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Quão grave é caixa 2
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Quão grave é caixa 2

Sergio Moro já foi mais rigoroso contra caixa dois. Muito mais (Foto: WERTHER SANTANA/AGÊNCIA ESTADO)
Foto: WERTHER SANTANA/AGÊNCIA ESTADO Sergio Moro já foi mais rigoroso contra caixa dois. Muito mais

Finasterida é medicamento para tratar calvície. Se usado por atletas profissionais, é doping. Não por melhorar o desempenho. Finasterida é proibida por mascarar outras substâncias. É usada para esconder o uso de drogas que, elas sim, melhoram desempenho. O mesmo ocorre com caixa dois.

Colocado no Governo para combater corrupção, o ministro Sergio Moro disse ontem que o caixa dois é menos grave. "Houve uma reclamação por parte de alguns agentes políticos de que o caixa dois é um crime grave, mas não tem a mesma gravidade que corrupção, que crime organizado e crimes violentos". Ele acrescentou: "Não, caixa dois não é corrupção. Existe o crime de corrupção e existe o crime de caixa dois. Os dois crimes são graves. Aí é uma questão técnica".

Os crimes não são iguais, mas caixa dois pode ser usado exatamente para esconder corrupção. Foi o PT quem tentou fazer crer que caixa dois era crime menor.

O problema do caixa dois vai além do fluxo clandestino de dinheiro. O principal aspecto a saber é o porquê de os recursos não serem declarados. O motivo pelo qual a verba precisa ficar escondida. Por trás, pode estar corrupção, propina, crime organizado, tráfico de drogas, facções criminosas. Quando o financiamento fica oculto, qualquer coisa pode estar oculta, na busca de emplacar um aliado em espaços de poder.

Quem bem explicou isso foi… Sergio Moro. Em 8 de abril de 2017, ele disse: "Temos que falar a verdade, caixa dois nas eleições é trapaça, é um crime contra a democracia. Me causa espécie quando alguns sugerem fazer uma distinção entre a corrupção para fins de enriquecimento ilícito e a corrupção para fins de financiamento ilícito de campanha eleitoral. Para mim a corrupção para financiamento de campanha é pior que para o enriquecimento ilícito. (...) se eu utilizo para ganhar uma eleição, para trapacear uma eleição, isso para mim é terrível".

O ministro Moro causaria espécie ao juiz Moro.

Conversas, contas e sexo oral

A questão central nos áudios de Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno divulgados ontem é de hermenêutica. Tem a ver com interpretação, uma das questões mais graves e urgentes da atualidade. O presidente e o então ministro trocaram áudios. Para Bebianno, eles conversaram. Para o presidente, mensagem por WhatsApp não é conversa.

Interpretações divergentes já causaram muitos problemas. Eduardo Cunha (MDB-RJ), ex-presidente da Câmara, teve o mandato cassado não por causa das muitas denúncias de corrupção. Ele foi acusado de ter mentido em CPI quando disse não ter conta no Exterior. Aliás, não ter "qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no imposto de renda". Mas, Cunha tinha dinheiro em truste fora do Brasil. Trata-se de forma de investimento na qual o dinheiro é destinado a alguém, que passa a administrar o recurso de modo a dar retorno ao proprietário. Truste é um tipo de conta? Cunha dizia que não. Os deputados entenderam que sim.

Nos Estados Unidos, em 1998, Bill Clinton quase foi cassado, também por ter mentido. Sua frase ficou célebre: "Eu não tive relações sexuais com essa mulher, senhorita Lewinsky". Ocorre que ficou provado que eles praticaram sexo oral. O debate, então, passou a ser: sexo oral é sexo.

Bolsonaro ficou irritado por Bebianno se referir a troca de mensagens como conversa. "Ô, Gustavo, usar da… Que usou do Whatsapp para falar três vezes comigo, aí é demais da tua parte, aí é demais, e eu não vou mais responder a você".

Até dou razão a Bolsonaro quando disse que Bebianno saia por causa de "diferentes pontos de vista" sobre "questões relevantes". O ex-ministro não mentiu. Apenas entendeu que, ao trocar mensagens com o presidente, aquilo configurou diálogo. Porém, também não acho absurdo que o presidente tenha entendido que não estava caracterizado que eles conversaram e que o ministro queria trazê-lo para dentro do escândalo do partido.

Não entendo é a postura de Carlos Bolsonaro. O filho vereador não gosta do ministro. Queria derrubá-lo. Direito dele. Porém, Carlos parece ter manipulado os fatos. O presidente e o ministro travaram comunicação, sim, repetidas vezes. Bebianno não disse nenhum absurdo para motivar a revolta do rapaz. Com o gesto, Carlos atrapalhou muito tanto o pai quanto o governo.

 

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