Previa-se um resultado que refletisse o acirramento visto no segundo turno, mas João Campos (PSB) se elegeu prefeito de Recife com significativa margem de votos sobre Marília Arraes (PT). Percentualmente, 56,27% a 43,73% dos votos válidos. A vitória contrariou os institutos de pesquisas. Ibope e Datafolha, na véspera, registraram empate de 50% a 50% em seus levantamentos.
Com 27 anos, Campos será o mais novo gestor de capital da história do Brasil. Ele adotou tom ameno no primeiro turno, lançando mão de expedientes mais agressivos na segunda etapa contra a prima de segundo grau.
O componente antipetista foi presente na campanha do jovem. Fez acenos ainda ao eleitor evangélico. Mensagens como "quem é cristão não vota em Marília" circularam na capital de Pernambuco. A campanha do PT, por sua vez, chegou a classificar o socialista como "mijão".
Para alguns a mais acirrada do Brasil, a corrida ao Executivo de Recife não só dividiu o clã do ex-governador Miguel Arraes como também separou dois partidos historicamente aliados.
Afastada de Lula, a legenda socialista se desloca agora no sentido de Ciro Gomes (PDT). O PSB foi aliado preferencial do PDT em vários municípios do País, como Fortaleza e São Paulo.
O pedetista ficou perto de contar com o partido em 2018, mas uma costura de Lula envolvendo a própria Marília, que sairia da disputa para apoiar a reeleição de Paulo Câmara (PSB) ao Governo de Pernambuco, resultou no isolamento de Ciro. O PSB ficou neutro.
Os ventos são outros na relação entre Ciro e o PSB. Se o prefeito de Recife, Geraldo Júlio (PSB), e Câmara foram distantes da campanha em razão do desgaste que amargam, o líder do PDT trabalhou por João Campos.
De modo que o PSB está mais na órbita dos trabalhistas do que de qualquer outra legenda.
"Ciro apoiou desde o início e, consequentemente, o próprio acordo com o PT foi rasgado em virtude dessa agressividade da campanha entre Marília e João Campos. Então, a tendência é de o PSB passe a caminhar com o PDT no debate nacional", observa Adriano Oliveira, cientista político e professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Na percepção de Rodrigo Prando, sociólogo e cientista político, cabe ao PT se lançar ao exercício que alguns setores costumeiramente cobram: o da autocrítica.
Pela primeira vez na história, a legenda fica sem o comando de nenhuma capital, um dos motivos pelos quais nas fileiras do petismo a disputa em Recife foi encarada com unhas e dentes.
"O PT, se for sempre estar de braços dados com o Lula, vai ter problemas. O PT não abre mão de nada, e aqui também com relação ao Recife, o PSB era um aliado do PT, enfim, tinham afinidades", observa o docente. Embora pondere que de 2020 para 2022 muita coisa há de acontecer, ele concorda com Adriano sobre o PSB estar mais perto do projeto de Ciro.