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Bolsonaro muda discurso e diz que vacina "é do Brasil"
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Bolsonaro muda discurso e diz que vacina "é do Brasil"

Quebrando silêncio após São Paulo sair na frente em vacinação, o presidente voltou a questionar a coronavac e disse que Forças Armadas garantem a democracia no País
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 DEPOIS de liberar verbas de emendas a parlamentares, Bolsonaro praticamente elimina possibilidade de impeachment (Foto: Alan Santos/Presidência da República)
Foto: Alan Santos/Presidência da República  DEPOIS de liberar verbas de emendas a parlamentares, Bolsonaro praticamente elimina possibilidade de impeachment

Um dia após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sair na frente e iniciar o processo de vacinação no País, Jair Bolsonaro (sem partido) quebrou silêncio sobre o tema e afirmou que a vacina Coronavac, produzida em parceria entre o Instituto Butantan e a chinesa Sinovac, “é do Brasil”. “Não é de nenhum governador não”, disse, a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

Apesar da vacina... apesar não, né? A Anvisa aprovou, não tem o que discutir mais”, disse Bolsonaro. “Agora, havendo disponibilidade no mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos também, que era para ter chegado a vacina aqui", continua, em vídeo que foi publicado nas redes sociais por um canal aliado do presidente.

A fala ocorreu na manhã de ontem, quebrando silêncio de Bolsonaro que vinha desde a tarde de domingo, quando o Governo de São Paulo realizou evento marcando o início do processo de imunização. A fala marca também uma mudança no discurso do presidente, que já criticou a Coronavac e se referiu ao imunizante como “vacina chinesa do João Doria” por diversas vezes.

Na conversa com apoiadores, o presidente voltou a lançar dúvidas sobre a eficácia da vacina, a primeira a ser aprovada, junto com o imunizante de Oxford e da AstraZeneca, e a ter uso emergencial autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "É uma vacina emergencial, 50% de eficácia. É algo que ninguém sabe ainda se teremos efeitos colaterais".

Ignorando recomendações de cientistas de todo o mundo, inclusive da Anvisa, Bolsonaro também voltou a defender o "tratamento precoce" contra a Covid-19, que utiliza medicamentos que não passaram em testes de eficácia contra a doença.

"Não desistam do tratamento precoce. Não desistam, tá? A vacina é para quem não pegou ainda. E esta vacina que está aí é 50% de eficácia. Ou seja, se jogar uma moedinha para cima, é 50% de eficácia”.

Forças Armadas, democracia e ditadura

Diante da pressão, o presidente também subiu o tom ideológico, mandando recado para críticos do governo e afirmando que “quem decide se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura são as Forças Armadas”. "No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor destes homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar", disse.

A declaração provocou uma série de reações entre membros do Congresso. "O presidente flerta, mais uma vez, com o acirramento na relação com as instituições, o que é muito grave. É uma frase recorrente, muito próxima de desrespeitar a Constituição. Agora volta, no meio da pandemia, num sinal de desespero em relação à completa falta de gestão do seu governo e do seu Ministério da Saúde", disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-SP), ao Estadão.

Para o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o Congresso e o Supremo Tribunal Federal precisam estar atentos a Bolsonaro. "Só um cego não percebe o caminho que o presidente está traçando na sua trajetória. É importante e urgente que tanto o Congresso brasileiro quanto o Supremo tomem consciência do que está acontecendo", destacou.

Na noite de ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou nota desmentindo informação repetida por Bolsonaro de que a Corte teria impedido o Planalto de atuar na crise da Covid-19. A nota diz que a Corte apenas deu autonomia a Estados e municípios para, levando em conta o contexto local, determinarem medidas de isolamento social e enfrentamento à doença.

Relator da Lava Jato no Supremo, o ministro Edson Fachin disse que duas pragas afligem atualmente o Brasil: a pandemia de Covid-19 e "as mentes autoritárias e suas variações antidemocráticas". O ministro ainda defendeu o STF após a tentativa do presidente Jair Bolsonaro de responsabilizar a Corte pela crise sanitária.

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