Há algumas semanas, convidei a cantora Nayra Costa para uma conversa no Programa Vida&Arte, da Nova Brasil FM. De quebra, pedi que ela sugerisse músicas para tocarem no durante o bate-papo. No meio do setlist, um som me chamou a atenção. Que groove é esse? E o piano? Quem é essa tal de Ana Mazzotti?
Consultando amigos e Google, descobri uma história dessas preciosas que o Brasil insiste em esquecer. Nascida em Caxias do Sul, em 17 de agosto de 1950, Ana Maria Mazzotti se interessou cedo pela música e, por volta dos cinco anos, ganhou dos pais um acordeom. Com o incentivo, passou para o piano, virou professora de música, regente de coral, participou de concursos de música, montou banda de rock e foi responsável por apresentar Beatles para seus colegas de geração. E isso tudo antes dos 21 anos.
Num dos concursos, Ana conheceu o baterista Romildo Teixeira (de Itapipoca), com quem casou, teve dois filhos, e se aproximou do jazz. Compositora cheia de personalidade, seu suingue chamou a atenção de gigantes como Chick Corea (com quem planejou uma turnê internacional), Azymuth (que a acompanhou no disco de estreia) e Hermeto Pascoal (que incentivava Ana nos scats e improvisos).
De forma apressada, Ana Mazzotti mistura o improviso jazzista de Hermeto com a interpretação sensível e pulsante de Elis Regina. E aí pisamos num calo. Por conta do timbre, Ana foi muito comparada com Elis, mesmo que sua praia fosse outra.
Sendo pianista, compositora, cantora e arranjadora, Ana estava muito mais interessada em jazz que em MPB. Moderna por vocação e corajosa por necessidade de expressão, ela lançou o primeiro disco de forma independente - coisa rara na época - já anunciando suas pretensões no título: Ninguém Vai me Segurar.
Mas o fim dessa história é melancólico. Vítima de câncer, Mazzotti morreu aos 37 anos deixando uma obra promissora, ainda em construção. Seu filho, Toni Mazzotti, que mora em Aquiraz, reuniu o que pode da memória da mãe e disponibilizou na Internet. E ele tem uma filha, de sete anos, que vem se interessando por música. Seu nome é Ana Frois Albano Mazzotti, mas ela prefere ser só Ana Mazzotti.
A seleção de Nayra Costa
Convidei a cantora cearense Nayra Costa para indicar cinco cantoras que foram importantes para sua formação. Do soul à MPB, seguem sua seleção e seus comentários.
Aretha Franklin - "A melhor cantora soul que existe no universo. Conheci quando comecei a cantar na Matutaia".
Chaka Khan - "Maravilhosa! Conheci na sala do Felipe Maia, através de uns vinis maravilhosos que ele tinha".
Ella Fitzgerald - "Minha referência jazz. Acho maravilhoso os improvisos. Ela é tipo um 'trompetinho' cantando!"
Elis Regina - "Não tem como ser cantora e não tê-la como referência. Uma pessoa incrível que cantava coisas incríveis".
Rita Lee - "Eu gosto pela força dela. Ela sempre estava à frente do tempo dela, pelas letras que ela canta também".