De um simples cordão surgem projetos que decoram e engrandecem a vida. Danilo Frota, fortalezense de 33 anos, é testemunha. Aos 23 ele embarcou em uma história que renderia um livro, de macramê, se possível. "No início do ano de 2012 eu e mais três amigos de faculdade resolvermos ir de bicicleta para o Chile, com o intuito de participar da Convergência Latino Americana de Permacultura, porém a mesma foi adiada e nós, que já estávamos pedalando, resolvemos mudar de percurso e seguir viagem. Fomos para Bolívia, Peru, Paraguai, além de cruzar por nove estados brasileiros", dimensiona a aventura. Foi nela que ele pôde vivenciar, na prática, o que tinha aprendido lá em Iguatu, interior do Ceará, com um dos amigos da viagem, sobre a técnica a partir apenas de nós.
Além de ter se tornado um hobby naquele momento, o macramê deu "a possibilidade de renda para me manter na estrada", conta Danilo, que também pôde conhecer e trocar experiências com viajantes de afinidades semelhantes pela técnica. "Hoje estou com 33 anos, há dez anos o macramé me acompanha sendo hoje a principal renda da minha família", reflete, "sabendo que há um mundo de possibilidades para produção de peças com cordas, que vão desde estilosos colares (micro macramé) a ousadas cadeiras de balanços, no estilo de macramê que trabalhamos hoje no Têa Ateliê, o macramê moderno", diferenciado pelo amor que há aí junto.
"O Têa Ateliê surgiu do meu encontro com a minha sócia e esposa Taís Jardim, e da nossa necessidade de renda extra, em 2017. Estávamos começando a nos relacionar depois de um reencontro de quase sete anos. Taís estava se graduando no curso de Arquitetura e Urbanismo e eu sempre presenteava ela com colares e pulseiras em macramé. Nas vésperas do aniversário do meu sogro, pai da Taís, decidimos que iríamos fazer juntos um presente para ele. Nessa época vi na Internet um suporte para plantas em macramê e mostrei para Taís. Ela se apaixonou e decidimos que seria um bom presente", Taís também se lembra. Foi quando "comecei a pegar gosto pelo macramê". "Até então nunca havia pensado em aprendê-lo, pois não tinha paciência para dar nós em linhas tão finas em uma escala tão pequena", até, como Danilo, testar novos ares.
"As peças no macramê moderno são feitas voltadas para decoração, em cordões muito mais grossos que as linhas para pulseiras. Ali vimos um encontro de toda a técnica do macramê que Danilo já dominava com meu olhar voltado para arquitetura e paisagismo", relaciona Tais sobre o segundo encontro que foi casar as paixões profissionais de ambos, num modelo de negócio. Quem saiu ganhando, além deles, foi a família. Amigos e pequenas feiras também eram privilegiados em poder comprar o resultado da iniciativa, que passou a ser projeto de vida, literalmente, com a chegada da filha do casal. "Um ateliê vindo da palavra 'Telha' e 'Teia', símbolo do que nos conectava a toda nossa rede de apoio e também às telhas de nossa casa, local de aconchego e cuidado", como se transformou o lar e trabalho de Danilo e Tais.
"Hoje trabalhamos muito com cordões de algodão e também com alguns materiais sintéticos, como o fio náutico. As principais peças que fazemos são suportes para plantas, painéis decorativos e cadeiras suspensas. Também trabalhamos com instalações em locais específicos, estudamos o local e fazemos o trabalho em locus. Geralmente são instalações bem arquitetônicas, como divisórias de ambientes e proteções de guarda-corpo e beliches", onde imprimem algo da formação técnica, mas também humana, comenta Tais.
"É curioso ver como no macramé estamos sempre nos voltando para nossas características e podemos aprender muito com isso. Tem dias que os nós fluem bem e rapidamente, estamos bem focados e presentes no trabalho e conseguimos fazer os acabamentos de maneira fluida. Porém tem dias que não. O macramê tem sido um caminho que nos traz uma qualidade de vida muito boa, perto da nossa família, envoltos à arte, natureza e criação. Exige presença e perseverança. Somos muito felizes de ver como nossa dedicação nos trouxe ao lugar que ocupamos hoje com macramê; vivendo de nossa arte", definem.
Inspiração
O macramê engloba uma grande comunidade online. Em segundos, o sistema de busca é capaz de indexar milhares de páginas relacionadas. De maneira muito fácil, há quem ensine, como quem só compartilha do estilo. Inspiração não falta. Espie alternativas com a técnica de tecelagem.
Macramê Mania
Uma vez em contato com a técnica, há grandes chances de ela, de um jeito bom, te cativar. Foi assim com Angélica Amaro. Ela iniciou a prática aos 14. Não mais parou. “Hoje aos 32 (e à frente da Casa Macramé Mania no Instagram) consigo ver o quanto ele fez/faz parte da minha vida”, começando pela mudança interior. "Sempre fui muito inquieta, desde cedo queria trabalhar e as artesanias me acalmavam e me faziam feliz”, revela.
Para aprender a técnica, que refere ser uma mistura - de crochê, bordado e tapeçaria - a design de interiores, antes de formada, contou com ajuda da professora de reforço. “Lembro que na época fazíamos muitas peças com sisal (barbantes e cordas) ou peças mais delicadas com linhas super finas - as primeiras peças foram em folhas e em barra de saia para exportação”, não as esquece.
Quando entrou na universidade e passou a morar sozinha, se vendo com pouco dinheiro para decorá-la, o aprendizado voltou à tona passando de hobby a oportunidade de negócio. O estudo em design de interiores lhe deu a visão empreendedora que sentia que faltava. “Após isso entendi que tinha encontrado o que amava”, podendo-lhe gerar renda, como reconhecimento na área. E veio.
Além de participar de feiras e eventos, “fiz parcerias com alguns arquitetos e comecei a vender em uma loja colaborativa em SP”, não parando aí. “Com o tempo comecei a ensinar e me apaixonei - hoje tenho alunas particulares on-line e presenciais”, dedica-se também à partilha.
“Fazer macramé é sobre conectar fios com nós e esses fios acabam formando objetos - digo que mostro os pontos de forma leve e que as alunas são livres para conectar segundo seu coração”, respeitando, cada um, algo que Angélica também se viu ressignificando: o manuseio do próprio tempo. “Trabalhos manuais, são trabalhos difíceis e que exigem atenção e vontade de fazer e às vezes a gente desiste antes…”, é franca. “Mas se persistimos”, emenda a macramista, “podemos fazer peças incríveis”, encoraja.
A possibilidade de transformar
Por trás de cada macramê, há uma história que só o destino e os "nós" da tipologia artesanal podem indicar. A do Estúdio Faia entrelaça-se com a de sua criadora, Fabi Mauricio, 36. Fabi é formada em Estilismo e Moda pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e antes de começar com o estúdio era designer de calçados. Hoje, ela surpreende com a diversidade com que dá vida ao macramê. Seu trabalho mais recente foi confeccionar os lustres que agora aconchegam no restaurante Chamego, um charme por lá. Mas também vimos uma cortina que foi para um ateliê, mas, posteriormente, reutilizada para um décor de renovação de votos. Possível? Fabi o torna, além de desejável.
Imersa na pesquisa da técnica desde 2013, a designer não nega o interesse e a paixão pelo que faz. Como aprendizado mais relevante com o macramê que possa destacar, é objetiva: Paciência. "Principalmente quando trabalho com peças grandes (uma cortina de 1mx1m, por exemplo, pode levar até 500 metros de corda). Criar, medir, cortar e tramar, às vezes errar e desfazer… mas sempre com resultado gratificante", orgulha-se.
As peças que mais demoram são os painéis grandes de trama fechada. "Ano passado fiz uma peça de 1,80 m de largura. Vendo essas peças principalmente para fora do estado: São Paulo, Rio e Minas", diz. "Faço de tudo, da embalagem, ao tingimento dos fios até a entrega", detalha. (Os valores variam entre os suportes mini R$ 50 (para suculenta) e o grande (para samambaia) R$ 98. Já as cortinas grandes, custam em média R$ 500, com valores que variam conforme as medidas).