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O novo momento do barro
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O novo momento do barro

A cerâmica continua a mesma, histórica, milenar. O que mudou foi o olhar do mundo e de seus designers sobre o feito à mão, sob pena de perdê-lo no tempo...
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Coleção celebrativa de Le Lis Blanc Casa - Maravilha - traz peças criadas junto de cooperativas de trabalhos artesanais e manuais de sete estados brasileiros, entre eles Piauí, Amazonas, Minas Gerais e Ceará (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Coleção celebrativa de Le Lis Blanc Casa - Maravilha - traz peças criadas junto de cooperativas de trabalhos artesanais e manuais de sete estados brasileiros, entre eles Piauí, Amazonas, Minas Gerais e Ceará

Como um exímio bailarino do tempo, o barro segue se reinventando. Celebrado em diversas esferas da história e da cultura humana, ganha novo destaque agora com mais marcas dispostas a valorizá-lo. O momento coincide com a volta de um olhar mais afetivo às coisas do lar. Neste novos tempos, de reflexão, a casa passou a ser o centro. Neste período de pupa, quase preparando-se a um pós, ainda que durante a pandemia, os valores, como os objetos ligados a este convívio - o ficar em casa, mais que estar -, também foram ressignificados. A coleção de utilitários, por exemplo, da Le Lis Blanc, que para celebrar seus 15 anos da linha home, propõe "Maravilhas", com peças que lembram cores e formas da natureza, desenvolvidas por comunidades artesãs, uma delas do Ceará.

As técnicas atribuídas à matéria não são uma, nem duas. A mais conhecida em destaque, porém, é exatamente esta quantidade. Aperfeiçoadas com a cerâmica - no Brasil, presente desde a época colonial, com os fornos de tijolos mantidos em cada engenho de açúcar, para a confecção, também, de louças - ou trazidas cruas - nuas em suas verdades, apenas pintadas -, os artigos transitam além de um aparato. São adornos, virando suporte ao que quiser que seja. O estilo, que não é de agora (à disposição na Central de Artesanato do Ceará (CeArt) desde sempre), está cada vez mais alta, como talvez tenha visto na última sessão decorada, em lojas especializadas, ou em uma passagem, despretensiosa, pelo feed.

É no virtual, coincidentemente, que a dupla de sócios Lina Franck e Heytor Borges, da Olar Olaria (@olar.olaria), acena, com frescor, a um morar com identidade, com uma curadoria que já nasceu exclusiva, dedicada só ao barro. "É a principal matéria-prima", confirma Lina. "Unimos as raízes da nossa terra com o nosso olhar. Daí surgiu a Olar", explica, com a ideia do nome, remetendo a uma atmosfera típica de uma oficina de oleiro, considerada a mais antiga das indústrias, do tempo ainda pré-histórico. Algo natural, cru, mas ao mesmo tempo com a particularidade e personalidade de ambos, dela e de Heytor, um visionário da comunicação imagética.

O despertar para criarem a Olar surgiu de um endereço, como haveria de ser, cearense, na Vila Mosquito em Moitas. "Foi onde despertou a vontade de tirar da cabeça e colocar em prática o projeto", conta Lina. Para ela, é lindo ver tomando forma algo tão natural e orgânico. "É uma peça feita a várias 'mãos e emoções'", relaciona envolvida por inteira a essa feitura. "Somos encantados pelo processo de moldar o barro. Esse moldar começa de dentro para fora. Assim como nossas vontades, mudanças e sentimentos", diz. Ela e o sócio vivem o começo de uma narrativa, a partir de R$ 119 - Jarro Orós (com pé), a quem quiser rememorar, com muitas mais por virem. Continue com apostas.

 

Marca criada pela publicitária Mariana Marques valoriza peças de cerâmica com cores e poesia
Marca criada pela publicitária Mariana Marques valoriza peças de cerâmica com cores e poesia

@tempochamadotempo

Lançada não faz muito tempo, pela publicitária Mariana Marques, a Tempo Chamado Tempo é um aconchego para dentro de casa; brinca com o visual; traz frases, palavras, vontades, todas de Mariana, em resposta ao próprio tempo. Foi no ambiente de pandemia que a empresária, com alma de artista, resolveu com o amigo Pedro Mourão criar algo novo. A matéria que os acompanham agora é cerâmica e a letra de Mariana, que escreve sobre as peças. "Há algumas frases sobre o tempo que gosto de repetir, mas sempre em peças diferentes e com desenhos diferentes", contou.

O encontro da artesã e seus estalos de memórias são levados em barros que são prima, irmã; nascem daqui mesmo, de mãos de gente tradicional do ofício. "Atualmente, estou com duas levas novas, uma de cerâmicas de adorno, que era o que eu já vinha fazendo e uma outra de utilitários, vinda de Cascavel, com prato, petisqueira", ressalta.

"Para mim, não é resgate. Já estava no ar... é um olhar, mesmo, e que bom que esse olhar não é só um olhar meu, um olhar do mundo todo", comenta sobre o momento de evidência do barro no décor.

"Vários países estão cuidando de suas linguagens manuais, acho que por entenderem que elas estavam entrando numa crise. Desde a Revolução Industrial, essa crise já dura aí mais de 100 anos e se não cuidarmos do artesanal ele ia morrer. Então que bom que entendemos que o futuro é feito à mão", conclui.

Charme à mesa: detalhe da louça de cerâmica compondo o estilo
Charme à mesa: detalhe da louça de cerâmica compondo o estilo

Interseção com o estilo

A arquiteta e paisagista de formação Mariana Montenegro é uma fã das cerâmicas. Ela mantém, em parceria com a Bone Ceramics, casadinhas que ajudam a compor o estilo, tudo natural, lembrando classe, origem e pé no chão. O resultado ela compartilha, com dedicação ao que faz, entregue como um diário, quase, no perfil que abriga, virtualmente, o projeto de sua vida, batizado, não por caso, Sensorial. "O Sensorial prioriza o uso de materiais naturais por acreditar que a elegância anda de mãos dadas com a simplicidade", comenta a idealizadora dessa iniciativa, perfumando Fortaleza, com pitadas aqui, outras ali, na maioria das vezes, utilizando-se, de apoio, o barro, na sua forma requintada. "A cerâmica de barro artesanal pode ser usada tanto em mesas rústicas como sofisticadas, tudo depende do que as acompanha, equilíbrio sempre", dá a dica.

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