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Bolsonaro intervém nos 3 principais órgãos de combate à corrupção
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Bolsonaro intervém nos 3 principais órgãos de combate à corrupção

Mudança na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro gerou instabilidade na corporação
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Rompimento entre Moro e Bolsonaro fez ressurgir método que andava sumido (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil Rompimento entre Moro e Bolsonaro fez ressurgir método que andava sumido

Nos últimos dois meses, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) interferiu diretamente nos três principais órgãos de combate à corrupção no País, que de alguma forma cruzaram o caminho de sua família — a Polícia Federal, a Receita Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Sempre alegando que quem manda é ele, Bolsonaro já admitiu que em alguns episódios agiu para defender familiares.

No mais recente, deixou a PF em estado de alerta. Bolsonaro surpreendeu a corporação ao anunciar a substituição do superintendente no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, alegando "questão de produtividade".

As investigações mais importantes da PF do Rio envolvem a relação de milícias com políticos estaduais e a chamada "rachadinha", prática em que servidores repassavam parte dos salários aos parlamentares e que atingiu um ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

Interlocutores do presidente acusam Saadi de não impedir desmandos nas investigações a Flávio. No Planalto o delegado é acusado de fazer "corpo mole" e deixar o inquérito avançar sem provas.

Em atitude inédita para um presidente, Bolsonaro anunciou que para a vaga de Saadi iria o delegado Alexandre Saraiva, atual superintendente da PF no Amazonas, um amigo da família. A tentativa de interferência levou o comando a PF a encurralar o ministro da Justiça, Sergio Moro, a quem a instituição está subordinada.

Ao longo do dia de ontem, Moro foi avisado que perderia o controle da corporação caso cedesse ao apelo de Bolsonaro. A crise só arrefeceu após o presidente declarar que aceita nomear o delegado Carlos Henrique Oliveira Sousa, superintendente da PF em Pernambuco, para a vaga. A reportagem apurou que o recuo atendeu a um pedido de Moro. No final, o presidente conseguiu o que queria — tirar Saadi — e Moro ficou bem com a PF.

O presidente tem a prerrogativa de vetar qualquer nome indicado pela PF para ocupar cargos de chefia. A escolha, porém, parte do diretor-geral do órgão para evitar interferência política. O superintendente tem o poder de designar os delegados que vão tocar as investigações.

Na Receita Federal, a crise também se agravou depois que o Bolsonaro determinou a substituição do superintendente do órgão no Rio, Mário Dehon, e dos delegados da Receita no Porto de Itaguaí (RJ), José Alex Nobrega de Oliveira, e o da Barra da Tijuca, Fábio Cardoso do Amaral, no rastro de pressão da cúpula do STF, que foi alvo de investigações.

"Fizeram uma devassa na vida financeira dos meus familiares do Vale do Ribeira", disse Bolsonaro em entrevista na última quinta-feira, 15. A reportagem apurou que um dos irmãos do presidente, Renato Antonio Bolsonaro, recebeu um aviso de cobrança da Receita de R$ 1.682. O débito relativo ao e-social de empregada doméstica já foi regularizado.

Assim como a PF, a Superintendência da Receita no Rio também apura ilícitos praticados por milícias em operações no Porto de Itaguaí. O secretário especial da Receita, Marcos Cintra, sugeriu informalmente que o delegado de Itaguaí fosse substituído por um nome indicado pela família Bolsonaro. Dehon, que está com o cargo ameaçado, não aceitou fazer a indicação.

A troca na PF do Rio ainda não foi efetivada, mas Bolsonaro declarou: "Se tiver que mudar a Receita Federal no Rio será mudado". No caso da PF, foi até mais enfático: "Se ele (Moro) resolveu mudar vai ter que falar comigo. Quem manda sou eu." (Agência Estado)

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