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"Pajeú": sobre Fortaleza e para Fortaleza
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

"Pajeú": sobre Fortaleza e para Fortaleza

Filme cearense Pajeú, de Pedro Diógenes, é selecionado para primeiro festival francês a ocorrer presencialmente desde o início da pandemia global
Tipo Opinião
Dirigido por Pedro Diógenes, Pajeú mistura documentário e ficção a partir do desaparecimento do riacho-título
 (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Dirigido por Pedro Diógenes, Pajeú mistura documentário e ficção a partir do desaparecimento do riacho-título

Um respiro importante: o longa cearense "Pajeú", dirigido e escrito por Pedro Diógenes, foi selecionado para a competição principal do 31º FIDMarseille, festival de cinema francês que será o primeiro a ser realizado presencialmente desde o início da pandemia do novo coronavírus no país. O evento se desenrolará na cidade francesa entre 22 e 26 de julho. A notícia é um alento não somente pela presença do cinema do Estado num evento do tipo, mas também por mostrar horizontes possíveis - mesmo que ainda distantes na realidade brasileira - para a cultura.

Segundo a sinopse oficial, o longa acompanha Maristela (Fatima Muniz), que sonha recorrentemente com uma criatura que emerge do Riacho Pajeú. Ela começa a empreender uma pesquisa histórica sobre ele, enquanto sonho e realidade passam a se misturar e pessoas próximas a ela começam a desaparecer - assim como o riacho. Yuri Yamamoto completa o elenco.

O projeto surgiu enquanto documentário, "mas durante o processo de feitura acabou que um lado ficcional também foi surgindo", conta o diretor. "Ele é todo guiado por uma personagem ficcional, mas ela acaba encontrando com personagens da realidade", explica. Falar do Riacho Pajeú, para Pedro, é falar também da relação de Fortaleza com a memória. "O filme nasce da vontade de falar da falta de memória de Fortaleza usando o Pajeú como exemplo disso - um riacho que foi responsável pelo povoamento da nossa cidade e que acaba sendo esquecido, destruído e soterrado", relaciona.

"Pajeú" foi premiado no fim do ano passado no Festival de Brasília em uma mostra dedicada a trabalhos ainda em processo. A finalização do longa ocorreu no Atelier Rural, espaço em Cascavel dedicado à processos como mixagem de som, edição de som e correção de cor.

Para Pedro, a seleção no FIDMarseille foi uma grande alegria não somente pela participação do filme, mas também pela realização presencial do evento. No entanto, "Pajeú" nascerá "de forma independente" no festival, sem a presença de equipe e elenco. "Existe realmente esse abismo entre os países: a França, que tem um governo, consegue superar a crise e está organizando um evento presencial importante. No Brasil, sem governo, ninguém sabe qual vai ser o dia de amanhã, quando e se as coisas vão voltar ao normal", avalia.

Além do contexto de indefinição que a pandemia traz, o cineasta ressalta a forma com que o governo federal lida com o audiovisual e a cultura. "A gente está vivendo esse momento muito estranho do cinema brasileiro. Vivemos, vamos dizer assim, da rebarba do que aconteceu anos atrás, dos editais anteriores, porque desde que o Bolsonaro assumiu a Ancine não lançou nenhum edital, tá tudo meio em suspenso", avalia.

Apesar dos pesares, repita-se: a notícia é um respiro importante e traz consigo um ímpeto de poder tramar, também no nosso contexto, possibilidades positivas de futuro. "O filme fala de meio ambiente, memória, preservação, de vida, então acho que ele está muito conectado. Vamos acompanhar de longe a estreia e ficar na expectativa de poder exibi-lo no Brasil e, principalmente, aqui - porque ele é um filme sobre Fortaleza e para Fortaleza", define o diretor.

 

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