Laudo da Polícia Federal (PF), ao qual O POVO teve acesso, atesta ser autêntico o áudio em que o deputado estadual e candidato a prefeito de Aquiraz, Bruno Gonçalves (PL), é escutado numa conversa com Maninho Palhano (Pros) cujo objetivo era atraí-lo para o PL, partido da base do prefeito Roberto Cláudio (PDT). O diálogo envolvia oferta de vantagens financeiras.
O documento de 40 páginas é assinado pelo perito criminal Rodrigo Gurgel Fernandes, da PF. Foi finalizado em 30 de outubro e anexado nesta quarta-feira, 11, à investigação conduzida pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).
O órgão apura abuso de poder econômico supostamente praticado por Bruno Gonçalves e pela mãe, a vereadora Marta Gonçalves (PL).
O laudo rechaça a tese aventada por alguns setores do governismo, inclusive pelo presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, José Sarto (PDT), de que o conteúdo que veio a público teria sido alvo de edições.
A perícia do áudio era aguardada para que essa interrogação fosse elucidada. Na Casa, há ação no Conselho de Ética contra Gonçalves impetrada pelo Pros.
O deputado estadual André Fernandes (Republicanos), que já amargou suspensão de 30 dias, é um dos que pressionam a Assembleia por celeridade no processo interno.
"Os resultados observados nas diversas análises são compatíveis com a hipótese de o áudio questionado ser original e ter sido capturado pelo aparelho questionado (de Maninho)", anota o perito criminal.
Gurgel Fernandes continua: "A análise de MAC Times sugere que a captura do áudio foi pausada ou que houve demora na confirmação de salvamento ao final da gravação, entretanto as análises acústicas perceptuais/assistidas do sinal não evidenciaram nenhuma edição por 'pausa'."
O áudio em estado puro possui 20 minutos 49 segundos e não 15 minutos e 13 segundos, como inicialmente havia sido dito. A diferença entre os dois tempos é de um silêncio: o tempo em que Palhano, autor da gravação, se retira do local da conversa e encerra a captação feita pelo celular. Conforme o relatório indica, o diálogo entre os dois ocorreu em 11 de fevereiro de 2020.
No áudio vazado, Gonçalves oferece dinheiro a Palhano, "nem que seja do fundo partidário", que é público, em troca do seu ingresso no PL.
A proposta lançada pelo parlamentar cearense visava a reeleição da mãe, a vereadora de Fortaleza Marta Gonçalves (PL), que logo migraria do Legislativo para o Executivo Municipal.
Marta é candidata à reeleição e esteve à frente da Coordenadoria Especial de Política sobre Drogas da Prefeitura de Fortaleza.
O deputado então detalha a Palhano como se daria o movimento: "Nós estamos numa negociação com o Roberto (Cláudio) de entregar para ele o PL. Em contrapartida, ele montaria o partido para fazer três a quatro vereadores, onde só teria de mandato minha mãe, que seria uma das vagas, porque ela, sendo eleita, vira secretária de novo, porque na Câmara ela dá muito trabalho a gente."
Já indagado sobre o áudio por O POVO, Bruno Gonçalves não pôs sob suspeição a autenticidade do que foi gravado. Ele afirmou, no entanto, que numa conversa de negociação as propostas são extremadas e, por vezes, fantasiosas, de modo a seduzir o interlocutor - no caso, Palhano.
"Não tenho nada para esconder. Na minha visão, tudo que tinha ali não tem nada de irregularidade, inclusive já prestei esclarecimentos ao Ministério Público Eleitoral e tudo foi esclarecido", ele afirmou à ocasião.
Foi esse o teor do depoimento dele à promotora Ann Cely Sampaio, da 1ª Zona Eleitoral, que conduz o caso. O POVO também teve acesso ao depoimento dele por vídeo, com duração de 52min29seg. Marta Gonçalves também foi escutada na condução da apuração.
No laudo, a data de conclusão informada é de 14 de setembro. Como a anexação aos autos do procedimento do MPCE foi feita somente nesta quarta-feira, 11, O POVO questionou a promotora Ann Cely Sampaio sobre as razões para um intervalo de quase dois meses entre a conclusão do documento e a anexação ao processo.
Ela respondeu que a Polícia Federal errou a digitação, isto é, que o laudo está pronto desde o dia 30 de outubro. Ela enviou à reportagem do O POVO um ofício em que o perito Gurgel Fernandes retifica o erro.
A matéria foi atualizada às 11h51min. O termo "adulterações", no quarto parágrafo, foi trocado por "edições."