Você é um exemplo de mulher independente, bem resolvida, auto
suficiente, e está sempre envolvida em discussões ligadas ao universo feminino, o
que acaba inspirando outras mulheres. Como você enxerga esse seu papel de
representatividade?
Eu fico muito feliz pelo caminho que eu trilhei e estou trilhando na minha vida, e
mais feliz que isso sirva de inspiração para muitas mulheres. Eu tenho uma musa
inspiradora, que é minha mãe. Uma mulher que sempre teve um pacto com a vida,
sempre teve projetos, que nunca ficou esperando as pessoas fazerem nada por ela. Ela
foi lá e criou a próprias oportunidades. Então, isso sempre me inspirou muito. Eu sigo
meus desejos, as minha ambições, sou uma sonhadora. Acho que tudo na vida parte
de um sonho. Na vida, a primeira coisa que a gente precisa fazer é tentar se conhecer.
Se perguntar "Quem eu sou? O que eu realmente desejo?". Porque a gente reconhecer
os próprios desejos é muito difícil. Quando a gente descobre, e não é fácil descobrir,
tem que começar a diariamente agir para ir no encontro desse desejo. Eu ouço muita
gente dizendo que queria fazer algo e não consegue. Eu sempre pergunto: "Mas você
faz alguma coisa que te leve a realizar esse desejo?". Depende da gente. Então eu sou
disciplinada, sou uma mulher que tem projetos e desejos e vou ao encontro deles. Eu
realizo. Tudo parte de um sonho. Mas além de sonhar, a gente precisa tentar a
realizar.
Isso também vale para a vida pessoal?
Sim. eu faço isso na minha vida pessoal. Passei dez anos com o pai da minha filha.
Quando eu tava mal no casamento, tentei de tudo para fazer dar certo. Mas uma hora
não tinha mais desejo, romance. Só tinha intolerância, reclamações diárias, era muito ruim nosso dia a dia. Tive a coragem de me separar, na época com 44 anos. E é difícil,
porque na sociedade machista em que a gente vive, separar depois dos 40 já vem
junto do medo de não conseguir amar de novo, de não se envolver. Também tem o
modo como a sociedade olha para uma mulher de 45 anos separada. Vêm vários
medos, mas não deixo de fazer as minhas coisas por causa de medo. Vou com medo
mesmo. Quando fui estrear a peça "Minha vida em Marte", quase desmaiei. Na
véspera da estreia eu quis morrer. Porque depois de 12 anos de sucesso com uma
peça, vem aquela cobrança. "Será que ela fez a mesma coisa? Será que ela vai trazer
outro sucesso?"
É uma sensação de voltar à estaca zero?
Exatamente. É voltar ao ponto de partida. E todos esses medos todos são naturais,
fazem parte da vida. Esquisito eu acho quem diz que não tem medo nenhum. Sentir
medo eu acho natural, só não pode deixar ele paralisar a sua vida.
Você falou que nós vivemos em uma sociedade machista. Como você
analisa esse momento, em que o feminismo está sendo colocado em xeque por
diversos setores da sociedade?
Eu acho esse um momento de extrema importância, toda essa tomada de
consciência que a gente tá tendo dos últimos 3 anos pra cá. Eu sou filha de uma
feminista, sou feminista. Fui criada por uma mãe que sempre falou para mim "Se você
quer ser uma mulher livre, a única forma de ter liberdade é a independência
financeira". Então fui criada para ser independente. Não fui criada para casar. E acho
que o feminismo é uma atitude e uma postura diária. É você prestar atenção aos seus
atos diariamente, porque a gente vive numa sociedade machista, e todos nós somos
um pouco machistas. Temos que nos policiar todos os dias. É muito importante esse
movimento todo que está acontecendo. Mesmo quando alguém fala que existe
radicalismo, eu acho importante, para esse momento, o radicalismo. Porque todo
movimento quando se inicia, para se estabelecer, ele tem que ser radical mesmo. Se
não, não faz barulho. Já são tantas as coisas que a gente já está lucrando. Por exemplo,
toda a questão de assédio sexual e moral. A gente nunca ouviu falar tanto em assédio.
Antigamente a gente era assediada diariamente na rua e não achava que era assédio,
nem sabia que era isso. Eu fui assediada a vida inteira e não sabia disso. Outra coisa
que vem sendo muito destacada nos últimos três anos é a palavra sororidade. É a
gente ser solidárias umas com as outras, porque as mulheres são solidárias umas com
as outras. O machismo tentou mostrar mulher é competitiva, que mulher não é amiga
de mulher. É tudo mentira. Hoje a gente pratica sororidade com consciência. Se eu
vejo uma mulher hoje numa situação de vulnerabilidade eu vou lá ajudar. As mulheres
estão mais unidas. Quantos movimentos a gente não tá vendo aí, de galãs de televisão,
de produtores de Hollywood, pessoas que estão sendo afastadas de seus cargos por
assédio? Coisa que no passado jamais aconteceria. São muitos passos que estamos
dando. Ainda tem muito feminicídio, muito abuso, mas estamos caminhando.
Você acabou de voltar aos palcos com a peça "Minha vida em Marte",
que já era sucesso no teatro e roubou a cena no cinema com uma das maiores
bilheterias do cinema nacional dos últimos anos. Qual a sensação de saber que
seu trabalho alcançou isso?
Olha, é muito emocionante. Quando eu sento e olho para aquele filme, vejo que
minha história está sendo contada ali e milhões de pessoas indo ver várias vezes.
Realmente virou uma das maiores bilheterias da história do cinema brasileiro, é muita
satisfação. Porque só a gente sabe como tudo começa.Tudo começa em casa, na sala,
conversando. Eu, minha irmã Suzana [Garcia], que é a diretora, e o Paulo Gustavo,
passamos 1 ano nos encontrando três vezes por semana para escrever o roteiro. Tudo
ali foi pensado. É muito trabalho. Mais de 12 horas por dia filmando, e se lá na hora a
gente via que algo não dava certo, a gente reescrevia na hora. Depois foram muitas
horas na ilha de edição. É muita dedicação. Eu sempre falo que a sorte é a gente que
produz, a gente que provoca. Eu não tava na praia e falei "Gente, tô indo ali no
cinema lançar um sucesso e já volto". É muita disciplina e persistência, porque nesse
caminho todo houve vários "não".
Mônica, você faz cinema e teatro, e entrando nesse aspecto de precisar
enfrentar vários obstáculos e dificuldades para conquistar objetivos, como você
vê os cortes e mudanças propostas pelo Governo em relação aos financiamentos
culturais?
Olha, a gente está vivendo um dos momentos mais difíceis que eu já vivi. Acho
que existe uma coisa chamada ignorância. E ser ignorante não é ser burro. Eu sou
ignorante em várias situações da vida. Ignorância é falta de conhecimento. E existe
isso com relação a Lei Rouanet, por exemplo. As pessoas falam que é mamata.
Mamata para mim é filha de militar receber pensão porque não casou. A Lei Rouanet
é transformada em trabalho. Cada projeto financiado por ela, gera milhares de
empregos. Eu tenho uma situação muito atípica. Porque a minha peça não tem lei
nenhuma, eu que banco a peça e vivo de bilheteria. Mas eu sou a produtora, a autora e
única atriz, e a peça lota e faz sucesso. Só que a maioria dos artistas brasileiros vive
de apoio sim! Para poder subir no palco, contratar cenotécnico, camareira, operador
de som, operador de luz. Então quando um espetáculo é levantado, ele gera muitos
empregos. É uma ignorância muito grande o que estão tentando fazer com a cultura e
com a arte. As pessoas que estão apoiando isso não possuem conhecimento nenhum,
ninguém se aprofunda em nada. As pessoas pegam uma frase, acreditam naquilo e vão
replicando. As redes sociais são um perigo em relação a isso. As redes são
maravilhosas para divulgar várias coisas, mas como tudo na vida, tem dois lados. E
esse outro lado é que é o perigo. O que eu vejo hoje do Governo é um extermínio total
da educação e da arte. Existe um plano para o extermínio da educação. Eles acham
que a cultura e a arte são coisas menores, e isso é muito lamentável e preocupante.
Depois de SP, vai ter tour pelo resto do Brasil? Podemos esperar Mônica em Fortaleza?
Vai ter sim. Vou para Fortaleza no segundo semestre. Só não sei ainda a data
exata.
Tem algum novo projeto já em andamento? O que podemos esperar para os próximos meses?
Ainda tô gravando algumas coisas da quarta temporada da série [Os homens são
de Marte e é pra lá que eu vou], que já está no ar agora no GNT. Eu estou começando
a escrever a quinta temporada, estamos nos reunindo com os roteiristas para definir
tudo para, provavelmente, a gente gravar ainda esse ano. E eu estou em andamento
para escrever um livro.
A gente já pode saber qual vai ser o assunto?
É sobre a minha trajetória e a construção desses dois textos e dos dois
espetáculos.
Você sempre deixou claro que a história da Fernanda, personagem das
peças, é baseada nas suas próprias experiências. Só que em Minha vida em
Marte, a Fernanda está em meio a uma crise amorosa, enquanto a Mônica
começou a namorar a alguns meses. Como está sendo viver essa fase da Mônica?
Está dando para administrar o namoro, além de todas as outras
responsabilidades e compromissos do dia a dia?
Eu tô muito apaixonada. Quando você namora alguém que entende a sua vida,
entende a sua dinâmica, admira quem você é, até porque ele me conheceu sendo quem
eu sou, sempre dá para conciliar. São duas pessoas que trabalham muito, e isso é bom
porque um entende a vida do outro. E isso não é um problema, a falta de tempo a
gente administra. E como eu te falei, tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim. É
ruim porque dá saudade, mas também é bom porque a gente sente saudade, entendeu?
[risos].