Em cerimônia no Palácio do Planalto ontem, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) adotou o enfrentamento como estratégia para reagir às críticas que vem sofrendo. Na cerimônia de lançamento da retomada do turismo, ele voltou a falar que a pandemia da Covid-19 está "superdimensionada". No Brasil, mais de 5,6 milhões de pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus, e mais de 162 mil pessoas já morreram.
"Vocês foram na lona nessa pandemia, que foi superdimensionada", disse ele a empresários do setor de turismo. "Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um País de maricas", afirmou. Mais adiante, elevou o tom contra os jornalistas. "Olha que prato cheio para a imprensa. Para a urubuzada que está ali atrás", disse, apontando para o local reservado a jornalistas.
A sequência de declarações explosivas - que incluiu fala em tom de ameaça ao presidente eleito dos EUA Joe Biden - ocorreu após o presidente ter comemorado a interrupção dos testes da vacina chinesa contra o coronavírus, tornando-se alvo de críticas.
"Mais uma que o Jair Bolsonaro ganha", escreveu ele no Facebook em mais um capítulo da disputa com o governador João Doria (PSDB). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse que adotou a medida após a morte de um voluntário. As informações são de que o óbito não teria ocorrido em decorrência do imunizante. Segundo a Polícia Civil de São Paulo, a causa da morte teria sido suicídio.
O governador do Ceará Camilo Santana (PT) se manifestou nas redes sociais sobre as declarações do presidente em relação à vacina. "Grave e inaceitável que uma questão que envolva vidas, como o importantíssimo processo de desenvolvimento de uma vacina contra a Covid, seja transformado numa disputa política mesquinha em nosso país. Os brasileiros não merecem isso", publicou o governador.
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Em um pronunciamento de quase 20 minutos, no qual retomou seu estilo "bateu, levou", o presidente disse ontem que sua vida é "uma desgraça". Afirmou, ainda, que não tem "tesão" pela cadeira de presidente. "A minha vida aqui é uma desgraça, é problema o tempo todo. Não tenho paz para nada. Não posso mais tomar um caldo de cana na rua, comer um pastel, assim quando saio vem essa imprensa perturbar, pegar uma piada que eu faço com o Guaraná Jesus para tentar me esculhambar", disse.
Depois, ao criticar o movimento político que tenta lançar uma candidatura de centro em 2022, voltou a citar a palavra "marica". "Então, pessoal, temos que buscar mudanças, não teremos outra oportunidade. Vem a turminha falar 'queremos um centro', nem ódio pra lá nem ódio pra cá. Ódio é coisa de marica, pô! Meu tempo de bullying na escola era porrada."
As articulações para uma aliança de centro com o objetivo de enfrentar Bolsonaro em 2022 têm se intensificado com conversas entre o apresentador Luciano Huck, o ex-ministro Sérgio Moro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "Entre pólvora, maricas e o risco à hiperinflação, temos mais de 160 mil mortos no País, uma economia frágil e um estado às escuras", escreveu Maia no Twitter.
Entre pólvora, maricas e o risco à hiperinflação, temos mais de 160 mil mortos no país, uma economia frágil e um estado às escuras. Em nome da Câmara dos Deputados, reafirmo o nosso compromisso com a vacina, a independência dos órgãos reguladores e com a responsabilidade fiscal.
— Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) November 10, 2020