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Lira e Rossi travam disputa marcada por interferência de Bolsonaro
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Lira e Rossi travam disputa marcada por interferência de Bolsonaro

| decisão | Os 513 deputados federais decidem hoje quem será o próximo presidente da Câmara, em disputa que promete dar nova força ao Planalto no parlamento
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Após fim de semana de negociações, articulações de bastidores e jantares de adesão, os 513 deputados brasileiros definem hoje o próximo presidente da Câmara Federal. Polarizada entre o candidato de Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), e o de Rodrigo Maia (DEM-RJ), Baleia Rossi (DEM-RJ), a disputa definirá rumos da política nacional pelos próximos anos.

Entre parlamentares, circula tabela atribuída à campanha de Lira que contabiliza 217 votos para o deputado do PP, contra 125 para Baleia Rossi. A "virada" ocorre após semanas de intenso envolvimento do Palácio do Planalto na disputa, incluindo mudanças em diretorias de órgãos federais e liberação de até mais de $ 3 bilhões em emendas para bases de congressistas.

Ameaçado no cargo por 59 pedidos de impeachment, Jair Bolsonaro investiu pessoalmente na costura de acordos e na cooptação de votos para Lira. Na prática, a vitória significaria uma "blindagem" a mais para o presidente, uma vez que o deputado do PP já indicou, por exemplo, ser contrário à instalação de um processo de impedimento ou de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar erros do governo na crise da Covid-19.

A vitória de Lira também coroa acordo de Bolsonaro com o Centrão. O grupo de centro-direita, sem apegos ideológicos e famoso pelo fisiologismo, cresceu em 2015 sob a liderança de Eduardo Cunha (MDB-RJ), que deixou a Presidência da Câmara e acabou preso. O próprio Lira é réu da Lava Jato e era considerado membro da "tropa de Choque" de Cunha no Congresso.

Bolsonaro se aliou ao Centrão após embates com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) e após o avanço de investigações contra seu núcleo familiar, principalmente pelo caso de "rachadinhas" no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) quando era deputado estadual no Rio.

Com ambição de suceder Rodrigo Maia no comando da Casa frustrada, Lira deixou o grupo de Maia e atualmente é o líder do Centrão, encabeçando uma bancada suprapartidária que reúne aproximadamente 200 dos 513 deputados. Trata-se de um núcleo acostumado a explorar oportunidades num Executivo de base congressual frágil.

Favorito na disputa, Lira comandou sábado um jantar em Brasília com líderes de várias siglas, que contou até com canto de louvor de deputados evangélicos e presença do ex-governador José Roberto Arruda - que já foi preso escondendo dinheiro nas meias. Ontem, o candidato governista participou de churrasco do PL no Lago Sul, região nobre de Brasília.

Já Rossi passou o fim de semana em ligações e encontros com deputados. No sábado, ele participou de jantar com a bancada feminina da Câmara, organizado por Perpétua Almeida (PCdoB-AC). Na noite de ontem, ele publicou mensagem no Twitter dizendo que "vai ganhar a eleição" e retomar debate sobre o auxílio emergencial.

Reagindo a movimentações do Planalto, Rodrigo Maia tem mobilizado o retorno de deputados licenciados que prometem votar em Rossi na disputa. Na tarde ontem, ele participou de reunião do DEM que tentava ampliar adesão da sigla a Rossi.

Apesar das restrições de circulação por conta da Covid-19, todos os deputados foram convocados para o plenário da Câmara em Brasília. A justificativa para a não realização de votação remota é que o regimento da Casa exige votação secreta. Maia chegou a tentar implantar um sistema de votação remota, mas foi voto vencido na Mesa Diretora do Legislativo.

O PDT chegou a recorrer ao STF para evitar a sessão presencial, mas o pedido de votação remota foi rejeitado pela ministra Rosa Weber. Ao todo, 21 cabines foram distribuídas pela Câmara, com divisão dos deputados por grupos para a votação. (com Agência Estado)

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