Bem-estar e sofisticação são sua marca registrada presente em diversos trabalhos, residenciais e comerciais, com sua assinatura. Racine Mourão, considerado um dos grandes arquitetos cearenses. Sobre interiores? Claro que ele também entende, e ganha atenção também por isso. Racine é múltiplo, além de apaixonado pelo que faz. O potencial de se reinventar já integrou várias edições de CasaCor Ceará. Desta vez, porém, vem diferente. Racine pula a edição deste ano para ser, do lado de cá, o observador do "Planeta Casa". Faz da mostra cearense uma casa inteira ao seu "dispor". "Falar em Planeta Casa tem tudo a ver hoje, principalmente em um espaço como a CasaCor, que é mercado, mas também, dentro de uma análise comportamental - e de tendências -, a tradução de um modo de viver atual, como o repensar sobre sustentabilidade, que se conecta imediatamente a uma busca da essência, por algo que é seu, que tenha história. Agora é a hora de se voltar à casa, à família", relaciona. E Racine está. Respira ambientação. Sabe o que está em alta, e o que nem deveria perder tempo. Para o arquiteto, tudo precisa fazer sentido, ser referente à pessoa que mora no lugar, mesmo que projetado por um profissional. "É uma experiência que deve ser sua, de aguçar a criatividade em tudo, na descoberta de um material natural a um reciclável", cita da CasaCor como exemplo. Racine é assim, sensível à alma da casa ou do espaço que ele analisa. Dá o seu toque, mesmo que "visualmente", em uma tela imaginativa onde ele rapidamente é capaz abrigar mais de uma solução criativa. O arquiteto enxerga não só além, como busca explicar, ou, de puro charme, desafia você a perceber, em um exercício didático, na intenção de artista que ele também acumula um pouco. É um curador das curadorias. Nada mais conveniente, então, do que tê-lo ao nosso lado, em um passeio pela mostra, onde Racine, de mente aberta, se permitiu ser o guia da Pause por uma noite no endereço na Aldeota. Confiamos em seu trajeto e nas trends que ele nos listou. Ao todo, percorremos 13 dos 39 ambientes da CasaCor. Racine é exigente, gosta quando realmente gosta, não faz cerimônias. Aponta, indica, comenta. Te deixa livre, mas também a par. Além da personalização, outra grande aposta identificada pelo arquiteto é o que ele chama de "regionalismo globalizado", com atenção a itens que narram sua experiência e conexão também com o mundo, não só com o local de origem. Continue pelos espaços e dicas!
TONS MAIS NEUTROS E FORMAS ORGÂNICAS
A nossa primeira parada na mostra foi ambientada por André Monte. O designer de interiores é responsável pelo Studio do Viajante, localizado em um dos espaços "fora" da casa. De lá, Racine identificou um dos pontos em ambientação, a escolha de uma cartela de tons neutros, suaves, que também remete à influências terrosas, com tons mais crus, e que lembram a natureza. A mesa em destaque é assim. Além da cor neutra, dando leveza ao ambiente, traz uma forma amorfa que está super em evidência há algum tempo, segundo Racine. "Ele mixou com essa coisa terracota, da escultura de madeira", avistada ao fundo.
BAUHAUS REVISITADA
Os 90 anos da Bauhaus, celebrados no início do ano, ganharam um ambiente à parte, assinado por Rosalinda Pinheiro. A escola de arte vanguardista, originária na Alemanha, é, até hoje, uma fonte de inspiração. "O design, como a moda, ele se realimenta o tempo todo, então, quando você o comemora, você também o revisita...", explica Racine sobre as possibilidades interpretativas. O que chama mais atenção por lá, segundo ele, e que pode influenciar o comebak do estilo Bauhaus na arquitetura de interiores, são, principalmente, as cores (azul, amarelo e vermelho) e a limpeza visual presente no ambiente. Na parte de cima, o terraço é a máxima do minimalismo. Vale conferir!
VERDE, TE QUERO VERDE
Quem entra no Estar Bem-Estar, de Joana Figueiredo, dá logo de cara com um microuniverso na cor. A aposta, também de Racine, é contraposta por linhas, de acordo com o arquiteto, usadas de forma inteligente. Além do preto, para criar o contraste, pinça o mix com tons de rosinha claros, algo meio nude, com o teor, mais uma vez, de terracota. Se prestar atenção, verá no piso. Dica: a mistura é válida para outras iniciativas.
A CASA É PARA VOCÊ!
A herança de que a sala de jantar, por exemplo, é algo intocável no lar sofre alterações. Hoje, mais do que nunca, é para você, morador! Brenda Rolim capta um pouco disso no ambiente assinado por ela na mostra. É do espaço que Racine observa outra tendência, reflexo do modo de viver hoje, ou que se espera e quer propor: um abraço a quem chega, valorizando ser você mesmo, com coisas que te agrada e para uso, como também a partilhar deste conviver, quem sabe, em um amplo sofá, como é proposto pela arquiteta. “Você tem uma sensação de liberdade, das coisas irem surgindo de forma mais ocasional, digamos assim”, observa Racine sobre a peça central. “Tudo acontece ao redor dele”, conceitua como uma grande extensão de apoio, que interliga pessoas. Também é na Sala de Visitas que Racine avista outra forte tendência para o design, a de personalização, não só dos ambientes, com catalogação de objetos, mas que tenha uma estrutura também versátil, como o móvel com banco e espécie de cabide criado pelo cearense Rafael Studart. “Essa versatilidade tem muito a ver com os nossos desejos hoje, que se liga à personalização, principalmente para casa, para que ela não seja parecida com a de outro, e nem seria praticamente possível. Porque cada um tem a sua forma de pensar, de agir, as suas escolhas”.
NOSTALGIA DA FAZENDA
A Biblioteca Paraíso, inspirada na fazenda da família J.Macêdo, projetada por Érico Monteiro, é de querer ficar por horas. Além da sensação de nostalgia, que nos guia a um conjunto de vinis e afins, de olho no primeiro assento de palhinha posicionado em destaque no ambiente. "Está super em alta e tem tudo a ver com o nosso clima", indica Racine, que relaciona a volta da trend como um retorno proposital ao passado, com insights extraídos principalmente das décadas de 1950 e 1960. Também do ambiente, a mesa prolongada, acompanha da estante. A cadeira de Sergio Rodrigues também ganha destaque. A busca às origens é ainda arrematada pelo piso, original, só raspado.
TUDO NATURAL E AO ALCANCE
Sabe os quartos de criança bem pomposos, cheios de tecidos, com temas de príncipe e princesa? A CasaCor Ceará deste ano e o arquiteto Racine Mourão dão voz a algo na contramão disso tudo. A Suíte dos Gêmeos, do trio Anellise Bluhm, Carol Timbó e Mirna Albuquerque, é pés no chão, com um ambiente a cara de criança, para brincar e ser livre. "A madeira, como o teto, é tudo natural...", observa Racine. Para o arquiteto, que também avista uma interação lúdica ao alcance dos pequenos, com prateleiras baixas, é outra maneira de proporcionar estímulos à criança. "Aqui ela tem espaço para estar ativa", considera importante.
É LEVE E SUSTENTÁVEL
O Escritório - A Voz de Verso, inspirado na cantora Giovana Bezerra, traz a leveza para o ambiente office. A sustentabilidade também anda junto e é mais um ponto destacado por Racine. A mesa de destaque é um achado de Limoeiro do Norte. A pedra, Crema Riviera, que seria descartada pela fábrica na localidade onde foi adquirida, ganhou uma nova chance pelas arquitetas Manoella Linhares e Natalia Benevides, que projetaram a mesa e o espaço. "Tem o foco brutal, mais robusto, ao mesmo tempo em que vem nesta cor leve", detalha Racine. Também é de lá a escolha das cadeiras esqueletos, de Pedro Paulo Franco, que faz uso de matérias-primas naturais.
COMPACTO E FUNCIONAL
A Suíte 22, projetada por Anik Mourão, filha de Racine, poderia ser uma apartamento inteiro. "Você tem um banheiro com todo o conforto, você dorme, faz a refeição, estuda, recebe as pessoas...", cita o arquiteto relacionando a ideia do projeto a uma tendência, segundo ele, muito em alta hoje, que são os apartamentos menores, onde tudo precisa assumir mais de uma função, para acompanhar a vida moderna. Por falar em modernidade, é deste movimento que Anik tira inspiração e que ela une a outras duas referências, o concreto e as décadas de 1950 e 1960, para dar alma ao lugar, que nem precisa de televisão. É um quadro Chico da Silva. "Hoje as pessoas não querem mais TV no quarto", diz Racine.
VIVER A NATUREZA
Na Sala da Família, de Andréa Verçosa, Karine Albuquerque e Liana Otoch, a lei é viver a natureza. Trazê-la para dentro de casa de forma não tão óbvia. Além da pedra bruta presente no ambiente, atenção à paleta de tons de verde, fazendo link, claro, com plantas naturais. "Você nota que todos os elementos estão sem brilho, são secos, dando este ar mais tátil...", destaca Racine. É no local que ele também pontua sobre a escolha de adicionar itens de origem também italiana. "Não ficaram só no regionalismo 'exacerbado'. Hoje, é mais sobre um regionalismo globalizado. A afetividade em equilíbrio com o que acontece e te inspira no mundo". No mesmo ambiente, o clássico e o contemporâneo também fazem par.
CELEBRAÇÃO BRASILEIRA
O cantinho Brasil da Sala de Jantar, assinada por Cláudia Castelo Branco, com um dos quadros de José Guedes. O ambiente também valoriza o design nacional, com atenção para a poltrona e o sofá, além de uma luminária com luz de "globo", todos de designer brasileiro. Ainda do espaço, a palhinha e os tons de ocre, que não fogem da visão de Racine.
NA PRÓPRIA PELE
No ambiente de Carlos Otávio, batizado de Meu Lugar no Mundo, o que fala mais alto é a mistura entre elementos regionais, nacionais e o convite, segundo Racine, para habitar na própria pele. A estrutura do espaço é propositalmente "inacabada", para passar uma ideia de loft. "Traz essa história do sustentável, de se adequar a viver dentro de um espaço como ele é realmente", entusiasma-se Racine. O projeto inclui formas amorfas (mesa da parte de estar e poltrona Jader Almeida), altura baixa e extensão alongada da mobília, que reserva, ainda, um tronco de árvore como saída para bancada no banheiro.
COZINHA ABERTA
Chegando à Cozinha Original, de Ana Virginia Furlani, impossível não se sentir atraído pela enorme mesa de madeira prolongando o ambiente, que já é amplo, com a volta da cozinha aberta. “A ideia da mesa é reunir e aproximar pessoas, para elas conversem e interajam entre si”, diz Racine. O conceito aberta, segundo ele, é a tendência para este tipo de espaço, que passa a ser totalmente integrado. Os elementos naturais, os tons de terracota, como os cocos em um tacho baixo, enfatizam este olhar, mais pé no chão.
ACONCHEGO DO LAR
A Casa Nômade, de Ramiro Mendes, é o porto seguro de quem chega do mundo. Também traz o conceito de cozinha integrada, dando destaque ao projeto, todo em cores claras. "E é uma coisa usável, não é só arrumada", atribui à imagem de quem tem uma primeira impressão sobre o lugar. "Aqui tudo está convergindo, desde o tampo de mesa, com ar mais brutal, passando pela estante e seus elementos, que dividem a área de dormir até voltar mais um pouco e, de repente, ter a sensação de que o tapete, na verdade, te faz lembrar areia das dunas", descreve Racine. A versatilidade também está no modo como você personaliza o armário da cozinha, por exemplo. Pode simplesmente fechá-lo e pronto.