Uma década no poder. Uma trajetória dedicada ao futebol cearense. Conquistas, decepções, experiência de quase morte e bastidores do mundo da bola, desde a crise de corrupção na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ao coronelismo no esporte.
No poder desde 2009, o presidente da Federação Cearense de Futebol (FCF), Mauro Carmélio, 57 anos, recebeu O POVO na sede da instituição para uma entrevista de cerca de 60 minutos. Não se esquivou de nenhuma pergunta. Respondeu tudo de forma tranquila e com bom humor.
Negou ser um "coronel da bola", termo usado como crítica a dirigentes muitos anos no poder. Revelou ser contra o atual calendário da Copa do Nordeste, que afeta as datas do Campeonato Cearense, os valores de faturamento da FCF, as possibilidades de transmissão via streaming do Estadual e as ações da Federação para valorizar o futebol local.
O POVO - Como foi a entrada do senhor na Federação Cearense de Futebol?
Mauro Carmélio - Olha, (a históra) é meio comprida. A minha família é toda dentro do futebol já. Há muito tempo. Eu era pequeno, em meados de 1968, 1969, com seis, sete anos, eu já sabia o que era futebol. Nasci em Fortaleza. Meu tio e meu pai já eram ligados ao futebol, dentro do Fortaleza. Um médico na época, meu pai, e meu tio era dirigente, acompanhando o clube e tudo. E é aquela coisa, tu ser filho mais velho e o sobrinho que gostava do futebol, eu já acompanhava a estrutura. Dentro dessa condição, depois, meu tio passou a ser o representante do Fortaleza dentro da Federação, eu me tornei gandula, passei acho que um ano mais ou menos como gandula. Dentro da Federação, eu comecei em torno de 1989, 1990, já na condição de advogado, conversando, mostrando e vendo toda a estrutura da Federação. Quando meu tio faleceu, o Fares Lopes, foi uma ascensão natural para ser vice-presidente.
OP - O senhor não pensou em ser jogador também não?
Mauro Carmélio - Sim, eu tentei ser jogador. Até atuei pelo Fortaleza, na época do Jurandir (Júnior), que era um grande baluarte com a base do Fortaleza. Fui lateral-esquerdo, sou canhoto. Fui ponta-esquerda também. Mas o Jurandir falou: "Ô gordinho, vai estudar que é mais futuro. É tanto que eu fui reserva muito tempo do Dudé, infelizmente já faleceu, foi um dos grandes jogadores na esquerda, foi lateral-esquerdo no período de 1978, 1979, por aí. Com o Dudé eu sempre brincava: 'Rapaz, vou ser teu reserva, me dá oportunidade, porque a bola é minha. Eu sempre tinha oportunidades, entrava em jogos e tudo. Mas não cheguei nem a ser profissional. Fiquei como juvenil. Naquela época a nomenclatura era dente de leite, juvenil, fraldinha. Mas aí aquela sugestão de 'vai estudar, que é mais futuro, vai ser cartola de futebol'. Por conta disso, eu tenho amizade com os jogadores daquela época e tudo.
OP - O senhor entende que sua maior paixão, sua maior motivação, é o futebol, estar nessa área como cartola?
Mauro Carmélio - Eu estou dentro do futebol porque gosto. A minha alegria maior é ver a alegria de todos os dirigentes de futebol. É ter a condição, hoje, de olhar com orgulho nossa gestão, de 10 clubes na primeira divisão (cearense), sete em competições nacionais. Dos sete clubes, três já foram campeões brasileiros (Guarany de Sobral, Ferroviário e Fortaleza). Isso dá uma alegria tão grande. Hoje nós temos dois campeões do Nordeste, Ceará e Fortaleza.
O POVO - Na sua opinião, como a Federação influenciou nesse momento do futebol cearense?
Mauro Carmélio - Eu entendo de grande importância, mas sem vaidade. Porque o que eu acho importante são os dirigentes dos clubes. Eles que estão na frente, eles que estão dirigindo. Mas o trabalho que a Federação faz, percentualmente, não sei, se tivemos mais importância, menos importância. Mas nós fazemos a base, o alicerce para esses clubes se fortalecerem. A parte da Federação é o trabalho de bastidores.
OP - A CBF passou por escândalos de corrupção na última década. Como foi essa transição, como a FCF, em sua gestão, se adaptou a tanta crise na Confederação?
Mauro Carmélio - Eu participei in loco de todos os problemas e hoje, eu posso dizer: a CBF está bem entregue, com novas direções, com novos pensamentos, novas diretrizes. Mas nós passamos por uma crise grande e é reconhecido por todo mundo. Nós passamos por problemas seríssimos, até de índole. Hoje pode-se dizer que o futebol brasileiro tem credibilidade. Mas passamos por uma situação muito difícil, que não vale nem a pena estar relembrando, porque o torcedor sabe. Os esportistas todos sabem o que passou.
Mas hoje há uma tranquilidade. Eu passei por todos os momentos, desde o primeiro escândalo que estourou até o último também. Isso eu posso dizer a você: tem um ensinamento, criou calo, doeu, mas veio como ensinamento para a gente, até mesmo para dirigir o futebol cearense. Porque hoje nós somos uma das federações que chamam atenção em trabalho e em organização. Mas hoje apresentamos todo o trabalho que é feito dentro da CBF.
OP- Quais foram os ensinamentos durante esse momento de turbulência na CBF?
Mauro Carmélio - Organização e trabalhar com intensidade por credibilidade, e hoje eu tenho, graças a Deus. Credibilidade muito grande com meus clubes, com minhas ligas e com algumas pessoas que têm interesse em vir na Federação conhecer. É a marca maior do futebol cearense, credibilidade.
OP - Sobre a CBF ainda, foram três presidentes afastados em sete anos, o José Maria Marín, o Ricardo Teixeira e o Marco Polo Del Nero. Hoje, quem está no cargo é o Rogério Caboclo. Muito se falou da credibilidade da CBF, que estava em dúvida, com todos esses escândalos. Hoje o senhor pode afirmar que ela é uma instituição confiável?
Mauro Carmélio - Hoje sim, mas sempre trabalhando, sempre dando essa condição. Por conta do que passou, não pode se cansar desse sonho. Ela sempre tem que estar demonstrando, trabalhando nessa função, por conta da importância que é hoje o futebol brasileiro, dentro até mesmo da estrutura nacional. Quem conhece o futebol, sabe da força que ele tem dentro do nosso país, e isso tem que ser pensado. É o que nós pensamos para o futebol cearense, porque não é fácil a gente ter a condição de levar milhares de torcedores para os nossos estádios, como é o Castelão, e ter a credibilidade daquele torcedor que está dentro do futebol, que está vendo o trabalho que está sendo feito pelo Marcelo (Paz, presidente do Fortaleza), pelo Robinson (de Castro, presidente do Ceará), e trazer espetáculos para o resto da nação. E é isso que o futebol brasileiro está tentando também. Um trabalho de credibilidade contínua.
OP - Nesse período de escândalos, algumas federações quiseram se rebelar contra a CBF. O que lhe levou a manter um apoio à CBF?
Mauro Carmélio - Acreditar no que está sendo realizado. Acreditar nesse novo futebol brasileiro. E continuo acreditando, que o futebol brasileiro hoje vai estar mudando, dentro dos padrões que foram determinados pela Fifa. É isso que tem que ser feito e ser trabalhado.
Aqui, muitas vezes, eu chego duas, três horas da tarde, e só saio oito, nove horas da noite, mas despacho com todo mundo que está querendo conversar comigo. Despacho com todos os meus diretores, meus assessores, meus gerentes, que precisam ter uma organização. E é isso a dedicação e a organização que é feita. A gente brinca m uito aqui que em 24 horas a gente trabalhou 30. Porque além das 24 horas, ainda tem mais seis horas, que nós temos que trabalhar naquele dia, e foi feito.
OP - Fortaleza não foi escolhida como uma das sedes para as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, apesar de ter sediado vários jogos da seleção na década. O que isso representa?
Mauro Carmélio - Não me surpreende, não me decepciona, porque há a necessidade. Nós temos 27 estados, talvez 10 ou 12 tenham condição. Mas não podemos sempre ter a condição de que teremos sempre os jogos das Eliminatórias. Havia uma segurança, uma certeza de que teria. Do mesmo jeito que a decepção do governador (Camilo) ao menor cargo que existe no nosso Estado, há para a gente que faz o futebol, porque nós esperávamos que a CBF desse essa condição de presentear, vamos dizer assim, com esse jogo. Não veio. Mas isso vai desmotivar a gente? Não. Porque nós vamos mostrar mais ainda à CBF que nós temos condição de receber, pela parte esportiva, pela vontade do torcedor de receber. Vocês viram há pouco tempo (Brasil x Itália de Masters). Nós fizemos um jogo, em um estádio minúsculo, o PV, diante da nossa principal sala de visita, que é o Castelão. O carinho com que ela foi recebida, o trabalho que foi feito, ela tem conhecimento, ela sabe anteriormente o que é jogo da seleção aqui no nosso Estado.
Se não foi escolhido, tem que haver uma razão. E qual foi? Não sei ainda. Não recebi ainda ligação do presidente, não recebi ainda nenhuma informação. Tem males que vêm para bem. De repente, temos grandes espetáculos amanhã e todo mundo fica feliz.
OP - O senhor considera que o Ceará, atualmente, no Nordeste, é o estado mais proeminente em questão de estrutura para receber grandes eventos?
Mauro Carmélio - Pode ter certeza que nosso estado sempre será privilegiado em outras situações. Talvez houve um interesse diferente do que foi programado. Mas vamos aguardar. Eu não gosto de estar comentando uma situação de que não sabemos ainda. A Copa do Mundo, há seis anos, teve Natal como sede. Natal faz muito tempo que não tem nada. "Ah, mas o futebol lá está ruim, ABC e América-RN". Nós temos Fortaleza e Ceará na Série A. Eu acho que nós tínhamos um pontinho a mais para ter essa condição. Infelizmente não foi visto isso daí.
OP - Mauro, o senhor está no cargo desde 2009. O que isso significa para você?
Mauro Carmélio - Mais responsabilidade ainda. Agora, de quê? Se chegar para mim: "Mauro, o seu pensamento em dezembro de 2009 é o mesmo de hoje?" Não. Porque eu evolui. Porque senão eu não estaria ainda aqui. O futebol brasileiro está mudando dia a dia, hora em hora. Estou todo tempo estudando, todo tempo analisando, todo tempo vendo. Porque nada que eu possa disser — claro, experiência é importante — mas conhecimento é muito mais importante. Muita coisa mudou.
Eu recebi a Federação — não menosprezando as gestões passadas, mas pela época, não sei se era tão importante —, com dois computadores. Um do rapaz que fazia a tabela, para poder mandar para a CBF, e outro era meu notebook, que eu levava e voltava para casa. Hoje, toda a Federação está informatizada. Totalmente. E foi uma das primeiras. Hoje, todos os jogos têm súmulas eletrônicas. Pouquíssimas federações trabalham com isso daí. E eu trabalho da base até o campeonato principal. Quando eu assumi, havia uma copa sub-18 e o campeonato sub-20. E só. Hoje eu tenho sub-13, sub-15, sub-17, sub-20, feminino sub-18, feminino sub-20, feminino adulto, tenho a Taça Fares Lopes, tenho campeonato master, duas competições, com quarentões e cinquentões, tenho competições das regionais.
Todos têm campeonatos, porque quando eu assumi a Federação tinha 118 ligas, nós temos 184 municípios. Eu pensei: "Eu posso dar conta de 118?" Não posso. É melhor reduzir, e criei várias exigências, e só tenho hoje 28 ligas filiadas à Federação. E a essas 28 nós damos plena assistência. Se você chegar: "Ô Mauro, a liga de Ibicuitinga, qual o problema que está tendo lá?" É assim e assim. Qual o campeonato que está tendo na liga de Quiterianópolis, que é uma filiada bem organiza? Eu sei o que está acontecendo.
OP - Nesse período de dez anos, você pode elencar quais são as principais conquistas?
Mauro Carmélio - Eu não digo a principal conquista não, eu digo todas. Eu vibro por cada coisa que eu faço, cada situação que foi criada, cada momento que foi criado. Ou no campo de futebol, ou em um simples documento que a gente determinou. É aquela situação: eu não me desmotivo em nenhum momento. Fiz, conquistei, aconteceu? É passado. Vamos para outro momento. Eu não posso elencar, porque eu posso ser injusto.
O pessoal brinca muito, pode ser Ceará, Fortaleza, Ferroviário, Icasa, Calouros, América-CE. Para mim tudo é importante, porque para mim tudo é filho. Às vezes uns filhos mais queridos, dentro da condição de dar uma maior sustentação à Federação, ou seja, os clubes da Série A, os do Cearense, os dez, ou pode ser os clubes da Série C, ou só aquele clube que só trabalho o sub-13, é importante também.
OP - Há uma crítica a dirigentes que ficam muito tempo no poder, chamam de coronelismo no futebol, coronéis da bola. O que senhor acha disso?
Mauro Carmélio - Se o presidente da Federação estiver nela só por ser presidente, sim, eu sou contra. Mas aquele presidente que sempre tiver condição de liderança com seus clubes, que seus clubes tenham a credibilidade com ele, acreditar no trabalho dele, ter a condição deles se organizarem, de trabalhar e, principalmente, se modernizar, eu acho que não pode se dizer que é coronelismo. Porque mudar por mudar, não adianta. A pessoa que tem que assumir em um momento um cargo, qualquer cargo que exista, ele tem que estar preparado para isso. Eu fui preparado. E me modernizei. E acompanhei as mudanças do futebol brasileiro.
OP - Você falou na última eleição que não queria seguir na FCF. O que motivou o senhor a continuar?
Mauro Carmélio - O querer dos clubes. Aquela situação de confiança. "Presidente, vai sair por quê?". No dia que os clubes não acreditarem mais no meu trabalho, eu vou sair com todo prazer e feliz com o que realizei.
OP - Em 2021, pensa em reeleição ou pensa em indicar alguém?
Mauro Carmélio - Não sei. Não tenho esse pensamento ainda. Sou muito de momento, não sou muito de pensar, sonhar no que vai acontecer. Vou conversar com os principais clubes no momento para ver o que eles acham. Mas meu foco é 2020. Fazer bons campeonatos. Tanto faz Série A, Fares Lopes, sub-13. Pra mim é igual. Depois trabalhar incansavelmente para que meus dois clubes permaneçam na Série A, para que o Ferroviário tenha condições de ir para uma Série B, para os meus clubes na Série D irem para uma Série C. Esse é o meu trabalho, minha motivação do momento.
OP - Se o senhor saísse da FCF já teria cargo garantido na CBF?
Mauro Carmélio - Não, de maneira alguma. Não existe isso.
OP - Mas há intenção?
Mauro Carmélio - Olha, morar no Rio (de Janeiro) é meio ruim, né? Você passear, ir trabalhar. O que faço muito é ir e voltar. Pego voo de madrugada, resolvo tudo. E no fim do dia pego minha mochila e vou embora. Não fico nem pra curtir, nem passear.
O POVO - No cargo de dirigentes de clubes há pressão muito grande. No cargo de presidente da FCF também tem a mesma pressão?
Mauro Carmélio - Muitos momentos, o salvo-conduto deles é a federação. A culpa é da federação. Se o árbitro está errando, o culpado não é a federação. Muitos erros, tento acreditar, são erros humanos. Mas a federação tem culpa? Acho que é muita estendida a responsabilidade. Mas entendo aquele momento de raiva. Quem trabalha na Federação precisa ser frio. Dirigente de clube é emotivo, é torcedor, tem massa de torcedores para justificar seus trabalhos. E muitas vezes, quando tem essa necessidade, esbraveja em cima de uma federação.
OP - Mauro, o senhor é torcedor do Fortaleza. Isso atrapalhou em algum momento?
Mauro Carmélio - No começo, para os dirigentes do Ceará acreditarem na nossa seriedade foi difícil. 2010, 2011, tive momentos muito ruins com Evandro Leitão. Hoje é um dos meus melhores amigos. Ele diz em qualquer canto hoje que errou em sua linha de pensamento. Se for comparativo, o Ceará tem mais títulos na minha gestão do que o Fortaleza.
OP - Quais foram as maiores dificuldades neste período de dez anos?
Mauro Carmélio - Todo dia há problemas, dificuldades. Eu não tenho maior ou menor. Todos são iguais. Minha esposa diz que é mérito meu. Não sossego enquanto não resolvo. Tenho probleminha de ansiedade. Martirizo muito pra resolver. Nunca deixo para resolver amanhã. A não ser que seja momento de emoção. Muitas vezes, dirigente chega aqui emotivo, se lamentando por ser um torcedor também. Eu digo calma, vamos resolver.
O POVO - Já teve algum problema mais grave com algum dirigente?
Mauro Carmélio - Só com Evandro Leitão. Tivemos uns arranca-rabos. Hoje, não mais. Outra coisa, aqui dentro dessa sala, fica aqui. Os problemas não saem desta sala. O que entra a gente resolve.
OP - Como é o funcionamento da instituição quanto à arrecadação, repasse da CBF?
Mauro Carmélio - Faço questão de não receber verba municipal, estadual ou federal. Os clubes recebem. A Federação arrecada percentuais de boletim financeiro dos clubes, em cada jogo. Temos R$ 85 mil de repasse da CBF. Esse valor representa o pagamento de toda a folha. Tem jogo de clube que dá R$ 2 mil, isso está no site da Federação. Como também pode dar valor bom, de R$ 20 mil. Mas não é a grande fortuna. Minha folha de pagamento gira em torno de R$ 83 mil. Diminuí muito. Só trabalha o essencial. Recebemos ainda taxas que a Federação cobra. Nosso valor comparado com outras federações é irrisório.
OP - O senhor falou de valores. Um levantamento recente mostrou que o valor que Ceará e Fortaleza recebe no Campeonato Cearense representa 0,5% do orçamento da temporada. O senhor acha justo esse valor pelos times estarem na Série A?
Mauro Carmélio - Isso aí é fácil de explicar. No início, quando foram feitos os valores da televisão, houve um período de graça. Quando assumi, eu disse para fazermos um contrato. E foi feito. Na época, havia necessidade de os clubes fazerem com um menor valor. Com esse contrato, nunca foi sentado na mesa para ser discutido os reajustes. Isso foi maltratando os valores. Os clubes recebem muito pouco se comparado com outros estaduais. Mas o contrato está sendo encerrado em 2020. Não houve renovação. Vamos conversar. Ainda não fomos chamados para conversa. Há outras possibilidades de os clubes conseguirem junto com Federação melhores valores dentro do mercado. Está mudando muito o mercado, tem streaming. De repente, a gente acha um filão. Estamos trabalhando isso aí.
OP - Gira em torno de quanto a arrecadação da FCF e qual a remuneração do presidente?
Mauro Carmélio - Aqui todo mundo é remunerado. Nosso valor é trabalhado em assembleia geral. Gira em torno de 15 salários mínimos (remuneração de presidente). A arrecadação da Federação vai depender. Os melhores meses são durante o período do Campeonato Cearense.
OP - Mas em 2019, qual foi o faturamento, já que foi o ápice do futebol cearense?
Mauro Carmélio - Algo em torno de R$ 1,5 milhão.
OP - Como está sendo a parceria com a Ypióca?
Mauro Carmélio - No ano passado, fechamos com a Polo Wear. "Ah, Mauro, é bom valor?" Não é. É uma experiência. É o valor de uma placa publicitária. Tem em torno de 30 placas nos jogos da Federação. Aí, você vai ver que as placas que nós temos, tivemos que baixar muito valor. Ou mantenho valor que foi cobrado há muito tempo ou baixo preço e procuro a segunda linha. E nós conseguimos isso, principalmente quando perdemos a Esporte Interativo, que dava algo em torno de R$ 50 mil a cada clube. E estou recuperando isso com as placas nessa condição. Chegou a R$ 400 mil? Ainda não. Mas estamos vendo o que pode ser feito dentro dessa estrutura. "Ah, a Ypióca entrou". Grande momento. É uma situação de namoro. Eles querem casar, nós também. Mas estamos analisando situação de apoio. Se nós não tivéssemos fechado com Ypióca, teríamos acertado com Polo Wear, porque mostraram interesse. Eles ficaram encantados com a final do Campeonato Cearense no ano passado. As vendas dele subiram em 15%. Futebol é uma força muito grande.
OP - Ceará e Fortaleza criticam o Estadual por não dar público e não ser tão atrativo. O que vocês pensam sobre isso e se pensam em mudar fórmula?
Mauro Carmélio - Hoje é a melhor fórmula. Não sou bobo, aposto e torço por nossos clubes na Copa do Nordeste, Brasil, Copa do Brasil. E faço de tudo para ascenderem. O que foi feito dentro dessa nova fórmula foi deixar eles à vontade para se prepararem para a Copa do Nordeste. Clubes menores entenderam a situação. Ceará e Fortaleza não vão jogar com time B, como acontece em outros estados. É menosprezo à competição. Não atrapalha os clubes em nenhum momento outras competições. Muitas vezes não reconhecem ou esbravejam. Tem gente que não gosta de campeonato local por estar em uma Série A. Isso não é o clube, mas algumas pessoas. Pergunta ao torcedor de Ceará e Fortaleza se o time não ganha o Estadual. O bicho pega.
OP - Sobre a questão do calendário, não era o caso de mudar nacionalmente, realocar o Campeonato Cearense?
Mauro Carmélio - Sou veementemente contra a estrutura da Copa do Nordeste como está. Nós temos uma situação onde os campeonatos Carioca, Gaúcho, Paulista, federações maiores, terem mais datas. E aqui no Nordeste temos menos datas. Quero as datas do Campeonato Cearense de volta e que a Copa do Nordeste seja colocada para o segundo semestre. Os clubes que estiverem na Sul-Americana ou Libertadores não disputam a Copa do Nordeste. Eles não querem tanto o modelo europeu? Lá é assim. Por que não aplicam aqui? Os clubes reclamam tanto de data, mas querem disputar tudo. Se fosse dessa maneira, Fortaleza teria que decidir: Sul-Americana ou Copa do Nordeste. É o mesmo sonho e meu desejo. Isso é explanado na CBF.
OP - Gostaria que o senhor contasse como foi o susto em um voo após uma partida da seleção brasileira na Copa América
Mauro Carmélio - Foi uma surpresa. Estávamos voltando. A gente pegou o voo, eu e mais dois presidentes de Federação. Quando estava perto de Congonhas, o piloto disse: "O voo vai desviar para Guarulhos porque o flap não está abrindo'. E agora? Agora vamos rezar. Fomos para Guarulhos. Outro presidente olhou pra mim e disse: "Mauro, esse avião já rodou três vezes por cima dessa fábrica". E o piloto disse: "Nós vamos fazer um teste para averiguar a situação". Eles fez o teste e não disse se deu certo ou não. E já estávamos apavorados. Uma senhora começou a cantar "Segura na Mão de Deus". Muita gente pegava o celular, ligava para esposa. Pensei: "Eu vou deixar meu celular no bolso para me identificarem". E o piloto disse que ia tentar descer. Ele descia e subia um pouquinho. Fica a lembrança. Eu pensava: "Por que peguei esse voo?". A gente lembra muito do passado, do voo da Chapecoense. Um amigo nosso, o Delfim (Peixoto, então presidente da Federação Catarinense), morreu naquele voo. O avião desembarcou e tinha ambulância na pista, tudo. Quando freou e o avião parou, deu um alívio tão grande. E o piloto: "Obrigado, descemos pontualmente". E ele nem pediu desculpas pra gente.
Susto em voo
EM 19 DE JUNHO DE 2019, após jogo entre Brasil e Venezuela pela Copa América, Mauro foi de Salvador para São Paulo de avião. Durante o trajeto, o avião teve problemas técnicos em uma das asas, algo que gerou pânico entre os passageiros. Contudo, o pouso foi bem sucedido e o atual presidente da FCF se manteve ileso.
Orgulhoso
NA ENTREVISTA, Mauro Carmélio exaltou seus projetos na FCF e valorizou as conquistas obtidas, tanto internamente, na gestão, como externamente, com os clubes cearenses, que tiveram destaque regional e nacional.
Relíquias
EM SUA SALA, Mauro expõe camisas autografadas da seleção brasileira. Além disso, vários modelos de troféus estão expostos na sala da presidência da FCF. Um quadro de Fares Lopes, falecido tio de Carmélio e ex-dirigente no futebol cearense, também está presente.