Os nove governadores do Nordeste se manifestaram por carta sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro, na qual, em café da manhã com jornalistas de veículos internacionais, orienta retaliação aos governos da Região.
No vídeo vazado e divulgado nas redes sociais, Bolsonaro conversa reservadamente com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e se refere ao Nordeste como "Paraíba" — em termo usado de forma pejorativa. Além disso, ele aparece criticando o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). "Dos governadores de 'Paraíba', o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara", declarou Bolsonaro.
Confira o vídeo
Bolsonaro ataca Flávio Dino e diz que “não tem que ter nada com esse cara”. Nenhum presidente pode prejudicar o povo de um estado por conta de diferenças políticas. É um crime contra o povo do Maranhão. #200DiasDeVergonha pic.twitter.com/LAyjewMCLm
— Vanessa Grazziotin (@vanessa_grazz) 19 de julho de 2019
A assessoria do governador Camilo Santana (PT) confirma a assinatura dele na carta. Nela, os chefes dos executivos estaduais afirmam que sempre buscam "manter produtiva relação institucional com o Governo Federal", e que independente "de normais diferenças políticas, o princípio federativo exige que os governos mantenham diálogo e convergências". Na carta, afirmam que receberam a declaração com espanto e indignação.
"Aguardamos esclarecimentos por parte da presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia", finaliza a carta.
O governador do Maranhão, Flávio Dino, respondeu via Twitter as declarações de Bolsonaro. "Independentemente de suas opiniões pessoais, o presidente da República não pode determinar perseguição contra um ente da Federação. Seja o Maranhão ou a Paraíba ou qualquer outro Estado. 'Não tem que ter nada para esse cara' é uma orientação administrativa gravemente ilegal.
A frase vazada sobre o Nordeste e o governador Flávio Dino não foi a única controvérsia do presidente no evento. Bolsonaro disse que “falar que passasse fome no Brasil é uma grande mentira”. Para ele, no Brasil “passa-se mal, pessoas não comem bem, mas fome não”.
“Você não vê gente, mesmo os pobres, pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em outros lugares do mundo”, disse o presidente, sem mencionar nominalmente nenhum país.
Após o evento, Bolsonaro afirmou não saber por que uma “pequena parte” da população passa fome e por que “outros passam mal ainda”. “Olha, o brasileiro come mal. Alguns passam fome. Agora, é inaceitável um país tão rico como o nosso, com terras agricultáveis, água em abundância, até o semiárido nordestino tem uma precipitação pluviométrica maior do que Israel.
Questionado sobre se estava voltando atrás na declaração inicial o presidente fi cou irritado e disse aos jornalistas que “não via nenhum magro”. “Ah, pelo amor de Deus, se for pra entrar em detalhe, em filigrana, eu vou embora. Eu não tô vendo nenhum magro aqui, tá certo? Temos problema alimentar no Brasil? Temos, não é culpa minha, vem de trás, estamos tentando resolver”, disse.