João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Comparação do número de inscritos e selecionados das edições de 2019 e 2020 do Cine Ceará apontam força da participação cearense e diminuição no número de diretoras
A edição do Cine Ceará em 2020, ano em que comemora 30 edições, terá realização em contexto sem precedentes. Na esteira da edição de 2019 - que ficou marcada por filmes e presenças de peso na seleção, cenário positivo para a produção audiovisual local e presença expressiva de diretoras -, o evento em 2020 traz panoramas diferentes. Observar os números de cada ano, naturalmente, não leva em conta os contextos específicos que os envolvem, mas compará-los aponta, sim, para movimentos e reflexõesrelevantes. Todos os dados presentes aqui foram obtidos em materiais de divulgação do próprio festival ou junto à assessoria de imprensa.
A simples realização do Cine Ceará, chegando à 30ª edição, já é importante por si só - ainda mais em um ano em que grandes festivais foram cancelados, adiados ou reduzidos -, mas também importa observar os movimentosdesenhados num panorama mais amplo. De partida, o número total de inscritos, incluindo longas e curtas, diminuiu de 1271 para 1110 - sendo de 286 para 210 em relação aos longas e de 985 para 900 nos curtas. Até então, o número total era crescente ano após ano, mas a queda é compreensível se levarmos em conta os impactos da pandemia tanto na finalização de filmes quanto, também, na insegurança de cineastas e produtoras em inscrever obras em eventos neste ano.
Mesmo com a queda geral, o número de inscrições de obras cearenses teve oscilaçãopositiva. Em 2019, foram nove longas do Estado inscritos, o que já marcou um recorde. Neste ano, o número subiu para dez. Entre os curtas locais, o salto foi levemente mais expressivo, indo de 102 para 111.
Saindo do universo de inscritos e focando nos filmes selecionados, há expansão no númerototal mesmo com a diminuição de inscrições. De 39 filmes compondo em 2019 as mostras competitivas - ou seja, de longas ibero-americanos, de curtas brasileiros e a Olhar do Ceará, que é voltada à produção local -, chega-se em 2020 a 48. O crescimento maior se deu na Olhar do Ceará, que saltou de 20 filmes para 26 de uma edição para outra.
O aumento nesta mostra em específico faz com que a participação de filmes cearenses até agora confirmados na 30ª edição quase se iguale à do ano passado. Há, ainda, potenciais anúncios que podem expandir a seleção - e a presença cearense -, como as exibições especiais. Em 2019, foram 30 filmes - 22 curtas e oito longas - do Estado somando as três competitivas e os filmes especialmente exibidos. Já em 2020, só a soma das competitivas já chega a 29 - sendo 24 curtas e cinco longas.
Mesmo que o número de cearenses no total em 2020 possa acabar ultrapassando o dado do ano passado após o anúncio das exibições especiais, vale atentar que a participação de obras do Estado caiu nas competitivas de longas ibero-americanos e de curtas brasileiros. Isso mesmo em um cenário, por exemplo, de expansão do total de selecionados na de curtas.
Outra quedavisível ao se comparar as seleções foi a de filmes dirigidos por mulheres. A partir de 2019, a organização do Cine Ceará oficializou, em regulamento, que as mostras competitivas do evento - ou seja, longas ibero-americanos, curtas brasileiros e Olhar do Ceará -, somadas, deveriam ter mínimo de 30% de filmes de diretoras. Na estreia da importante ação afirmativa, o percentual atingido foi 46%.
Em 2020, o percentual de filmes dirigidos por mulheres é de 29,1% - são 14 títulos entre os 48 selecionados. Além do fato de que o número não alcança (mesmo que por margem decimal) o mínimo requerido pela própria organização, vale observar os números absolutos. A participação de mulheres ficou estável na competitiva principal de curtas, mas caiu tanto na competitiva de longas quanto na Olhar do Ceará. Ressalte-se, ainda, que não há divulgação do númerode inscrições por gênero, o que impossibilita saber se a diminuição poderia ser justificada por menos produções assinadas por mulheres inscritas.
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