Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Desde 1989, foram oito eleições presidenciais e em sete o candidato que venceu no Nordeste foi eleito. Passou-se a dizer que a região é petista e de esquerda. Mas, antes da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os nordestinos deram vitórias expressivas a Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Até o primeiro governo Lula, PFL (hoje DEM), PMDB (hoje sem o P) e PSDB eram forças hegemônicas na região. Jair Bolsonaro (PSL) é o primeiro presidente do pós-redemocratização a ter perdido no Nordeste.
Historicamente, a região não é um contraponto eleitoral a São Paulo e ao Sul. Claro, tem peso decisivo. É o segundo maior colégio eleitoral do País. Mas, em 2014, Aécio Neves (PSDB) perdeu em Minas Gerais. Não dá para dar a culpa, ou o mérito, só a uma região. O mais comum é o Nordeste estar em sintonia com a percepção do conjunto do Brasil. Em 2014, a balança ficou mais desequilibrada. Em 2018, o cenário foi absolutamente atípico.
Bolsonaro chegou ao poder sem voto majoritário dos nordestinos. Na última semana, foi flagrado em fala que demonstra desdém pelo povo e intenção de retaliar os governadores da região. Hoje, o presidente visita a região pela segunda vez. O momento não poderia ser mais conturbado. Chega em atrito com o governador baiano Rui Costa (PT), que não irá ao ato. Bolsonaro irá inaugurar aeroporto para o qual seu governo não chegou a liberar recursos - o último repasse foi em novembro de 2018, pela administração Michel Temer (MDB).
Um presidente convencional certamente usaria o momento para fazer gestos em relação aos nordestinos e apagar a má impressão dos que chamou de "paraíbas". Como Bolsonaro não é um presidente convencional, vale conferir o que poderá vir de lá.
A estratégia sobre o Nordeste
Historicamente, o voto nordestino não é necessariamente contestador nem de esquerda. O mais comum no voto da região, na verdade, é ser pró-status quo. Lula rompeu isso em 2002. E isso se manteve em 2018, quando o PT já não estava no poder.
Afora essas ocasiões, os governos de plantão costumaram sempre ter força na região. Será Bolsonaro capaz de costurar apoio entre os nordestinos. Situações como as da semana passada atrapalham. Hoje haverá mostra se há estratégia para reverter isso.
Uma coisa importante sobre o Nordeste: a população adora política. No Interior, então, nem se fala. Os políticos nordestinos, sobretudo em pequenos municípios, têm influência determinante no voto local. De modo que renegar a política não é um caminho aconselhável para quem quer ter voto nordestino. O jeito é fazer política. Não é pecado, não é crime, não é feio e não arranca pedaço.
O prefeito preso e as eleições de Uruburetama
Na semana passada, o prefeito de Uruburetama foi preso e expulso do PCdoB. A interrogação que fica é: como ele pode ter sido eleito? Como ficou tanto tempo no partido.
Afinal, as denúncias não são novas. Elas são noticiadas há longa data. Houve investigações antigas. Por que só agora o partido toma atitude?
E, mais grave, como pode a população ter votado em alguém sobre quem pesavam suspeitas tão sérias?
A resposta provavelmente passa por algo muito recorrente em casos de estupro: a desconfiança lançada sobre a vítima serve para proteger o estuprador.
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