Lili não é um, são dois. Um "li" para cada atuação profissional, autoral e casual - coisa que ele faz bem, os dois, e brincando. Porque o gosto mesmo é pela moda, do fazer que é, a alguns, uma extensão da sua ousadia fashion. Com Lindebergue Fernandes, a roupa tem seus significados. É moderno, pensa à frente. Dialoga com o homem. Desenha para ele, projeta, materializa. Leva em paralelo ao DNA autoral. Toma para si sua segunda expertise, a do street. Lili é cheio de ideias. Sabe voar. Volta. Na marca cearense DLT já são dez anos de direção criativa. Confira entrevista!
O POVO: Nesses dez anos à frente da direção criativa, o que mudou no fazer moda masculina?
Lindebergue Fernandes: Nossa, tanta coisa… Há dez anos vivemos o início de um reposicionamento cultural, uma quebra de paradigma que dizia: "homem também pode ser vaidoso e ligado em estilo". Se, na época, fazer moda masculina era lidar com meia dúzia de códigos tímidos, hoje podemos arriscar muito mais. Ainda somos uma sociedade extremamente sexista, mas o homem, pelo menos como consumidor, viu seu papel evoluir bastante. Veja o boom das barbearias, do próprio menswear. Tudo sinaliza que as novas masculinidades são uma realidade animadora, principalmente em tempos como esse tão, digamos, nebulosos.
OP: Quais as peças-chave que você ajudou a consolidar na marca?
Lindebergue: Na DLT, além de manter atuais os códigos de um streetwear superurbano, acredito que consegui inserir uma silhueta mais democrática e livre. Minha marca maior vai para os detalhes que conseguimos adicionar em peças, à primeira vista, bem básicas, como t-shirts. Nosso jeans superskinny, que era praticamente um tabu para a marca, dez anos atrás, hoje é best-seller.
OP: Qual foi sua última inspiração para a marca?
Lindebergue: O verão 2020 da DLT propõe o guarda-roupa completo para um fim de semana com direito a pool party e sunsets regados a música eletrônica. Ela acompanha o novo posicionamento de comunicação da marca, que grita: "Party is on!". O clima é de festa na beira da praia. Então, as cores acompanham os tons de uma tarde ensolarada, passando pelo entardecer e indo até as luzes da madrugada.
OP: O que te inspira na moda masculina?
Lindebergue: Além de estar atento às demandas globais do segmento, minha maior inspiração é a cultura pop. Acho que quem trabalha para o público jovem, masculino, feminino ou agênero, deve se manter ligado na velocidade da Internet, nos memes, nos influencers… A cada temporada as referências são múltiplas. Já falamos sobre o universo rocker, gótico, dark… hoje, o foco é no pós-tropicalismo, na alegria. O consumidor muda o tempo todo e a gente tem que acompanhar essas mudanças.
OP: Com que periodicidade e antecedência você se prepara para um novo mergulho criativo?
Lindebergue: Nós seguimos o calendário tradicional do varejo, incluindo aí o período regular que antecede a chegada da coleção às lojas. Cerca de sete meses antes definimos tema, shapes, tecidos e referências que irão nortear a coleção-mãe. Definido isso, passamos para o desenvolvimento das estampas e das modelagens. Um mês antes da coleção ser disponibilizada, fotografamos e preparamos todo o material de marketing. A essa altura, já recomeçamos o processo, visando a próxima temporada. Antes, fazíamos isso duas vezes por ano; agora, o timming é outro. Quando planejamos a coleção-mãe, já prevemos que ela irá durar, no máximo dois, três meses. O mercado exige novidade toda semana, por isso, temos investido cada vez mais em coleções-cápsula, que inundam as lojas com novas peças semanalmente. O ritmo pode parecer enlouquecedor, às vezes, mas é apaixonante, também.
OP: Particularmente, o que faz mais seu estilo?
Lindebergue: Acho que quanto mais você trabalha com moda, menos tempo dedica a cuidar do próprio look. Eu sou superbásico, mas amo referências à minha história, à infância no sertão, aos tecidos naturais, à sandália de couro.
OP: O homem é vaidoso? O que acha?
Lindebergue: Homens estão se permitindo mais. Vaidade masculina deixou de ter o peso que tinha, para ocupar um lugar mais confortável na psicologia do macho. A indústria dos cosméticos já percebeu isso; eletrônicos, aplicativos, redes sociais… O tal "novo homem", que aprende a lidar melhor com a própria vulnerabilidade, nem é mais tão novo assim. Mais que discutir sobre "vaidade masculina", a gente tem que se perguntar é sobre o que faz esse "ser masculino" sentir-se feliz, realizado e de bem consigo mesmo.
OP: Aproveitando, masculinidade e moda, qual sua visão hoje sobre o assunto?
Lindebergue: Tem a ver com o próprio reconhecimento da vaidade masculina. É claro que meu círculo de convivência é composto por um espectro plural de homens, mulheres e pessoas que não cabem mais em rótulos simplistas de gênero. Sinto-me um privilegiado quanto a isso. Sei que, fora dessa minha bolha, a situação é menos colorida, digamos assim. Mas sei, também, que, mesmo lentamente, caminhamos para uma realidade em que a masculinidade é reconhecida para além da genitália e da opressão sobre o sexo oposto. Independente do nicho em que o homem se encaixe, é fundamental valorizarmos cada conquista e lutarmos pelo direito do outro ser como bem entender. Veja bem: estamos no Ceará, entrando na segunda década do milênio, e o homem ainda passa por cobranças de 200, 300 anos atrás. Felizmente, isso tem cada vez menos espaço na contemporaneidade. Por mais que tentem reduzir os discursos, nosso homem já consegue, por exemplo, usar uma polo rosa sem o menor dos problemas.
OP: Você também mantém uma marca própria. Qual o ponto de equilíbrio entre os dois trabalhos? É possível?
Lindebergue: Não sei se há ponto de equilíbrio ou se é exatamente o oposto. Inclusive, recentemente, retirei o sobrenome da marca autoral, que agora é simplesmente Lindebergue, para reforçar o fato de que ela não sou eu, mas sim uma visão minha sobre um mundo idealizado, sem fronteiras de gênero, raça, credo ou classe social. Se minha rotina na fábrica é focada no menswear, no resultado, já no autoral, eu me permito jogar fora os rótulos e qualquer tipo de pressão. Na Lindebergue, o foco é dar voz a tudo que me reprime. É a forma mais divertida de exorcizar meus demônios e seguir adiante.
Estilo HS
O Canadian Homem do Sapato tem solado avantajado e uma costura única, para quem gosta de exclusividade e design arrojado. Mais no @homem
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produção sustentável
Sabe um caminho que não tem mais volta? Moda e sustentabilidade. Pensar o futuro tendo em vista o menor impacto possível à natureza. Pois bem. É alinhado a este pensamento que a Skyler, cearense, acaba de investir no novo já não era sem tempo: o algodão 100% orgânico. Essa é a primeira vez que a marca investe nesse tipo de produto na fabricação de algumas peças. O resultado é luz do sol
Pé no casual
TROCA DE ESTILO
Lentes
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