O ex-presidenciável e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) defendeu ontem uma costura política que reúna PT e PDT para derrotar o candidato ligado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa pela Prefeitura de Fortaleza em 2020.
Em entrevista exclusiva ao O POVO, o pedetista afirmou que trabalha para carrear ao nome do governismo municipal o mesmo arco de partidos que dão sustentação a Camilo Santana (PT) à frente do Abolição.
"Vamos tentar replicar a aliança que funciona ao redor da liderança do prefeito Roberto Cláudio e da liderança do governador Camilo Santana", revelou. "Inclui o PT de Camilo, o DEM do Moroni (atual vice de RC) e o PSD. A nossa diretriz é essa. Vamos ver se a gente consegue essa proeza nestes tempos difíceis."
De acordo com Ciro, um dos obstáculos para esse entendimento entre PT e PDT na capital cearense é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Lula vai tentar de novo sabotar (uma aliança)", avaliou.
Na cidade, o PT deve apresentar como participante da corrida neste ano a deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins, uma notória opositora do grupo dos Ferreira Gomes. Outros que estão no páreo são os também deputados Capitão Wagner (Pros) e Heitor Freire (PSL), ambos do campo conservador.
Questionado sobre quem concorrerá ao Paço pelo partido brizolista, Ciro respondeu que o processo está sob comando do prefeito e que ele atuará apenas como "um conselheiro", enquanto o senador Cid Gomes (PDT) estará voltado prioritariamente para o Interior.
Ele admitiu, todavia, que não há hoje candidato natural dentro da legenda - o prazo para desincompatibilização de virtuais interessados no pleito se encerra na próxima quinta-feira, 4, conforme calendário da Justiça Eleitoral.
Sobre o cenário político fortalezense, o ex-governador declarou que o objetivo do PDT é impedir o sucesso do bolsonarismo no Ceará. "Não podemos dar em Fortaleza uma vitória a Bolsonaro. Eleger alguém ligado ao presidente aqui é um sinal mortal de que o Brasil não vai ter condições de suportar esse governo trágico que nós temos", advertiu.
Embora não seja o único pré-candidato ligado ao chefe do Executivo nacional, Capitão Wagner é o que tem mais potencial. Em 2016, apenas quatro anos depois de se eleger vereador, chegou ao segundo turno contra RC, que concorria à reeleição e o derrotou. Em 2018, foi eleito para a Câmara dos Deputados como campeão de votos.
Para Ciro, no entanto, as crises de segurança no início do ano e agora a de saúde mostraram "os limites dele". E, agora em tom mais duro, acrescentou: "O Wagner é um miliciano. Estava por trás daquele motim (da PM). Caiu a máscara".
O ex-ministro acusou ainda o parlamentar de liderar esquema com apoiadores. "Wagner, com dinheiro público, é quem financia essa estrutura de bandidos que estão ao redor dele. É major não sei das quantas, sargento não sei das quantas, capitão não sei das quantas, cabo não sei das quantas, delegado não sei das quantas...", continuou. "Será que o nosso povo quer ser governado por uma milícia de bandidos? Duvido muito. Acho que ele vai tomar uma lição muito certa."
Procurado pela reportagem, Wagner rebateu as críticas. "Se ele está cogitando a possibilidade de se render ao PT para me derrotar, está com muito medo da derrota", devolveu o deputado federal. "Ciro sabe que a derrota dele aqui inviabiliza o projeto pessoal dele. Saber que ele está batendo em mim é uma maravilha."
O parlamentar assegurou que está tranquilo, que o pedetista não merece credibilidade e que já o desafiou a enfrentá-lo em Fortaleza, "mas ele não tem coragem e vai botar um qualquer (para concorrer à Prefeitura)".