Um interlocutor próximo a Eunício Oliveira, presidente do MDB no Ceará, afirmou ontem reservadamente ao O POVO que se o PT for à disputa da Prefeitura de Fortaleza representado por Luizianne Lins (PT), ou seja, sem aliança com o PDT dos irmãos Ciro e Cid Gomes, um acordo eleitoral entre as duas legendas fica muito próximo de acontecer. O MDB, nessa situação, indicaria o vice da chapa encabeçada pela petista.
Nos termos usados por esse emedebista, com Luizianne "pura" na corrida, "aliamos com ela". No sentido empregado por ele, "pura" significa apenas sem a companhia dos ferreiragomistas na coligação que se formará com intuito de ir rumo ao Paço Municipal. "Nossa impossibilidade é com o Roberto (Cláudio) e os Ferreira Gomes, que traíram abertamente a aliança feita com o MDB e votaram massivamente com (Eduardo) Girão", prosseguiu.
A fala remonta 2018, ano em que a derrota nas urnas do ex-presidente do Senado significou para ele rompimento com o prefeito de Fortaleza. A reclamação de Eunício é de que RC não ofereceu o devido apoio político na campanha à reeleição, conforme tinham combinado.
O MDB, contudo, mantém outras frentes de negociação abertas, inclusive com atores divergentes do PT do ponto de vista político. Capitão Wagner (Pros) e Heitor Férrer (SD), nessa ordem de prioridade, estão no radar do partido.
Também pré-candidato, Heitor Freire (PSL) era outra possibilidade da legenda de Eunício. O pesselista afirmou que por ora as tratativas estão encerradas, apesar de o canal de diálogo permanecer aberto.
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O governador Camilo Santana (PT), por sua vez, quer ver o PT no arco do PDT, motivo pelo qual exonerou o ex-assessor especial Nelson Martins, filiado histórico que serviria como candidatura de consenso. Os pedetistas, contudo, não demonstram interesse de abdicar da cabeça da chapa.
"Nenhum entendimento sequer discutido", disse resumido André Figueiredo, dirigente estadual do PDT. Fortaleza é a maior capital governada pelo partido e, além disso, a agremiação apresentou cinco pré-candidatos ao eleitor.
Luizianne teria afirmado que considera deixar a disputa somente se Nelson conseguir gerar consenso entre os partidos da base de Camilo, a ponto de liderar a frente de centro-esquerda contra Wagner.
Defensor dos interesses do governador dentro do PT, o deputado estadual Acrísio Sena concorda que apenas nesses termos Luizianne declinaria de uma quarta candidatura ao Executivo.
"Está pacificado com a Luizianne, está pacificado com o Camilo, está pacificado com o Lula. (...) Se não tiver acordo, infelizmente, cada um vai para o seu lado, fazendo pacto de preservar boa relação para o segundo turno."
Na contramão do interlocutor de Eunício, Sena entende que eventual coalizão de forças capitaneada por Martins seria capaz até mesmo de tornar o MDB um aliado.
O deputado estadual Walter Cavalcante (MDB) avalia que a possibilidade é considerável, com a ponderação de que é pouco provável Eunício estar em mesmo palanque que os líderes pedetistas.
Em mais um movimento para pavimentar o caminho de Nelson, Acrísio lançou na última quarta-feira manifesto em prol da união das forças progressistas na Capital. A carta fala na ameaça de vitória bolsonarista nas urnas e na importância de Camilo ser o principal cabo eleitoral, o que não ocorreria com Luizianne candidata.