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Sons que narram a "Festa de Exus"
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Sons que narram a "Festa de Exus"

Compondo a Plataforma Cultura Dendicasa, da Secult, curta Festa de Exus traz retrato imersivo sobre celebração em centro de umbanda do bairro Jardim Guanabara
Tipo Opinião
O curta Festa de Exu, dirigido por Wellington Barros Júnior, está disponível na plataforma Cultura Dendicasa (Foto: reprodução)
Foto: reprodução O curta Festa de Exu, dirigido por Wellington Barros Júnior, está disponível na plataforma Cultura Dendicasa

Batuques, cantos e palmas são os narradores de "Festa de Exus". É por esses sons, produzidos por corpos filmados com proximidade, que se conta a mais importante celebração do Centro de Umbanda Índio Gererê, no bairro do Jardim Guanabara. O filme, dirigido por Wellington Barros Júnior, é uma das obras disponíveis na plataforma Cultura Dendicasa, da Secretaria da Cultura do Ceará.

O espaço, com 60 anos, tem à frente de suas atividades três gerações de mulheres, com uma quarta geração já sendo preparada. Tal história é contada nas entrelinhas a partir de um registro imersivo de uma gira no centro. O diretor foi iniciado em 2007 na União Espírita José Alberto (Maranguape), grupo que mesclava Catolicismo Popular, Espiritismo e Umbanda, onde passou dez anos até acabar se distanciando das atividades do local por demandas do trabalho e da educação. No entanto, sempre cultivou o desejo de produzir obras artísticas relacionadas às religiões de matriz africana.

A concretização se deu após a experiência no curso formativo "Passadiante - imagens da decolonização", a partir do qual decidiu produzir um filme sobre o Centro de Umbanda Índio Gererê, que conheceu por intermédio de um aluno da escola pública onde Wellington lecionava Filosofia e Artes. Com autorização da mãe de santo do local, ele e a equipe - formada também pelo produtor George Henrique Almeida, pelo diretor de fotografia Yuri Juatama, pelo responsável pelo som direto e mixagem Esaú Pereira e pela montadora Sabrina Araújo - visitaram o centro por diversas vezes, tendo acesso às histórias, costumes e também ritos dali. "Tivemos uma experiência intensa que, de certa forma, foi decisiva para os modos de como filmar, pois nos interessava reproduzir essa experiência vivenciada para o espectador. O tom de imersão que existe no filme está colado com a imersão da equipe nas giras", afirma Wellington.

"Festa de Exus" quase não tem momentos de falas ou diálogos e não há cartilhas informativas ou de contexto. A festa se conta, de dada forma, por ela mesma. "A ideia foi de reconstruir a experiência para o espectador e não caberia descrever por meio de entrevistas. Estas foram importantes na pré-produção, mas não entrariam na narrativa do filme. A intenção nunca foi responder nada, mas proporcionar parte da experiência do rito e talvez deixar perguntas", expõe.

A produção se aproxima, em termos, de uma tradição cinematográfica dos anos 1960 dos ditos filmes "etnográficos" ou "antropológicos", que em sua maior parte eram registros de culturas africanas e indígenas feitas por europeus. Wellington cita essa obra pregressa como uma referência, citando o documentarista francês Jean Rouch, mas aponta uma "grande diferença" entre eles: "Enquanto realizador, sou bem mais próximo da experiência de vida e escala social dos personagens filmados do que da vivência de um antropólogo. Veja bem: sou negro, de origem simples e com fortes aspirações a umbanda. Ter essa consciência faz toda a diferença na relação estabelecida com o sujeito filmado", estabelece.

Dessa forma, o diretor define o filme como "pensando com e não sobre os personagens". "Buscamos saber como gostariam de ser retratados, discutimos o recorte, o roteiro e a narrativa. Levamos muito a sério suas participações para que o engajamento fosse visível na tela", divide. Essa construção foi se dando até que não fosse mais surpreendente ou incômoda nas giras a presença da câmera, "personagem que dançava junto deles".

 

Festa de Exus

Disponível na linguagem "Audiovisual" da plataforma Cultura Dendicasa

Acesse: www.culturadendicasa.secult.ce.gov.br/ 

Foto do João Gabriel Tréz

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