O jornalista e escritor Lira Neto não está mais à frente dos trabalhos para produção de livro que seria escrito sobre o enfrentamento da pandemia no Ceará. Ele havia sido contratado pelo Governo do Estado para realização do material, mas anunciou desistência na tarde desta quarta-feira, 10.
"(...) diante de interpretações e ilações as mais diversas, publicadas na imprensa e repercutidas por canais de divulgação online — algumas delas levianas, que buscaram atingir-me o nome e a reputação —, decidi solicitar ao Governo do Estado do Ceará e à empresa Soter Design o meu afastamento pessoal e profissional do projeto", escreveu o cearense numa rede social.
Valores do contrato foram divulgados por parlamentares de oposição à gestão estadual sob argumento de que o gasto seria desnecessário, dado o contexto de pandemia.
Acesse a cobertura completa do Coronavírus >
A repercussão levou Neto a usar as redes sociais, inicialmente, para explicar que os serviços para os quais foi contratado - pesquisa documental, realização de entrevistas e elaboração do texto - seriam feitos por uma equipe de repórteres contratada por ele para pesquisa, apuração e redação e eram equivalentes a 30% do montante divulgado, de R$ 547 mil. O comunicado sobre a desistência foi publicado horas depois.
O escritor, especificamente, receberia 24,7%, ou R$ 135,6 mil, segundo nota do Governo do Ceará publicada em 9 de fevereiro. Dois mil exemplares seriam distribuídos em espaços públicos gratuitamente.
"Não tenho qualquer ingerência, poder de decisão ou responsabilidade sobre o destino dos demais 70% dos recursos", ele escreveu em comunicado anterior ao do afastamento. "Estes foram assumidos e serão administrados por um escritório especializado, a Soter Design, que é a empresa contratada pelo governo e responderá por todas as etapas posteriores, o que inclui mais de uma dezena de itens..."
O jornalista lamentou que o episódio tenha ganhado "proporção indevida" e sido "instrumentalizado politicamente" após veiculação pela imprensa, citando especificamente o jornal O Estado de S. Paulo. Lira Neto é biógrafo de Getúlio Vargas, Padre Cícero e Maysa, além de ex-ombudsman do O POVO.
Ainda segundo o escritor frisou, a ideia de escrever e publicar o livro-reportagem partiu unicamente do entendimento de que é importante "documentar em perspectiva histórica, o drama enfrentado nos últimos meses pelo conjunto da sociedade, de forma dolorosamente trágica, a partir dos relatos e experiências vividas por gestores, profissionais de saúde, pacientes e familiares das milhares de vítimas afetadas pela epidemia."
O POVO entrou em contato com o Governo do Ceará para obter detalhes do contrato assinado com o jornalista e com a empresa citada por ele, a Soter Design.
Em nota encaminhada à reportagem do O POVO, o Governo confirmou que o escritor abandonou os trabalhos em torno do livro por decisão pessoal.
O comunicado expressa que o contrato foi feito com "absoluta transparência e licitude" e que Lira Neto foi "injustamente atacado com informações inverídicas nas redes sociais e em alguns veículos de imprensa." O Governo afirma ainda que em razão disso, o contrato "está sendo rescindido, e o mesmo não terá continuidade".
A reportagem também tentou contato com Lira Neto por meio de um número de telefone celular. As chamadas não foram atendidas. O aparelho não possuía conta no WhatsApp.