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Questão de escolha
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Questão de escolha

O conceito de "paternidade ativa", em alta no debate sobre comportamento, busca ajudar homens a desconstruir barreiras colocadas pelo machismo e tradição, rumo a uma relação mais madura e profunda com os filhos
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Jornalista Daniel Fonseca fala sobre o vínculo biológico (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Jornalista Daniel Fonseca fala sobre o vínculo biológico

Os dados são claros: 5,5 milhões de crianças brasileiras estão sem o nome do pai na certidão de nascimento, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Outra boa parte, apesar de carregar o sobrenome do pai na certidão, não tem a presença na educação. No meio do dilema, ainda podemos destacar os pais que estão presentes nas pequenas coisas, como deixar o filho na escola, ou os que abraçam demais responsabilidades e se envolvem afetivamente na criação. Em meio a tantos perfis, afinal, qual deles pode ser considerado um pai ativo e qual o seu papel?

"Quando escuto esse termo o que vem à cabeça é a palavra vínculo. Cada homem, em alguma medida, precisa se desconstruir um tanto para `paternar´. Para sentir amor e criar vinculo, a receita me parece ser contato pele a pele e tempo. Responsabilizar-se, envolver-se. É chegando junto e se relacionando que você se cria pai", explica o psicólogo Ben-Hur Oliveira, referência no movimento paternidade ativa.

Ben, inclusive, participou de roda de conversa na última semana na Universidade de Fortaleza (Unifor) sobre homens e pais. Ele acredita que a paternidade ativa pode ser considerada um movimento que chegou por meio da humanização do parto, pelo homem poder vivenciar de forma sensível a chegada do filho. E, por mais que exista uma maior atenção para essa afetividade atualmente, a sociedade patriarcal, segundo Ben, dificulta a construção do pai ativo.

"Ser chamado atenção pelo chefe quando precisa acompanhar o filho ao médico são abordagens que precisam mudar. Outro desafio é assumir para si o machismo. A parcela de benefícios recai mais sobre nós. Não temos o desafio que as mulheres têm de interrupção da carreira profissional para amamentar os filhos, por exemplo", finaliza.

Por falar em benefícios, boa parte das leis do Brasil, segundo a também psicóloga Raquel Rocha, seguem o estereótipo que precisa ser mudado aos poucos. "Hoje as empresas já prolongaram um pouco a licença paternidade (20 dias, enquanto a materna são 4 meses), mas, ainda assim, a responsabilidade maior recai sobre a figura materna. No momento de pós-parto, a mãe precisa de muita ajuda, principalmente do cônjuge. Devido ao estereotipo social no entanto, ainda não se entende essa participação como sendo fundamental", pontua.

Raquel ainda explica que, por mais que existam questões ligadas à lei, o vínculo pai e filho vai muito além do que ela determina, tendo muito mais a ver com presença e conexão. E que isso precisa ser entendido. "Não adianta o pai ter um período de licença maior e mesmo assim não exercer seu papel de cuidador. É algo que precisa mudar em uma esfera geral, social, nas relações de parentalidade. Nossa sociedade ainda precisa de muita educação sobre vínculo e paternidade", explica.

A leitura de Raquel é que a paternidade ativa é um movimento ainda pequeno no Brasil, mas que, aos poucos, vem ganhando maiores proporções. A receita é que os pais entendam que a responsabilidade em cuidar e educar sempre será de ambos.

Envolvido em promover eventos que dão destaque a mães e pais, o jornalista Daniel Fonseca embarca nessa jornada como formador e opinião e pai da Liz. "Entrei nesse meio quando me tornei pai. As pessoas acham que os filhos têm mais vínculos com a mãe porque isso é biológico. Mas não é. Os dois únicos atos que dão um crédito para a mãe é a gestação e amamentação. Tirando isso, acabou. O vínculo é o mesmo", enfatiza.

O jornalista acredita que ser pai é uma condição que deve atravessar vários afazeres. "Quando me apresento digo que sou jornalista e pai da Liz", finaliza.

Em meios às leituras e opiniões sobre a função pai, é certo que a receita é a mesma. Apesar da dificuldade cultural no Brasil e em muitos países, ser ativo é questão de escolha. É fazer muito com pouco. Afeto, quando dado, é sentido.

 

Situação da paternidade no Brasil

5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
85% dos pais dizem que fariam qualquer coisa para se envolverem muito no cuidado de uma nova criança, segundo relatório Situação da Paternidade no Mundo 2019
39% das empresas ampliaram o tempo de licença-paternidade para 20 dias, de acordo com o ranking "As 150 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil", do Great Place to Work

Pai na visão ativa, segundo documento elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

NÍVEL 1: é o homem não só se preocupar, mas cuidar das necessidades e demandas dos filhos e dar atenção às tarefas domésticas.

NÍVEL 2: a construção de um vínculo e ligação emocional de pai para filho marca este nível

NÍVEL 3: Transformação pessoal surge em questão. É, nada mais, do que entender o papel e a responsabilidade de ser pai em nível social

Canais no Youtube!

Pai_xao - Pais e filhos: ortodontista Guilherme Piazza grava a rotina com os filhos Henrique e Guilherme.

Papo de Pai: O que começou com um blog sobre paternidade hoje já faz parada no Youtube. O influenciador Tomás Dotti defende o papel no pai na criação dos filhos com convidados e humor

Paizinho, Vírgula - O pai do Dante e do Gael, Thiago Queiroz, fala sobre criação, disciplina positiva e paternidade consciente. O Youtuber é o autor do livro "Abrace Seu Filho"

 

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