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Novos significados para o lar
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Novos significados para o lar

O isolamento pôs muita gente diante de sua própria casa. Espaços de repouso, refúgio, ganharam outras possibilidades, geraram novos sentimentos e demandas.
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Carolina Serra divide morada com seu ateliê de botânica, o Ateliê 1078. A conexão com a natureza é combustível de renovação neste período de isolamento, sempre trazendo reflexões para suas formas de morar (BARBARA MOIRA/ O POVO) (Foto: Barbara Moira)
Foto: Barbara Moira Carolina Serra divide morada com seu ateliê de botânica, o Ateliê 1078. A conexão com a natureza é combustível de renovação neste período de isolamento, sempre trazendo reflexões para suas formas de morar (BARBARA MOIRA/ O POVO)

O ano de 2020, dentre tantos outros aspectos, colocou na mesa a nossa relação com as próprias casas. Após meses de isolamento, novos significados passeiam entre os ambientes e os cômodos do lugar que, na maior parte deste ano, vem sendo refúgio. A arquiteta Liana Feingold diz que olhar para dentro é também olhar para fora e, neste momento, ainda confinados, olhar para fora é olhar para o nosso lar. É verdade. Talvez por isso novas formas de morar despontam como tendência de comportamento, abrindo reflexões e expondo releituras e inovações arquitetônicas. Quais movimentos estão acontecendo e o que pode vir por aí?

Carolina Serra divide morada com seu ateliê de botânica, o Ateliê 1078. A conexão com a natureza é combustível de renovação neste período de isolamento, sempre trazendo reflexões para suas formas de morar (BARBARA MOIRA/ O POVO)
Foto: Barbara Moira
Carolina Serra divide morada com seu ateliê de botânica, o Ateliê 1078. A conexão com a natureza é combustível de renovação neste período de isolamento, sempre trazendo reflexões para suas formas de morar (BARBARA MOIRA/ O POVO)

"De home office passamos a ter o trabalho mais presente dentro de casa. Teve gente me dizendo que ia realizar o grande sonho de morar numa praia próxima, entendendo que é relativamente perto e não precisa estar presente na cidade", comenta Liana. A mudança de comportamento é uma porta aberta de reflexões: "A gente começa a perceber essa conexão forte que nós temos em nos traduzir nesse lar. Traduzimos com conforto? Ousadia? Como que a gente vem cuidando disso tudo? Como a gente se projeta nesse lar? É interessante também perceber que o lar é tão imperfeito quanto nós. E nós podemos melhorar, então o lar também pode ser melhor".

Carolina Serra divide morada com seu ateliê de botânica, o Ateliê 1078. A conexão com a natureza é combustível de renovação neste período de isolamento, sempre trazendo reflexões para suas formas de morar (BARBARA MOIRA/ O POVO)
Foto: Barbara Moira
Carolina Serra divide morada com seu ateliê de botânica, o Ateliê 1078. A conexão com a natureza é combustível de renovação neste período de isolamento, sempre trazendo reflexões para suas formas de morar (BARBARA MOIRA/ O POVO)

O momento é de olhar principalmente para ambientes que se tornaram refúgios. As cozinhas, segundo Liana, são um dos destaques, principalmente quando se fala em conforto e tecnologia. Unir esses dois pontos nunca foi tão preciso. Os olhares também passeiam pelas salas e as varandas, os lugares onde as famílias passaram a se reunir. Nesse contexto, naturalmente, a procura por ambientes abertos ganham o destaque. Seria uma inclinação coletiva, a partir de agora, a procura por uma moradia em casas, ao invés de apartamentos? "As plantas começaram a invadir mais os ambientes internos e isso é perfeito. Teremos famílias vendo a possibilidade de migrar para casa", aposta Liana.

As formas de morar, principalmente na cidade, também levantam questões para o arquiteto William Sá, que analisa a linha do tempo comportamental de transição do período antes do isolamento até hoje. "Quando se pode sair a qualquer momento é fácil deixar nossa casa de lado, mas agora nos vimos obrigados a desacelerar e reconsiderar o que é importante. Ficou clara a necessidade de um lar aconchegante e funcional", destaca.

William acredita que este seja um momento de um olhar também voltado para uma arquitetura sustentável, com referências atemporais e duradouras. "Que utiliza bastante materiais e métodos de desperdício reduzido, duráveis e que atendam às nossas necessidades de forma prática", diz. Cuidar do lar de uma forma integral é outra questão abordada pelo arquiteto, que aposta em ambientes planejados de forma prática tanto para o uso, mas também para a rotina de limpeza eficaz e manutenção.

Em tempos de focar no essencial, o minimalismo surge mais forte do que nunca. A dificuldade de manter a casa organizada e limpa, neste momento onde as famílias se encontram juntas, dividindo o lar ao mesmo tempo, é o despertar para uma moradia livre dos excessos. A arquiteta Giovanna Galiza abre a questão. "Temos nos dado conta dessas dificuldades, resultando em uma constante busca pela simplificação e desentulho. Estamos mais preocupados em manter os ambientes bem iluminados e arejados", pontua.

Nesse contexto, o processo de humanização também está nos lares, focado na personalização, para que as pessoas possam enxergar elas mesmas nesse meio, desde ambientes abertos a adornos. "Passar tanto tempo em casa pode fazer com que os moradores cansem do seu espaço. Particularmente, aposto em uma base neutra, isto é, no uso de tons e texturas suaves. As cores podem ficar para os detalhes, como em almofadas, porta-retrato, caixas-livro, vidros, permitindo, assim, dar constantes repaginadas no ambiente com um custo menor", indica. A partir da reviravolta dos últimos meses, a visão foi amplificada com foco no entorno da vida particular. E você, já olhou para o seu lar com novas perspectivas?

A casa que também é um ateliê botânico 

Carolina Serra divide morada com seu ateliê de botânica, o Ateliê 1078. A conexão com a natureza é combustível de renovação neste período de isolamento. Na foto ao lado, ela com a mãe e sócia Eveline Soares.
Foto: fotos Barbara Moira
Carolina Serra divide morada com seu ateliê de botânica, o Ateliê 1078. A conexão com a natureza é combustível de renovação neste período de isolamento. Na foto ao lado, ela com a mãe e sócia Eveline Soares.

Transformar sua casa num ateliê botânico foi algo que aconteceu antes do isolamento, mas que, neste momento, passa a ter ainda mais significado. O Ateliê 1078, empreendimento de Carolina Serra, anexado onde ela faz morada, é uma forma de conexão em meio aos últimos meses em casa. Estabelecer contato com a natureza, no centro urbano, é essencial para sua perspectiva de vida.

Com isso, Carolina ainda consegue observar o comportamento das pessoas que procuram o ateliê neste período. "Acredito que a vida dentro dos lares e a quebra repentina das vivências externas acabou criando uma necessidade de aproximação com a natureza dentro das casas. Nos fez repensar vários aspectos de como nos relacionamos com o nosso entorno mais próximo. Vivemos muito enclausurados, numa cidade que é, infelizmente, pouco arborizada e segregada por altos muros. As pessoas sentiram falta do verde das plantas", esclarece. Compartilhar sua moradia com o ateliê também parte da necessidade de querer que seu lar seja um espaço de convívio e descanso, principalmente daqui para frente, onde tudo tende ganhar novos olhares.

NOVAS EXPERIÊNCIAS

Micaela Góes: voltar a viver o simples da vida 

Micaela Góes: a casa e seus moradores, uma nova relação no pós-pandemia
Foto: GNT/ Divulgação
Micaela Góes: a casa e seus moradores, uma nova relação no pós-pandemia

Na última semana, a apresentadora e consultora de organização Micaela Góes surgiu em uma nova versão no GNT na nova temporada do programa “Santa Ajuda” que, desta vez, é chamado “Santa Ajude-se”, por conta do formato remoto. A apresentadora interage com os convidados de maneira online, cada um da sua casa, em dez episódios, nos quais ela ajuda na reformulação de ambientes internos.

“Estou contando com a ajuda da minha irmã, Georgiana Góes, que é atriz, e está por trás das câmeras e de mais um profissional, o Augusto Barros, que está em isolamento com a gente. Eles fazem o trabalho de 20 pessoas. E eu fico atenta a todas as outras coisas, já que direção está remota, todos estão remotos. Estou feliz porque é uma outra maneira de funcionar e que funciona muito bem. Os convidados recebem as orientações e conseguem executar. É um descoberta. Uma nova forma de lidar com organização e que talvez seja uma maneira vigente para os próximos tempos”, pontua.

A adaptação no formato de trabalho também entra para a vida pessoal. Neste momento de isolamento, Micaela estabelece novas relações com sua casa, entendendo ainda mais o mecanismo de funcionamento e ressignificando as relações.

“Estamos vendo o que funciona, o que não funcionam, quantas panelas... O quanto que se consome, quantas vezes trocamos o sabonete, pasta de dente. É uma relação com a casa sem precedentes”, explica. Neste período, a apresentadora resolveu ir para seu chalé na serra do Rio de Janeiro, que era um lugar somente de curtir os finais de semana, para fazer morada e, com isso ficar mais perto da natureza. “É uma casa bem enxuta, bem pequenininha, tudo muito pouco. Como era só para os finais de semana, pouco prato, pouca panela, tudo contado. Tem sido uma experiência muito diferente da nossa vida urbana. Não estamos confinados. Temos uma varanda, dá para ir para o lado de fora. Dá para plantar uma árvore e também temos uma horta. E assim estamos vivemos a vida, dando importância a outras coisas”, explica.

A rotina foi readaptada e as atividades que já faziam parte da vida da família continuaram a acontecer incluindo as práticas de yoga já frequentes do dia a dia de Micaela. Mas, desta vez, próximo à natureza, algo novo na vida dela.

Olhar para a casa e suas novas formas e soluções também é um exercício para a apresentadora neste momento. “A relação com a assepsia dos alimentos, de tudo que chega na nossa casa, o hábito que estamos adquirindo de passar álcool e lavar as embalagens e tirar o sapatos, são hábitos que vieram de uma situação dramática, uma pandemia que o mundo está vivendo. Acredito que sejam hábitos que estão chegando para ficar”, pontua.

Outra aposta é a questão do home Office, da adaptação da casa para isso. Micaela acredita que a tendência não modifica apenas a estrutura do lar, com possivelmente novos móveis para dar suporte, por exemplo, mas que vem para modificar também a relação do ser humano com o trabalho.

“Acho que também teremos uma tendência aos empreendedores, aprendendo a empreender com seus talentos. Muita gente já se reinventou neste período de isolamento. A relação profissional vai mudar bastante daqui pra frente”, completa.

 

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