O mercado de câmbio teve uma terça-feira agitada, com o dólar renovando máximas históricas e o Banco Central anunciando dois leilões não programados no mercado à vista, movimento que não acontecia desde agosto. Declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, falando que o dólar alto era a nova realidade no Brasil, contribuíram para o estresse e a moeda americana chegou a encostar em R$ 4,28 logo pela manhã. O dia também foi marcado pelo rebalanceamento da carteira teórica do índice do Morgan Stanley Capital Internacional (MSCI), que provocou vendas de ações na Bolsa e retirada de recursos do país, com fundos mundiais fazendo os últimos ajustes para se adequarem. O dólar à vista fechou em alta de 0,61%, a R$ 4,24.
A intervenção inesperada do BC no câmbio repete o movimento feito pela autoridade monetária no dia 27 de agosto, dia em que também houve rebalanceamento da carteira do MSCI. Naquele dia, o dólar chegou a R$ 4,20 e após a operação do BC, a moeda cedeu. Ontem, ao contrário, o dólar mostrou força ao logo de todo dia e renovou máximas mesmo após a primeira intervenção, pouco depois das 11 horas. Na segunda intervenção, às 15h30, após ser negociado a R$ 4,23, acelerou a alta para R$ 4,25. Pela tarde, foi o silêncio de Guedes sobre o câmbio que causou desconforto no mercado.
Economista em Nova York para América Latina do grupo financeiro ING, Gustavo Rangel, avalia que as declarações de Guedes, na segunda em Washington, causaram "ruídos", porque abrem espaço para interpretações sobre a política de intervenção do BC no câmbio, com o risco de irem além do que o ministro quis dizer, observa o economista. Rangel avalia que Guedes tem interpretação correta sobre os movimentos no câmbio e os juros baixos no Brasil, assim como o ministro disse, são um dos principais fatores por trás do real mais enfraquecido. Guedes disse não haver "nenhum problema" com o dólar alto no Brasil, relacionando-o aos juros mais baixos.
Para o sócio da Mauá Capital e ex-diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo, a ação do BC hoje no câmbio coloca por terra a ideia de que o governo gostaria de um dólar mais alto. (da agência Estado)