O economista Carlos Alberto Decotelli, nomeado ministro da Educação semana passada, deixou o governo ontem antes mesmo de tomar posse. Após seu currículo ter sido questionado por universidades estrangeiras e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o governo pediu que ele entregasse carta de demissão, aceita em seguida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Decotelli ficou cinco dias no cargo. Foi o terceiro a assumir o MEC em um ano e meio de governo.
O Planalto não informou o substituto de Decotelli e analisa vários nomes para um anúncio o mais rápido possível. Até a noite de ontem, um dos mais cotados para assumir a pasta é o atual reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correa. Ele presidiu em 2019 a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao MEC, quando foram cortadas milhares de bolsas de mestrado e doutorado. Tem apoio tanto da ala militar quanto dos evangélicos, já que segue a religião. É formado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e fez carreira no ITA.
Decotelli confirmou, em entrevista à CNN, que a gota d'água para o pedido de demissão foi a nota da FGV desmentindo que ele seria professor da instituição. Segundo ele, a fundação mentiu. Procurada, a FGV disse que reitera as informações dadas anteriormente, de que ele "foi professor colaborador dos cursos de formação executiva".
Na nota, a FGV informa que Decotelli não foi pesquisador ou professor da instituição. Bolsonaro se irritou ao saber de nova incoerência no currículo do indicado, que já teve doutorado e pós-doutorado questionados por universidades estrangeiras e é acusado de plágio no mestrado, o que Decotelli nega.
O governo, então, passou a pressioná-lo para que apresentasse a carta de demissão. Ele perdeu apoio do grupo militar que o indicou ao governo. Segundo o texto da FGV, cursou mestrado na instituição, concluído em 2008, "atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer uma das escolas da Fundação".
A situação é comum na instituição em cursos latu sensu, como MBAs. Professores são chamados como pessoa jurídica e atuam só em períodos específicos e não integram o corpo docente permanente da instituição. "O presidente disse que se até a FGV estava negando que fui professor era inviável continuar", disse Decotelli à CNN. (Agência Estado)