O período entre as duas guerras mundiais ocasionou uma nova relação entre o corpo e as roupas. O vestuário feminino, especialmente, sofreu diversas adaptações, seguindo ao longo da história. Assim os corsets foram substituídos por sutiãs e agora nem mais estes. A liberação do corpo é cada vez mais literal, como uma série de outras peças que se tornaram importantes neste diálogo diretamente com as transformações do comportamento em sociedade. Foi permeado neste turbilhão - de influências e interferências, atualizadas pela moda - que nasceu o biquíni, que parece do Brasil, mas, não. Só a fama.
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Segundo uma publicação produzida por Rogério Rezende e prefácio de Lenny Niemeyer, estilista célebre da moda praia brasileira, o registro de imagem mais antigo de biquínis que se tem notícia foi mostrado em um mosaico romano do século IV, ou seja, mais de 1.700 anos atrás. "Na imagem, veem-se várias mulheres, de saiote e bustiê exíguos, praticando esportes", relembra a obra sugerindo que a criação, mais tarde, em meados da década de 1940, atribuída a dois franceses, Jacques Heim e Louis Réard (com crédito de inventor a este último, por ter apresentado, logo após Heim, no dia 5 de julho de 1946 - daí a data em homenagem -, em Paris, uma versão ainda menor do "maiô" de duas peças, o "bikini", em referência ao local onde se realizava os testes nucleares, na época, em atol de Biquíni, imprimindo na peça a mesma ideia de "bomba atômica"), - oras - não passou de uma reinvenção. Será?
O biquíni, desde então, tem lançado discussões, quebrando tabus do início do século XX, quando se tinha que cobrir, por exemplo, de dia, dos pés à cabeça. Nada a ver com Leila Diniz posando em Ipanema de barrigão de grávida usando biquíni em 1971. A atriz, como o efeito "atômico" esperado pelos desenvolvedores franceses da peça, figurou um escândalo nacional. De longe, nem o primeiro, muito menos o último, aqui, ou em outro lugar, onde o traje, não pasme, já chegou a ser banido.
Até o modelo atual que faz sucesso no Brasil, o de cortininha, recentemente, amarrado sem ser óbvio, dando ainda mais versatilidade ao top, propondo, em outra ótica, um culto à aparência física - e "subversão" -, resgatado lá dos anos 1960, passando mais fervorosamente pelas duas décadas posteriores, com o uso da tanga cavada - asa delta - e fio dental, muita coisa se passou, na história, e o biquíni, como espelhou, "surfou" feito onda.
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Embalou sucessos com bolinha amarelinha, na música - e fora dela -, das praias ao cinema. Vestiu, em 1962, Ursula Andress marcando uma nova era dos biquínis - reconheceu o chefe de aquisições da Profiles in History Brian Chanes em entrevista à Reuters no ano passado, quando o emblemático conjunto branco de "007 e o Satânico dr. No" veio a leilão. "É considerado o biquíni mais famoso do mundo", declarou Chanes. "Isso ajudou os biquínis a se tornarem mais populares e deu início a todo o fenômeno das Bond girl" - acendida por outras musas da sétima arte, Brigitte Bardot, Ava Gardner.
Também tornou-se, nesse meio tempo, saindo um pouco do fator "sex appeal" - que não deixou de existir - para a atualidade - de força de expressão e empoderamento feminino -, a representatividade dos corpos hoje. Diversos. Sem - gênero e ou - cerimônia. Vida longa ao biquíni.
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