Parlamentares da oposição começam hoje uma pressão mais intensa para que o Congresso Nacional instale uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), cujo objetivo seria investigar denúncia feita à Folha de S. Paulo na edição de ontem, segundo a qual o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, soube antecipadamente que seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, seria alvo de operação da Polícia Federal. A informação teria vindo de um delegado da Polícia Federal. A revelação foi dada ao jornal pelo empresário Paulo Marinho, apoiador do governo de Bolsonaro e suplente de Flávio, e pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PSDB.
Para Fernando Haddad, do PT, derrotado por Bolsonaro no segundo turno da disputa presidencial de 2018, a situação configura uma fraude. Em sua página do Twitter, ele escreveu que "conforme suspeita, suplente de Flavio Bolsonaro confirma que PF alertou-o, entre o 1° é o 2° turno, de que Queiroz seria alvo de operação, que foi postergada para evitar desgaste ao clã durante as eleições. Isso se chama FRAUDE!". Correligionário de Haddad e líder da Minoria na Câmara, o deputado federal cearense José Guimarães acusa Bolsonaro de ter ganho "uma eleição fraudando-a, estabelecendo métodos e práticas que precisam ser investigadas para anular essa eleição. Temos que instalar, imediatamente, a CPI das eleições".
A ideia de anular as eleições já faz parte, também, do discurso de parte da oposição a Bolsonaro pela direita, de parlamentares que até outro dia estavam na sua base. É o caso do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), para quem a comprovação das denúncias, caso aconteça, pode levar "o TSE a anular as eleições de 2018 e cassar a chapa Bolsonaro/Mourão, obrigando a que se faça novas eleições ainda em 2020".
A operação que teria sido antecipada para Flávio seria a Furna da Onça, deflagrada pela Polícia Federal em 8 de novembro de 2018, e que envolveria o ex-assessor do parlamentar, Fabrício Queiroz. A operação foi deflagrada para para investigar a participação de deputados estaduais do Rio em esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos e mão de obra terceirizada em órgãos da administração estadual.
O caso envolveu Queiroz por um possível esquema de "rachadinhas" - desvio do salário pré-acordado de funcionários ou de "servidores fantasmas" - para compras e vendas superfaturadas de imóveis com o uso de dinheiro público.
A operação Furna da Onça se originou após a investigação denominada Cadeia Velha, que culminou na prisão dos deputados estaduais acusados em atuar na concessão de benefícios fiscais em favor de determinadas empresas e empreiteiras. Alexandre Ramagem foi o titular da investigação que deu origem à operação. O delegado foi nomeado por Bolsonaro como diretor-geral da Polícia Federal. Entretanto, a nomeação foi suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).