Presidente estadual do PT no Ceará, Antônio Filho, o Conin, avalia que as declarações recentes do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) criam dificuldades para a formação de uma frente de partidos de esquerda para 2022.
Em entrevista na última segunda-feira, 30, Ciro afirmou que o "brasileiro mandou o lulopetismo radical e o bolsonarismo boçal embora" nas eleições do último domingo, 29.
O pedetista também disse que "Flávio Dino (governador do Maranhão pelo PCdoB) resolveu não apoiar ninguém" no segundo turno, mas "foi votar com camiseta 'Lula livre'". E declarou: "Eles perderam um pouco a noção da realidade. Ganhou essa eleição quem soube interpretar a realidade do país com humildade".
Ciro acrescentou ainda que "Boulos (candidato do Psol em São Paulo) chegar aonde chegou significa que agora você pode expressar uma predileção com a esquerda radical sem ter que explicar os fracassos do PT" e que "eles vão perder" porque "não têm humildade nem capacidade de compreender e se reconciliar com o povo".
Para Conin, Ciro "não contribui e não ajuda" ao atacar potenciais aliados para as eleições de 2022. "Esses ataques não contribuem. E não tem esse ambiente de hostilidade, acho que destoa, essa postura destoa do ambiente", repete.
O petista cita o caso de Fortaleza, onde todas as legendas de esquerda e centro-esquerda convergiram para o apoio ao candidato José Sarto (PDT), um aliado de Ciro, contra Capitão Wagner (Pros), que tinha a preferência declarada de Jair Bolsonaro (sem partido).
"Veja o caso da capital cearense, o PT apoiou o PDT apesar do que o Ciro fez em 2018, quando foi para Paris. Não tivemos a mesma postura", rebateu Conin, para quem as siglas ideologicamente alinhadas precisam fazer esforço de diálogo no campo progressista.
"Olhe a resposta do Dino, que preferiu não polemizar porque esse projeto tem que estar além das personalidades. "Nosso eleitorado quer isso, se vamos conseguir ou não, é outra questão", continua o dirigente. "As divergências programáticas não são muitas, é mais a questão do protagonismo, e isso é o momento histórico que vai definir."
Ex-candidato à Prefeitura e deputado estadual pelo Psol, Renato Roseno concorda com que as agremiações à esquerda têm de considerar esse bloco e que isso "importa em dedicar tempo e esforços nesse diálogo desde agora e não somente em 2022".
Uma condição inicial, aponta o psolista, é "saber do que se pode ceder e do que não se pode ceder" e, a partir daí, "começar a pensar um programa mínimo" que passe "necessariamente por pautas de defesa da democracia, profunda alteração da agenda econômica, recuperação da rede de proteção social, políticas ambientais robustas e nova agenda de relações internacionais".
Sobre a possibilidade de que esse representante se apresente fora de PT e Psol, Roseno respondeu que "é cedo para falar em nome, mas é evidente que precisamos de um que encarne e apaixone as maiorias".
Deputado federal e presidente estadual do PSB, Dênis Bezerra diz que os "resultados das eleições de 2020" firmaram "uniões dos partidos do mesmo campo político" e que essas alianças obtiveram sucesso nas urnas.
Essa configuração, sugere o parlamentar, é uma alternativa para 2022. "Os campos políticos de centro-esquerda e centro-direita têm que realmente fazer uma reflexão e pensarem de forma coletiva um projeto para o Brasil", propõe.