensar?

Geraldo Luciano – Eu não diria para você que está totalmente fora. Na vida da gente não se deve descartar nenhum projeto. A gente deve levar em consideração. Agora eu me vejo mais como alguém para executar do que para ficar propondo, discutindo...Isto é muito importante. O legislativo tem função importantíssima no jogo democrático. Mas meu perfil a vida inteira foi isso. No Banco do Nordeste, no M. Dias Branco.

OP - Eu gostaria que o senhor fosse mais direto sobre o que hoje pesa mais na sua decisão de sair ou não candidato.

Geraldo Luciano - Eu vou lhe dizer. A gente não pode entrar em aventuras. Eu sei que tenho um grande propósito nessa tentativa de ser prefeito de Fortaleza. Mas as pessoas não me conhecem, não sabem quem eu sou e nem têm obrigação de saber. Eu sou conhecido por uma parcela muito pequena de Fortaleza. E Fortaleza é muito grande. Não quero entrar em uma aventura. Claro, não existe eleição que você entre sabendo que vai ganhar, mas também não quero entrar em algo que a gente não vislumbre a menor possibilidade de ganhar. Quero entrar para ganhar. Entrar para ter a possibilidade de ganhar. Estamos avaliando isso, tem um grupo do partido Novo que está muito empolgado com este projeto. Nomes que querem entrar para a política, para a Câmara Municipal. Nomes bons para ajudar no processo de renovação. Temos conversado muito. Temos pouco tempo para tomar esta decisão e ela tem que ser tomada no máximo até a primeira quinzena de dezembro

OP - O senhor foi convidado para ser vice-prefeito do potencial candidato capitão Wagner. Por que o senhor disse não?

Geraldo Luciano - Eu tenho conversado muito com o capitão Wagner. Na realidade posso dizer pra você que eu nem disse não e nem disse sim. Temos um grande amigo em comum, que é o senador Luís Eduardo Girão (Podemos), que participou de algumas conversas. Estamos juntos até pela militância tricolor que nós temos (ambos torcem pelo Fortaleza Esporte Clube). Temos uma boa relação e diria, para ser muito honesto, nem um convite dele e nem uma recusa. O que nós temos é conversado para avaliar o cenário. Temos nos encontrado já algumas vezes e acho que essas conversas fazem parte da política.

OP - O partido Novo chega com um discurso de eficiência e o senhor até passou por um processo seletivo para ser pré-candidato. Como essa, digamos, pureza, dialoga com a vida real da política?

Geraldo Luciano - Excelente seu ponto. E talvez seja este um dos meus principais questionamentos. O partido é muito rígido e não pode ser diferente, porque está querendo ir ao encontro do que a sociedade quer. Mas precisamos ver se o momento é realmente esse.

OP - Como assim?

Geraldo Luciano - O momento para que as pessoas entendam isso. Você às vezes tem uma diferença entre o discurso e a prática até do eleitor. Você vai fazer uma pesquisa e você pergunta o que ele quer. Ele quer um partido que venha para reduzir a máquina, para colocar os mais competentes, que venha reduzir carga fiscal, reduzir despesas públicas, mas algumas dessas pessoas querem o emprego publico, querem a vantagem. Querem a isenção fiscal no discurso, mas aí vão pedir a isenção. Essa mudança cultural a gente precisa entender para ver se o momento é favorável. Algumas coisas o partido vai mudar.

OP - De que modo?

Geraldo Luciano - Eu sempre uso essa expressão: treino é treino, jogo é jogo. O Novo agora é poder - agora tem o Governo de Minas. O próprio Zema (Romeu, governador mineiro) ele já deu entrevista em que algumas coisas que ele dizia na campanha hoje ele não diria. E não tem nenhum demérito nisso. Eu gosto da transparência como ele fala.

OP - Fazer isso depois de ser eleito não soa desonesto?

Geraldo Luciano - Mas todos os candidatos, e não é por má-fé, não conhecem a realidade do que vão encontrar lá. O Zema, por mais que tivesse dados sobre Minas, encontrou a situação muito pior do que ele conhecia. Muito esqueleto escondido. Três meses depois de governador foi que ele conheceu a realidade. E está fazendo bom trabalho. Está sendo aprovado pela população. As pesquisas mostram. Economia melhorando, geração de emprego é uma das melhores do País. Está pagando compromissos antigos. O partido está vivendo isso e vai mudar em algumas coisas.

OP - No que o Novo vai mudar?

Geraldo Luciano - Vou te dar um exemplo agora, concreto. Até então, você quando assumia um mandato tinha que ir até o final. Agora você já tem uma flexibilidade. No segundo mandato, você pode, desde que anuncie na campanha que poderá deixar antes do fim, está autorizado pelo partido a sair. Não está flexibilizando princípios e valores. Ele não pode mudar na essência, senão vira um partido como qualquer outro.

OP - O sucesso ou fracasso do governo de Romeu Zema pode ser determinante para a campanha do ano que vem na Prefeitura?

Geraldo Luciano - Eu acho que não. É muito cedo. Zema pegou o estado em uma situação tão deplorável que qualquer coisa que ele faça está melhorando. Tanto que mais uma vez: peço que as pessoas vejam pesquisas de opinião que mostram os índices de aprovações do governo. Outra coisa, até o próximo ano é pouco tempo ainda. Menos de dois anos. Talvez se o Governo de Minas for um fracasso nos quatro anos, que eu tenho certeza de que não será, nas próximas eleições o Novo poderia ser apenado por isso por isso. Mas acho que o impacto até 2020 será diminuto e creio que será positivo.

OP - O senhor foi aprovado em seleção interna para ser candidato pelo Novo como prefeito de Fortaleza. O partido já reprovou alguém?

Geraldo Luciano - Nós não podemos divulgar os nomes, porque tem cláusula de sigilo, mas foram cinco candidatos. É um funil grande para a seleção, tanto que, até o momento, só há oito ou dez cidades com nomes definidos e candidatos em todas elas.

OP - Recentemente, houve um desgaste público entre o ministro do Meio-Ambiente Ricardo Salles e o presidente do Novo, João Amoêdo. Salles foi muito duto e tratou Amoêdo como um coronel. Como o senhor viu essa disputa e o que significa o Novo ter um ministro ocupado no governo Bolsonaro?

Geraldo Luciano - Tudo que você leva da porta para fora que poderia ser feita de outra forma é negativo. Isto tudo teria sido resolvido se o ministro ao receber o convite ministerial tivesse ido ao Partido e dito: olha, recebi o convite, tenho interesse em exercer essa função. Tirava uma licença, depois volta e pronto. Teria resolvido toda a polêmica. Não existiria nada. Ele não ter feito isso foi um erro. Talvez o momento em que o partido tomou medidas em relação a ele também não tenha sido adequado, foi um momento de fragilidade dele. Veja bem. Numa empresa privada se eu vou demitir alguém esta pessoa acabou de perder a mãe, eu não posso demitir essa pessoa. Não é justo, não é ético. Eu espero o melhor momento. Acho que uma boa conversa teria resolvido todos os problemas. Acho que o Partido Novo é Governo, embora apoie muitas medidas do Governo. Nós estamos vivendo uma sociedade que é complicada. As pessoas pegam determinado fato e momento e dizem que o Partido Novo é Bolsonaro. O partido é favorável a tudo o que Bolsonaro quiser fazer para melhorar a economia. Até porque ele considera que a prioridade do País são os temas econômicos. Por quê? Porque a prioridade é resolver o problema dos 12 milhões de desempregados e tatos outros milhões de subempregados. Para isso é importante resolver a economia.

OP - O senhor não é um nome popular, o Novo é um partido de classe média para cima, formado por jovens, executivos. Não é popular também. E o senhor precisa do voto de todas as classes. Como o Novo pretende meter o pé na lama e sair do circuito Aldeota-Meireles?

Geraldo Luciano - Temos procurado conhecer a realidade de Fortaleza. Ainda grupos muito pequenos que têm ido à periferia reunir empreendedores e atuando em pequenos movimentos sociais. Ainda não temos nenhuma estrutura comparável aos partidos grandes e tradicionais. Não temos nem recursos financeiros, porque não queremos usar nem o fundo partidário e nem o fundo eleitoral. São verbas expressivas. Nem aprovamos lei ainda para devolver. Sabemos dessa dificuldade. Obviamente, se nossa decisão for no sentido de levar á frente esse projeto, teremos que ter uma estrutura mínima para levar a mensagem e esta possibilidade desse projeto à sociedade.

OP - Colocar-se como homem público significa pôr a vida privada em exposição? O senhor se sente preparado para isso e já experimenta os efeitos desse movimento por ser pré-candidato?

Geraldo Luciano - Excelente. Infelizmente, vivemos em um momento onde não se quer discutir as ideias. Ou pouco se valorizam as ideias. Imagina uma campanha com cinco, seis, 10 nomes que se oferecessem para discutir os problemas, os projetos. Como governar, como ter a máquina eficiente, como definir melhor as prioridades, ante recursos escassos. O ideal seria isso. Mas não. Essas questões pessoais machucam muito. Porém, eu tenho uma vida 42 anos na iniciativa privada e na área pública e será impossível alguém encontrar algo. 'Ah, teve um dia no Banco do Nordeste que ele levou pra casa uma garrafa d´água'. É uma vida limpa. Não vão ter o que dizer.

OP - Como o senhor já comentou antes, esteve perto de ir para o setor público e desistiu. Um possível recuo seu agora não seria extremamente desgastante?

Geraldo Luciano - Sem dúvida alguma, recuo agora seria ruim se eu pretendesse voltar depois. Cada um desses momentos teve razões específicas. Um dos convites que mencionei na entrevista, eu realmente quase saía de M. Dias Branco. Cheguei a conversar com o seu Ivens em um sábado à tarde. Disse para ele que eu tinha muita vontade de dar essa contribuição na área pública. Que para mim dinheiro não era tudo. Financeiramente eu tenho uma vida razoavelmente organizada. Não é que eu ganhe muito, mas é que eu gasto pouco. Meu lazer é só ingresso para o jogo do Fortaleza (risos). Para a gente ir sofrer. Eu não assimilei ainda aquele gol que a gente tomou sábado (no jogo contra o Atlético Mineiro, aos 41 minutos do segundo tempo). Conversei com ele. Ele realmente triste. Ele disse: você toma sua decisão. Você resolve. Vou saber entender. Na época, teve o contato dessa pessoa que convidou com ele. Depois eu pensando, minha relação com ele, coisas que ainda tinha pra fazer na empresa... No dia seguinte, domingo, ligo para ele. Nunca esqueço essa conversa: Seu Ivens, se eu dissesse para o senhor que eu não vou mais aceitar o convite, o que você me diria? E eu preocupado que ele dissesse "Agora vá!" (risos). E ele respondeu: eu diria para você que ontem foi um dia triste na minha vida, e hoje um dos mais alegres. Não quero colocar nele a culpa por uma hesitação minha. Mas era muito difícil, pela relação, pela proximidade. Mas respondendo objetivamente à sua pergunta, se eu não entrar em um projeto agora gerará desgaste sem dúvida nenhuma. Por mais que existam explicações e motivos, haverá que tornará mais difícil uma volta em outro momento.

OP - Considerando que o senhor seja candidato, o que o senhor pretende levar como eixo principal do seu discurso para uma cidade que não o conhece e que, provavelmente, o vê como alguém vinculado aos interesses privados e não a uma pauta social?

Geraldo Luciano – Primeiro nós temos de nos tornar conhecidos. Se eu for para este projeto, vou ter que conversar com as pessoas, mostrar quem era o Geraldo Luciano até na iniciativa privada. A gente tem muitas coisas para mostrar. Claro, nada é mérito meu, e sim de muitas pessoas. O empresário gosta de pedir ao Governo. Isso é da tradição. O Governo é que tem que avaliar onde é o interesse público vai ser atendido. Exemplo: o Grupo M. Dias Branco, e não é segredo, tem muito terreno ali na zona da Praia do Futuro. Em outros momentos, o que se faz? Vamos ao Governo pedir para o Governo melhorar a segurança. Esta é a velha prática empresarial. Mas que tipo de coisa a gente começou a adotar lá? Seu Ivens, vamos ao Governo dar a nossa contribuição e pedir que o Governo melhore. Nós fomos lá e fizemos investimento naquele batalhão lá (Batalhão de Choque) de R$ 20 milhões, entre terreno e obra. A gente primeiro dá para depois pedir. E tem vários outros exemplos na nossa história em M. Dias Branco. Acho que a gente tem de ter máquina pública com gestão muito eficiente. Eu até abro parêntese. Quando as gestões, de modo geral, dizem que reduzir cinco secretarias não vale nada. Alegam que o custo não vale nada. Mas é importante que a gente saiba que a questão não é de custo, mas de eficiência. E eficiência é melhor retono de serviço público para a sociedade. A mensagem que gostaria de passar é: ter uma máquina pública eficiente para prestar serviços públicos de melhor qualidade, definir melhor os as prioridades dos investimentos, as obras que começarem terminarem. Porque não há nada pior do que uma obra inacabada. Aí é perda mesmo. Prejuízo. É um conjunto de coisas que pretendemos levar com uma equipe competente, que valorizem o servidor público. O servidor precisa ganhar bem, mas também precisa ser mais cobrado. Precisa ter metas. Com essas metas, ter remuneração variável. Quem trabalha mais ganha mais, como é na iniciativa privada. É a mesma coisa público e privado? Claro que não. Um tem como finalidade o lucro e o outro atender as demandas sociais. Mas os meios para atingir têm semelhança muito grande. O que se gostaria de levar é esta experiência.


53 MINUTOS

QUASE UMA HORA

A entrevista foi realizada na sede do O POVO, na manhã de terça-feira passada, 5. Geraldo perguntara antes onde o repórter preferia. No jornal ou na fábrica de margarina, no Mucuripe

 

ACESSÍVEL

ALÔ, GERALDO? Ao contrário do comportamento usual de altos executivos do setor privado, Geraldo é uma fonte acessível nas redações. É comum os repórteres terem seu número de celular

 

HEADHUNTER

O SUCESSOR O grupo contratou uma empresa de recrutamento de executivos para definir o sucessor de Geraldo. Já trabalha há 60 dias.

 

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