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Pandemia agrava impactos psicológicos de estudantes
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Pandemia agrava impactos psicológicos de estudantes

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De acordo com a psicóloga clínica escolar, Débora Cipriano, a diferença de oportunidades de recursos e espaços entre os vestibulandos, potencializada pel também reflete na saúde mental daqueles que são menos favorecidos de suportes e ambientes adequados. "É difícil generalizar. Essa sensação de incerteza e insegurança também atinge outras camadas sociais. Porém, cada um está vivenciando essa tempestade em estruturas em barcos diferentes, então uns terão mais medos e sentimentos prejudiciais do que outro" avalia.

Para a psicóloga clínica e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, Marcela Clementino, o ideal é que essa pessoas que apresentam tais dificuldades evitem a comparação social e foquem nas possibilidades atuais. "Na pandemia, eu oriento muito a pessoa aprender a conviver com as adversidades, pois até o ato de tentar tirá-las das nossas mentes é pior para encararmos a situação. É como pensar mais no processo do que o resultado, até porque não teremos controle de tudo" afirma.

Até agora, o Enem impresso será aplicado nos dias 1º e 8 de novembro, e quanto a versão digital, em 22 e 29. Contudo, a manutenção das datas e formatos já é um dos temas mais contestados pelos inscritos. Um deles é o professor da rede pública, Lucas Silva, 23 anos. Há três anos, ele leciona na Escola Estado do Pará, na Aerolândia, experiência a qual o faz acreditar que "nem todos estão recebendo os mesmo aparatos pedagógicos".

Segundo Lucas, o adiamento da prova é a única maneira de garantir igualdade no processo de aplicação das provas durante a pandemia. "Enquanto as escolas particulares estão a todo vapor, produzindo videoaulas, isso e aquilo, e conseguindo atingir o seu objetivo, nós da escola pública temos essa deficiência. Estamos tardiamente fazendo com que, nós professores, estejamos produzindo material, mas nosso alunos não conseguem ser receptores dele, e isso é prejudicial, afirma.

BATE-PRONTO: Marcela Clementino, psicóloga clínica e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.

O POVO+: Que impacto a pandemia do novo coronavírus traz para a saúde mental de pessoas que prestarão o Enem?

Marcela Clementino: Quando falamos do pré-vestibular isso já causa uma certa ansiedade, pois é uma situação onde geralmente os estudantes acreditam que vão decidir a vida deles naquele momento. Quando adiciona-se uma situação que causa ainda mais instabilidade, como uma pandemia, isso acaba fazendo com que o aluno tenha até sintomas físicos que dificulte a concentração e atrapalhe a rotina de estudo, necessário para o lidar com o vestibular. A pandemia acaba aumentando a questão da vulnerabilidade emocional e impacta diretamente no desempenho do aluno, é mais um fato que causa instabilidade e afeta a rotina

OP+: Quando se fala sobre ensino à distância, consideramos espaços que deveriam ser tão eficazes quanto aqueles disponíveis no ambiente presencial de ensino-aprendizagem. Porém, nem todos os vestibulandos têm essas mesmas oportunidades de recursos e espaços. A falta destes suportes reflete na saúde mental?

Clementino: A preparação do Enem é quase uma corrida e quando a gente fala de um ambiente propício para poder estudar, muitas pessoas que possuem espaços mais adaptados e confortáveis acabam largando na corrida muito na frente. No entanto, para as pessoas que ficam para trás é possível que estas adquiram insegurança, impotência e desesperança, pois sempre vão precisar de um esforço muito maior para alcançar aqueles objetivos, pois o dia a dia fica bem mais complicado. Alunos que não tem base sólida em relação a outros podem desenvolver sentimentos comparativos que afetam a autoestima, a expectativa do futuro e até a forma como a pessoa se vê fazendo a prova, então é possível haver desistência e aquele fenômeno de “pular o ano”.

OP+: O isolamento em casa também desafia muitas pessoas a conciliar as atividades domésticas com os estudos, o que pode tornar o ambiente insalubre. O que pode ser feito neste caso?

Clementino: Conciliar os estudos com outras atividades em casa pode atrapalhar na disciplina e na motivação. O ideal é que a pessoa crie uma rotina. Porém você não deve olhar para sua rotina como um peso, mas como um suporte que possibilite fazer tudo funcionar no momento. A rotina deve ser criada como um sinal de segurança de algo que a pessoa consegue fazer e, a partir daí, possibilitar um certo direcionamento.

OP+: Nessas situações, como essas pessoas podem se sentir melhores para estarem psicologicamente para enfrentar o vestibular?

Clementino: O ideal é que essas pessoas que apresentam essas dificuldades tentem sempre olhar para o que está ao seu alcance, para que elas consigam ter o controle da situação e se sentirem mais seguras. É sempre fazer o que pode. Claro que há limites emocionais e físicos, mas trabalhar para ter a segurança que tudo que ela deseja irá alcançar em algum momento. É como pensar mais no processo do que o resultado, até porque não teremos controle de tudo. A dica é focar no presente e fazer no que for possível com o que se tem. Na pandemia eu oriento muito a pessoa aprender a conviver com as adversidades, pois até o ato de tentar tirá-las das nossas mentes é pior para encararmos a situação. As pessoas têm que olhar o Enem como um objetivo que vai ser alcançado em algum momento e vai ser no tempo de cada um. Evitar a comparação social, mas olhar no que você pode fazer.

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